sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Inesquecível?


O primeiro passo para a produção de umfilme é o roteiro, existem raras exceções como o documentarista Eduardo Coutinho que não estabelece um caminho definido em suas filmagens, porém, todo bom filme tem que ter uma boa história.
A produção brasileira, “Inesquecível” parece ter deixado de lado a preocupação com um bom roteiro. A trama é baseada no conto “O Espectro” do uruguaio Horácio Quiroga e conta a história de um triângulo amoroso entre dois amigos de infância ( Murilo Benício e Caco Ciocler) e uma mulher (Guilhermina Guinle).
A temática da relação amorosa envolvendo três pessoas já foi gravada e regravada inúmeras vezes e o diretor do filme, Paulo Sérgio de Almeida não fez muita questão de fugir dos clichês. A trama tem tudo o que é uma boa novela tem, mulher bonita, amigo rico, amigo pobre e acidente de carro.
Houve um esforço certamente em deixar o filme bonito, a fotografia é muito bem feita, a trilha musical é agradável, mas este elementos não seguram ninguém na cadeira. O filme poderia certamente chamar-se Esquecível.
A trama que no inicio é realista e tensa acaba virando uma comédia, as falas dos personagens não condizem com o que está acontecendo e existem enormes vazios sem muito sentido entre uma fala e outra. Na tentativa de tornar o filme melhor, o diretor abusa da beleza da atriz Guilhermina.
O final consegue ser surpreendentemente ruim, os últimos 30 minutos entram num looping infinito para tentar dar razão a trama.
Depois de assistir o filme descobri que o diretor fez quatro filmes da Xuxa nos últimos sete anos, o que sem duvida não enriquece seu currículo e explica parte de sua pobreza de linguagem, no entanto me surpreendeu que o roteirista de “Inesquecível”, Marcos Bernstein, tenha assinado em parceria com Walter Sales filmes marcantes como “Terra Estrangeira” e “Central do Brasil”.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Arte Contemporânea e Brasilidade


Olhar para um quadro é entrar em outro mundo, viajar junto com os traços para onde a imaginação quiser levar. Algumas obras nos conquistam mais, outras menos, mas sempre vale a pena aguçar o olhar com representações artísticas de todas as épocas.
A simplicidade de traços algumas vezes pode ser reveladora, como é o caso das telas da artística plástica contemporânea Beatriz Milhazes, que conquista cada vez mais admiradores ao redor do mundo.
Beatriz é carioca, formada em jornalismo em 1982, nunca trabalhou na área e um ano depois de terminar a graduação abriu seu ateliê no bairro do Jardim Botânico, no Rio, onde dava aulas particulares de pintura. Sua trajetória de conquistas começou em 1985 quando fez sua primeira mostra individual em uma pequena galeria do Rio de Janeiro. Já nos anos 90, mas especificamente em 1993 ela fez sua primeira exposição no exterior, na cidade de Caracas, na Venezuela
De lá para cá ela venceu mostras internacionais e passou a integrar os maiores centros da arte contemporânea mundial: Stephen Friedman, em Londres, Max Hetzler, em Berlim e James Cohan, em Nova Iorque.
Hoje Milhazes faz parte de um grupo muito restrito de artistas brasileiros que vivem de sua arte, ela é reconhecida como uma das artistas contemporâneas mais bem- sucedidas do país.
Sua arte composta por desenhos circulares, arabescos, bordados, transparências e colagens com referências artísticas como o Barroco e a arte óptica conquistam público, critica e mercado.
Neste mês de dezembro quatro telas e três colagens de Milhazes estarão em exposição na Galeria Fortes Vilaça em São Paulo, chegando a custar 250 mil dólares cada quadro.
Tanto sucesso é reflexo de uma arte muito pessoal com uma linguagem já amadurecida, que conquista olhares com linhas, círculos e cores bem combinadas.
Em entrevista a revista Bravo! a galerista paulista Márcia Fortes explicou que uma das características que mais destacam Beatriz na cena internacional é a brasilidade de suas telas, presente nas formas multicoloridas e nas figuras que representam flores, frutas e ondas do mar.
Vale a pena dar uma olhada. Em sites de busca na Internet é possível encontrar vários de seus trabalhos.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Ribeirão-pretano está insatisfeito com o transporte coletivo

Usuários do sistema de ônibus urbano de Ribeirão Preto apontam problemas, sugerem mudanças e avaliam o serviço com nota média de 5,4.
Os dados foram colhidos em entrevistas com 134 usuários de ônibus, realizadas entre os dias 18 e 30 de outubro nos pontos da praça Carlos Gomes e praça das Bandeiras.
95% dos entrevistados apresentaram a demora como principal problema, tanto de segunda a sexta quanto nos finais de semana.
A diarista Alda Quadros lida com a espera ao trocar de ônibus, na chamada integração, pois as linhas que utiliza para trabalhar: São Sebastião e City Ribeirão, não tem horários coincidentes no ponto central. “São ônibus utilizados diariamente por empregadas domésticas e o tempo de espera varia de 40 minutos a uma hora”, explica.
Cerca de 80% dos usuários criticaram a falta de cobradores. Para a promotora de merchandising Nayara Graziel do Nascimento, a dupla função do motorista envolve as esperas e a segurança dos passageiros, já que muitas vezes eles recebem o dinheiro e dirigem ao mesmo tempo.
A operadora de telemarketing, Edvaine Maria Campos, elogiou o serviço e acredita que a implantação dos cartões é positiva, porque facilita a integração. Já o aposentado Ubirajara Pimenta concorda que a falta de cobradores é um problema, porém, elogia o trabalho dos motoristas, que segundo ele, sempre são atenciosos.
O terceiro problema mais criticado foi o preço, que para 50% dos entrevistados é incompatível com o tamanho da cidade e com a qualidade do serviço.
De acordo com Valéria Gonçalves Freitas, que trabalha com idosos, falta acessibiliade no transporte. “Os veículos não são projetados para que todos possam utilizá-los. Pessoas com debilidade física têm dificuldade de subir os degraus, que são muito altos”.
Os usuários também criticaram os pontos, relacionando problemas como falta de segurança, concentração de ônibus em poucos pontos no centro da cidade e ausência de abrigos. Dez usuários sugeriram o retorno dos terminais que foram desativados.

Responsáveis pelo transporte debatem questionamentos dos cidadãos

O presidente do sindicato das empresas de transporte coletivo de Ribeirão Preto e região, Carlos Roberto Cherulli, explica que 20 minutos é o tempo médio de espera em cidades do porte de Ribeirão Preto. Os horários, itinerários e o número de ônibus por linha, são organizados de acordo com a demanda, relatórios colhidos pela bilhetagem eletrônica e acompanhamento da equipe de fiscalização.
Segundo Cherulli, a demanda pelo transporte nos finais de semana chega a ser 70% menor do que de segunda a sexta. “As pessoas também devem se adequar ao transporte coletivo”.
Para o gerente de transporte coletivo da Transerp, Reynaldo Lapate, o desafio das empresas é oferecer um serviço adequado e acessível à população.
O valor da passagem é calculado de acordo com uma planilha de preços nacional e com os gastos em cada cidade, segundo Lapate, o preço de Ribeirão Preto é semelhante a cidades do mesmo tamanho.
Questionados sobre as esperas das empregadas domésticas no ponto central, Cherulli e Lapate argumentaram que a integração foi estruturada para que os passageiros paguem menos. Lapate esclarece que nos bairros com menor demanda, como o City Ribeirão, o número de ônibus é menor, por isto, ele recomenda que os usuários se informem sobre os horários.
Sobre a substituição dos cobradores pela bilheteria eletrônica, Cherulli diz que tal política faz parte de uma tendência de mecanização da mão de obra. “Esse processo já é utilizado em plantações de cana- de- açúcar, nos bancos e está ligada a redução do custo”, explicou.
Tanto Lapate quanto Cherulli acreditam que os problemas relacionados a falta de cobradores possa ser resolvido com a utilização dos cartões. “Os usuários devem denunciar os motoristas que dão o troco com o ônibus em movimento, para isto é preciso anotar o horário e o número do veículo em que aconteceu este tipo de infração”, afirmou Lapate.
Quanto a qualidade dos veículos, Cherulli afirma que as empresas trabalham com a renovação da frota para evitar gastos com manutenção, assim, a maioria dos ônibus da cidade operam por uma média de três anos.
Segundo Lapate, 2014 é o prazo para que toda a frota de transporte coletivo do Brasil esteja dentro dos parâmetros de acessibilidade, o que foi decretado em lei. “Estamos buscando esta readequação da frota”, afirma.
Ribeirão Preto conta com 310 ônibus, sendo que cinco deles são equipados com elevador. Estão também em funcionamento 14 vans para cadeirantes no sistema Leva e Traz.
Em relação aos pontos, a Transerp é responsável pela manutenção e instalação dos 2.700 pontos distribuídos pela cidade, sendo que 550 deles têm abrigo e são estimados 400 novos abrigos em 2008. Lapate explica que a instalação dos pontos é difícil, especialmente na área central, pois depende da autorização do dono do imóvel frente ao ponto e da proibição do estacionamento.
Lapate e Cherulli são favoráveis a construção de terminais, porém, esta questão envolve também a prefeitura.Os terminais foram desativados em um projeto de reurbanização da cidade, realizado em 2000.

Serviço:
Os usuários podem registrar reclamações ou sugestões para o transporte público através do telefone 118, de segunda à sexta, das 7h às 21h. Sábados das 7h às 19h.
Para utilizar as vans especias para deficientes físicos, o usuário ou algum membro da família deve realizar o cadastro na Secretaria Municipal de Assistência Social. Rua Visconte do Rio Branco, 653. O telefone para informações é (16) 3610 5138.

Um pouco da nação

Nos anos 90 no interior do Recife nasceu uma nova batida, uma mistura de modernidade com raízes nordestinas: o manguebeat. O ritmo foi imortalizado pela banda Nação Zumbi e Chico Science, que deixaram Pernambuco para mostrar para o Brasil e para o mundo um som verdadeiramente brasileiro.
O manguebeat é um movimento que reúne músicos como Mundo Livre S/A, Mombojó e Mestre Ambrósio, mesclando maracatu, ciranda, embolada com rock alternativo e música eletrônica.
O primeiro Cd do Nação Zumbi foi Da Lama ao Caos, em 1993, que teve uma de suas faixas, a música Praieira na trilha sonora da novela Tropicaliente.
Chico Science acompanhou a banda em mais um Cd: Afrociberdelia , antes do acidente de carro que tirou sua vida em 1997.
Em sua homenagem foi gravado o Cd duplo CSNZ, com músicas ao vivo e alguns remixes. Em 2000 a banda toma fôlego e grava Rádio S.A.M.B.A, com o integrante Jorge Du Peixe no vocal.
A partir daí Nação Zumbi lança músicas poderosas como “Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada” e é considerada uma das maiores bandas independentes brasileiras.
2005 é o ano de lançamento do Cd Futura, em que os músicos abusam das experimentações com música eletrônica.
No final de outubro a banda lançou seu último trabalho: Fome de Tudo, reconhecido como o mais melódico de sua história, contando até mesmo com a participação especial da cantora Céu, porém, as letras continuam trazendo a crítica social e a poesia do maracatu.
Nesta semana foi celebrado o dia nacional da consciência negra, manifestações de nossa raiz cultural invadiram todo o país, uma data de denúncia, protesto e resistência. Bandas como Nação Zumbi demonstram a riqueza da cultura negra, muitas vezes esquecida.

domingo, 4 de novembro de 2007

Jornalismo cultural e decadência da mídia no Brasil


Dentre as variadas vertentes do jornalismo, uma chama minha atenção em especial, a do jornalismo cultural. Pouco valorizada no meio acadêmico, por muitas vezes ser confundida como algo restrito a releases, fotos de famosos e histórias em quadrinhos, esta é uma área fascinante por ter como função o debate e a divulgação de expressões culturais de todo tipo.
Um bom jornalista requer uma formação abrangente, em especial o que deseja seguir o jornalismo cultural, é necessário o interesse por todo tipo de manifestação artística e a reflexão critica sobre os movimentos culturais.
Porém, o que se percebe dentro de muitas universidades é o desinteresse por esta formação mais abrangente. Pelas duas universidades que passei – Unimep( Piracicaba) e Unaerp ( Ribeirão Preto) falta leitura e debate dentro da sala de aula, as aulas de temas gerais como sociologia são obrigatórias durante o primeiro ano, depois a preocupação passa a ser exclusivamente o mercado de trabalho.
Mas que mercado de trabalho é este, que não consegue agregar boa parte dos profissionais?
Existe uma discussão sobre o fim do jornalismo impresso, sobre o fim do modelo jornalístico que conhecemos, porém, parece que os acadêmicos não acreditam nesta discussão e continuam algemados às regras que colocam o jornalista distante do leitor.
Os grandes jornais do país são escritos para um público já estipulado: a classe média e alta. Em um país rico em diversidade cultural como o nosso, abrir os cadernos de cultura e até mesmo algumas revistas especializadas, nos leva a crer que estamos em outro lugar, em um país europeu talvez, porque é raro que se vejam matérias sobre música nordestina ou pequenos escritores.
Uma revista que consegue ultrapassar fronteiras é a mensal Raiz, que busca reunir manifestações culturais de todo o país e divulga eventos como a Semana de Arte Moderna da Periferia que acontece em São Paulo durante o mês de novembro.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Arquiteto das palavras e dos sons


O músico e compositor, Djavan esteve em Ribeirão Preto no Teatro Pedro II , durante os dias 16 e 17 de outubro, apresentando o show de sua nova turnê : Matizes.
Este trabalho, lançado em setembro, reflete a experiência de seus 30 anos de carreira e não haveria nome melhor para o trabalho deste artista reconhecido nacionalmente e internacionalmente por suas misturas sonoras e pela sensibilidade de suas letras que muitas vezes relacionam as cores aos mais diversos sentimentos.
Neste novo show Djavan apresentou músicas que fizeram sua história como “Eu te Devoro” e “Oceano”, com novas experiências, como a música “Imposto”, em que o compositor manifesta sua indignação sobre as cobranças no Brasil.
Durante a apresentação Djavan transmitiu alegria até mesmo nas músicas mais suaves, o sorriso não saiu de seu rosto, ele buscou o tempo todo a participação do público e bastaram as primeiras notas de “Sina” para que toda a platéia se levantasse.
A cenografia e a iluminação do show trabalharam com a simplicidade exageradamente, o que desvalorizou os instrumentistas que ficaram uma boa parte do show a meia luz. No palco ao fundo havia apenas um telão onde foram reproduzidas imagens pouco criativas que acompanhavam as músicas apenas no compasso e não no sentido das letras.
Djavan concedeu uma entrevista por telefone ao Carderno Trainee dias antes de sua passagem por Ribeirão:

Porque Matizes?
Este CD simboliza a diversificação de textos, sons, gêneros.

Como foi o processo de produção deste CD?
Foi mais vagar, gravei e produzi em casa. O trabalho diário de concepção demorou entre 5 e 6 meses.

Porque este CD foi mais demorado?
Coincidiu com o nascimento do meu filho, Inácio. Foi um processo naturalmente espaçado, gostei muito. Eu fiz os arranjos, as letras e a produção deste CD.
A gente se divertiu muito. Todo o processo foi feito com o mesmo interesse e seriedade que a criança tem enquanto brinca.
Eu sinto que consegui desenvolver esta forma lúdica de trabalhar com este CD. Espero que todos possam conseguir isto em seus trabalhos.

Há uma música em especial ?

“Por uma vida em paz”, é uma reflexão sobre a pouca sensibilidade que muitas vezes temos com a vida, o meio ambiente e uns com os outros.

Você gosta de fazer show?
Adoro tocar onde tem um público receptivo, o interior de São Paulo é rico em musicalidade, é sempre um prazer tocar ai.

A música imposto chama atenção neste seu último trabalho. Você gosta de produzir músicas –manifesto com esta?
Esta música é uma manifestação de um cidadão, para escrevê-la bastava ser brasileiro.
Estou sempre torcendo para o Brasil, para que encontremos um rumo.

Você acompanha a política do país hoje? Qual sua opinião sobre o movimento Cansei e as respostas que surgiram deste movimento?
As grandes transformações são feitas pelo povo, acredito que manifestos são válidos sempre. Nos escolhemos e votamos, participar portanto, não é só um direito, é responsabilidade.
O povo brasileiro é pacifico em demasia, falta cobrança e participação. Porém, não sou a favor de violência de forma alguma, mas sim do diálogo.

O que você acha da política cultural realizada por Gilberto Gil?
Gil deu luminosidade a um ministério que sempre este inócuo. Acredito que falte verba e ele nem sempre consiga realizar o que acha necessário, porém, apoio a presença dele lá e fico aguardando as respostas deste mandato.

Você atualmente tem uma gravadora própria, como foi este processo?
Eu já tinha a editora e a produtora, quis administrar a minha carreira ao meu modo. Os resultados tem sido ótimos, acho que foi uma boa decisão para o meu trabalho.

A gravadora chama-se Luanda, por quê?
Estive em Angola na década de 80, foi uma viagem muito reveladora, intimamente transformadora. Identifiquei na África a raiz da minha música, foi uma experiência muito importante.

Em todos estes anos de carreira você acompanhou mudanças no mercado fonográfico. Como você vê estas mudanças?
O mercado desandou em função da pirataria, tanto a física, quanto a virtual. Houve uma desestruturação do mercado, ele se tornou ínfimo frente a modernidade.
A música é irreversível, faz parte da vida, não vai acabar, mas, novas formas de levar música ao público tem de ser pensadas. O respeito aos direitos autorais é um assunto complicado, produzir um CD ou DVD é caro, é preciso que aja um retorno.
Acredito que levará muito tempo para acharmos as respostas.

O que você está ouvindo de música brasileira atualmente? O que acha dos lançamentos de vozes feminas como Céu, Mariana Aydar e Vanessa da Mata?
Eu escuto muita música, ouço bastante rádio no carro. Entre as novas vozes, tem uma em especial, chama-se Bárbara Mendes, eu participei do CD dela que será lançado em janeiro.
Gosto de ouvir os clássicos da música brasileira, neste momento ando ouvindo Jacob do Bandolim.

O que você está lendo?
Um livro que queria ler há muito tempo...Angustia, do Graciliano Ramos.

Como é ser pai agora?
Estou encantado, é muito diferente ser pai agora porque em minhas outras paternidades estava sempre trabalhando e não tinha muito tempo para curtir meus filhos, agora tenho mais tempo para vivenciar.

O que é Djavanear para o Djavan?

(risos) Este termo nasceu de uma homenagem que fiz ao Caetano, ele retribuiu e criou o Djavanear. Espero que sejam “verbos” relacionados às coisas boas da vida.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Isto é um debate?

Na última semana houve um suposto debate sobre violência. A discussão partiu de um texto escrito pelo apresentador Luciano Huck publicado no jornal Folha de São Paulo e da resposta a tal texto pelo rapper Ferréz, publicado no mesmo jornal.
Luciano teve seu relógio rolex roubado em São Paulo e escreveu um relato do assalto e a mostra de sua indignação. Ferréz escreveu sobre a realidade do suposto ladrão.
O artigo de Huck não passou de um desabafo, começa com “Luciano Huck foi assassinado” e termina com “ Isso não está certo” .O texto é só isso, quisera eu que toda vez que ficasse triste ou indignada conseguisse a página 3 de um dos maiores jornais do país só para reclamar da vida.
Ferréz, que escreve sobre a periferia e conhece muito bem essa realidade relatou em seu artigo uma ficção, em que o bandido não é só bandido, mas também tem uma família e uma história não das mais felizes por trás de suas atitudes.
Ambos não colaboraram para uma real discussão, abusaram de clichês em seus textos e defenderam um o direito de ser rico e o outro o direito de querer ser rico.
Os leitores escreveram cartas para o jornal, publicaram textos em blogs, porém, o que percebi de todos os lados foi muito “achismo”. As falas correm em torno da questão: rico pode reclamar da vida?
Tal questionamento me faz lembrar o tal movimento das elites, o “Cansei” e a última reportagem de capa da revista Veja ( a mais vendida do país) em que se conclui que os usuários de drogas são os responsáveis pelo tráfico.
Viva o simplismo, todos correm para as bancas para ver a Mônica Veloso, todos correm para saber quanto valia o tal relógio do Huck, mas faltam discussões em torno dos reais problemas e faltam principalmente ações que busquem soluções.

Alimentação equilibrada é preocupação de famílias ribeirão-pretanas

Falta variedade de nutrientes no prato do ribeirão- pretano. Através de entrevistas realizadas com moradores dos bairros São José, Cândido Portinari, Jardim Juliana, Jardim Paulista, Marchesi e City Ribeirão constatou-se que independente da classe social a alimentação básica da população consiste em arroz, feijão e carne.
A população apresentou dúvidas em como diversificar e equilibrar os alimentos e na melhor forma de investir a renda familiar em alimentação.
Segundo a nutricionista responsável pelo programa Alimente-se Bem do Sesi, Fabíola Makhoul para uma boa alimentação é necessário unir moderação com diversidade nutricional. “É importante que as refeições agrupem alimentos que façam parte dos três grandes grupos: proteínas (carnes, grãos), vitaminas/ minerais/ fibras (frutas, verduras e legumes) e carboidratos (arroz, massas)”.
Uma das dificuldades apresentadas é em como conciliar a alimentação de qualidade com a falta de tempo. “Tenho muitas vezes que comer salgado ou lanche por não ter tempo de comer em casa”, diz a vendedora Rosangela Ferreira. Fabíola recomenda nestes casos que a família escolha um dia da semana com menos atividades para preparar porções de alimento, congelá-las e aquecê-las quando necessário.
A nutricionista Thereza Cristina Pereira coloca que os consumidores devem evitar os alimentos industrializados, pois na maioria das vezes eles são ricos em gordura trans que tem efeitos nocivos à saúde, possuem sódio que provoca o aumento da pressão arterial e são compostos de poucas fibras que são importantes na digestão.
Para a dona de casa Tatiane Ferreira Silva uma dificuldade é convencer sua filha de sete anos de comer bem, a mãe de três filhos, Andréia Terra também tem este problema. “O mais difícil para mim é preparar comida para todo mundo em casa, os gostos são muito diferentes”
Segundo Fabíola a criatividade tem grande influência “Para as crianças é essencial a aparência da comida, é preciso, portanto, deixá-la atraente. Sair do tradicional sem perder os valores nutricionais”. Nestes casos Thereza recomenda que as mães dêem o exemplo, ofereçam à criança as verduras e legumes, mas também adquiram o hábito de consumi-los.
Outra dica é na preparação de carnes em que devem ser retiradas as capas de gordura na carne vermelha e peles nas carnes brancas e preferencialmente ser preparadas grelhadas ou cozidas, pois a fritura além de ser mais calórica, colabora para doenças cardiovasculares.
Os sucos naturais são aliados para uma boa alimentação. Muitas famílias disseram consumir sucos em pó e refrigerantes com freqüência. “Suco natural é muito difícil de fazer, acabo optando pelos refrigerantes por praticidade”, declarou o entrevistado José Augusto Figueiredo, porém, Thereza explica que estes produtos não contém quantidade significativa de nutrientes e os refrigerantes dificultam a digestão devido aos gases, logo, devem ser evitados.
Dois itens foram citados com freqüência pelos entrevistados, queijo e ovos. As nutricionistas indicam o consumo dos queijos brancos, pois os amarelos possuem alto teor de gordura que tem mais calorias. “O ovo pode ser ingerido uma vez por semana. Nos esquecemos que este alimento está presente nos bolos, tortas e pães, é preciso ter moderação em sua ingestão”, afirma Thereza.
O consumo de café é alto entre as famílias, principalmente na primeira refeição do dia. A manicure, Silvana Silva contou que toma café ao menos três vezes por dia “Entre as refeições sempre acabo tomando, puro ou com leite”.
A nutricionista Fabíola explica que o máximo que deve ser consumido de café por dia são duas xícaras pequenos, devido a alta quantidade de cafeína. “ A cafeína impede a absorção de vários nutrientes, principalmente de cálcio. O ideal é que não se tome juntamente a alimentos ricos em cálcio como leites e queijos”.
Outro ponto colocado pelos entrevistados é como conciliar a renda familiar com uma boa alimentação. Fabíola indica que as pessoas comprem alimentos da época, pois são mais baratos e nutritivos, que se evite o desperdício, assim deve-se utilizar talos, folhas e ramos. “Fazer comida em casa e comprar o mínimo de produtos industrializados possível é aconselhável, porque são mais saudáveis e ricos em nutrientes”.
De acordo com as nutricionistas cuidados simples podem fazer com que as refeições se tornem mais nutritivas. É melhor optar pelas verduras e legumes crus, cozidos no vapor para que mantenham seu valores nutricionais, sendo que o recomendado são de três a quatro porções diárias de frutas, verduras e legumes variados.
Fabíola esclarece que para uma alimentação equilibrada respeitar o metabolismo é essencial, assim é recomendável comer de três em três horas porque faz com que o corpo trabalhe o dia todo e a velha receita de comer muito no café da manhã e pouco a noite funciona.

Serviço:
O Programa Alimente-se Bem do Sesi fornece aulas práticas que ensinam receitas de baixo custo com aproveitamento integral dos alimentos. Os cursos tem carga horária de 10 horas e acontecem todos os meses. As inscrições são gratuitas. O Sesi em Ribeirão fica no Jardim Castelo Branco, os interessados devem ligar para o número (16) 3627 3366.
O Núcleo Multiprofissional da Unaerp fornece consultas com nutricionistas gratuitamente. Para obter informações o telefone é (16) 3603 6933.

Métodos inovadores de educação se difundem pelo país

Quando se pensa em uma sala de aula, que imagem vem a cabeça? Cadeiras enfileiradas, lousa e giz. Este retrato faz com que pareça que quase nada mudou desde a época em que os jesuítas eram os educadores do Brasil.
Entretanto, muitas idéias foram inseridas no chamado ensino tradicional principalmente nos últimos 20 anos. Para a pedagoga Aline Sommerhalder, há uma mistura de influências atualmente. “Hoje a aula é expositiva- dialogada, o aluno não é mais visto como um papel em branco”.
Desde 1996 através da aplicação da lei de diretrizes e bases as escolas tem autonomia na construção de seus projetos pedagógicos, o que segundo Aline foi ótimo para que cada unidade escolar se contextualize de acordo com as necessidades de suas comunidades.
A partir da década de 90 escolas que seguem métodos alternativos começaram a crescer no país. Em Ribeirão Preto existem escolas que seguem os métodos Piaget, Waldorf e Sathia Say.
A reportagem conheceu a escola João Guimarães Rosa que adotou o método Waldorf em 1986. Esta pedagogia nasceu na Alemanha em 1919 fundada pelo filósofo Rudolf Steiner e conta hoje com mais de 1.000 escolas em todos os continentes.
A metodologia tem como ponto de partida a compreensão de que a biografia humana se sustenta em períodos de sete anos.
O objetivo geral do método segundo a professora que atua há 16 anos, Maristel Almeida Gomes, é atingir os estudantes em três níveis: pensar, sentir e agir. Assim a escola se preocupa com uma formação não só baseada na dominação de conceitos intelectuais, mas também no domínio das expressões corporais e nas relações com o outro e com si mesmo.
Nos primeiros sete anos a ênfase da educação é o agir. “A criança está começando a dominar o espaço. Os materiais neste fase são as mais plásticos e lúdicos possíveis para que a criança seja estimulada a usar sua imaginação”, explica Maristel.
Um dos diferenciais é a importância dada a relação aluno e professor. Dos 7 aos 14 anos os alunos tem um mesmo professor. “A razão disto é a ênfase dada neste período ao sentir, é preciso criar uma relação de confiança, estabelecendo vínculos”, diz.
Maristel relata que neste segundo período todo conteúdo só se torna significativo para a criança se tiver um envolvimento emocional, se não a criança simplesmente decora e descarta.
A partir dos 15 anos o aluno passa a ser motivado a realizar análises criticas, com professores de área específicos, porém, nunca se esquecendo dos três níveis, assim os adolescentes fazem viagens, constroem peças teatrais e trabalham com a percepção sonora.
Apesar de o objetivo da escola não ser conquistar aprovações no vestibular, a primeira turma que se formou no ano passado teve alunos aprovados em vestibulares concorridos como o da USP.
A pedagoga Aline afirma que as escolas de formação de professores pelo país tem em suas grades teorias inovadoras, incentivando os futuros professores a sempre buscarem novos caminhos. “Porém, o estudo e a pratica destas tendências pedagógicas varia muito dentro do país, devido as dificuldade de formação de professores em cursos além da graduação fora da região Sudeste”.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Dialeto Baiano


Uma batucada, uma letra de música conhecida de outros carnavais literalmente, um morro cheio de casas coloridas, muita gente nas ruas, imagens e sons que se unem para contar histórias deste tal povo brasileiro.
Entre os batuques ouve-se claramente um “Ó Pai Ó”, expressão utilizada em Salvador para chamar atenção para alguma coisa, algo como “olhe lá, olhe!” e não haveria nome melhor para este filme que é mais um componente na busca infindável pela identidade nacional.
As imagens passam pela tela com um colorido especial e mesmo que quem assista nunca tenha colocado os pés na Bahia a identificação é instantânea.
O filme “Ó Pai Ó” foi baseado na peça de teatro de Marcio Meirelles, encenada nos anos 90 pelo Bando de Teatro de Olodum. O grupo teatral foi o berço do ator principal do filme, o já reconhecido Lázaro Ramos.
No elenco existem outros elementos do Bando de Teatro, o que dá um tom caricatural para algumas cenas, tirando boas risadas do espectador.
Pela tela passam muitos tipos, como uma evangélica fervorosa, uma leitora de búzios, uma especialista em abortos, um taxista, entre outros. As histórias que aparentemente não têm nada em comum a não ser o fato de todos os principais personagens dividirem o mesmo espaço, um cortiço no Pelourinho. Porém, as vidas dos personagens se unem pela luta cotidiana para sobreviver, cada um de seu jeito, mas todos com um “quê” de malandragem e libertinagem.
O único erro a meu ver é o excesso das músicas, muitas vezes se têm a impressão de assistir a um clipe de axé e a história nem sempre se encaixa nesses momentos.
Não fica claro qual é o assunto principal do roteiro, talvez seja apenas a necessidade de romantizar um pouco o cotidiano difícil de quem lida todos os dias com a pobreza extrema.
É um filme que pode ser visto com alegria ou tristeza, representa um pouco do que nosso carnaval é: aquela alegria eufórica para que a quarta-feira de cinzas demore a chegar, para que a vida seja esquecida completamente naqueles dias em que tudo é permitido.
A realidade é mesclada com a fantasia de maneira especial nas últimas cenas, o que faz com que quem assista passe um bom tempo depois dos créditos finais pensando naquela experiência.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Biodegradavéis são alternativas para a preservação ambiental

Novos produtos encontrados no mercado não geram resíduos tóxicos no ambiente
Com o avanço das discussões em torno das questões ambientais tem se tornado cada vez mais comum os consumidores encontrarem produtos indicando que são biodegradavéis. Tais produtos são novidade no mercado, portanto, ainda existem muitos questionamentos, especialmente em relação a como conciliar a responsabilidade ambiental com o orçamento familiar, já que estes produtos são na maioria das vezes mais caros.
Biodegradáveis se degradam no meio ambiente mais rapidamente e não geram resíduos tóxicos por serem constituidos de elementos de mais fácil degradação como derivados da cana- de- açucar.
Segundo a professora do departamento de bioquímica e microbiologia da Unesp Rio Claro, Sandra Mara Martins uma garrafa pet ou um copinho de água demora entre 100 e 200 anos para se decompor enquanto os mesmos produtos biodegradavéis levam de 6 meses a 1 ano.
A utilização destes produtos, segundo a professora de química orgânica, Márcia Marisa de Freitas Afonso, é benéfica especialmente para a liberação de espaço nos aterros sanitários.
Há uma preocupação especial com o desenvolvimento de tecnologias para fabricação de plásticos biodegradáveis devido a quantidade que consumimos destes produtos. De acordo com Sandra o consumo de plásticos per capita no mundo é de 19kg e toda esta produção vem de fontes não renovavéis como o petróleo.
“As desvantagens são que os plásticos biodegradáveis tem custo de processamento cerca de quatro vezes maior que o plástico comum e propriedades mecânicas, como resistência e flexibilidade não tão boas quanto as dos plásticos sintéticos”, explica Sandra.
Para a educadora do programa USP Recicla de Ribeirão Preto, Daniela Sudan, é preciso reduzir o consumo e desenvolver produtos que durem mais. “Em uma escala de importância, coloco a reutilização, depois a reciclagem e por último o biodegradável". Segundo Daniela em toda a Europa existem projetos de lei sendo aprovados para que a população utilize produtos de alta durabilidade.
Em junho deste ano foi aprovado um projeto de lei pela Assembléia Legislativa de São Paulo, que obrigava o uso de sacolas biodegradáveis pelos estabelecimentos comerciais, porém, em agosto este projeto foi vetado pelo governo do Estado alegando que a proteção ambiental deve ser tratada em âmbito nacional e não localmente.
Para Márcia as pesquisas e discussões em torno de novas tecnologias devem ser incentivadas. “Percebo que nos últimos 10 anos as pesquisas acadêmicas com esta temática se intensificaram, não só na área da Química, afinal é um assunto vinculado a todas as áreas de trabalho”, finaliza.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Este texto é de 2006, foi para uma aula de produção de textos do curso de rádio e tv, a proposta era fazer uso da metalinguagem

Sádico
Sempre quis escrever. Lia contos compulsivamente, pois me disseram que se eu entrasse em contato com uma grande diversidade de contos aprenderia a escrever. Nunca deu certo.
A minha vida não me favorecia, tudo muito pacato, sem grandes emoções. Eu ia falar sobre o quê? Relatar a minha rotina seria a coisa mais desagradável de se ler... nem meus sonhos são intrigantes...
Estive sozinho a vida toda. A infância passei dentro de meu quarto; a adolescência nas ruas perambulando e agora moro com minha mulher, na mesma casa que vivi todo o tempo, na famosa rua Saint-Honoré.
Nunca pude compartilhar nada com ninguém, então tentava conversar com os papéis, gastei muita tinta, mas nada de útil produzi, somente pensamentos perdidos.
Casei-me cedo, por convenções familiares. Ela não me atrai, nem ao menos gosto de olhar para o seu rosto. Mas sinto um ciúme doentio. Não a deixo fazer muitas coisas, ela fica quase o dia todo em casa lavando minhas roupas, às vezes, ela fica na loja que herdei de meu pai, que é nossa única fonte de renda.
Odeio a loja. As pessoas que ficam entrando e saindo de lá e me tratando como se eu fosse um velho conhecido.
Tudo não passa de um jogo de interesses: eu quero o dinheiro deles e eles querem descontos.
Os livros já não me atraem, creio já ter lido tudo. Não existe nada de novo sendo produzido, as histórias vêm se repetindo de modo enfadonho e monótono. O ser humano não tem mais nada a fazer. Só resta esperar pelo fim. Não conseguiremos fazer mais nada de útil, pois cada dia fica comprovado que o que realizamos até aqui foi em vão.
Anseio uma forma de sair desse vazio, sentir o desejo invadir minhas veias. Estou cansado de mim mesmo. Aquelas mulheres mundanas com quem sempre saí nunca me deram muito mais que entretenimento barato, sempre as encontrava para passar o tempo e nada mais que isso. Minha mulher nunca me deu prazer.
Certa vez, tarde da noite, caminhando pelas ruas após sair de um bar qualquer, vi uma casa iluminada por velas. Havia uma festa. Aproximei-me e perguntaram meu nome. Menti e disse Sade. Eles me deixaram entrar. O ambiente era repleto de belas mulheres e homens seminus. Tudo me parecia provocante.
Não entendia muito bem o porquê de estar ali nem porque eles me deixaram entrar com tamanha facilidade... Aquela festa parecia muito reservada.
As pessoas me olhavam com desejo, e isso, naturalmente, me deixava excitado.
Em meio ao silêncio uma música começou a tocar, formou-se uma roda no meio do grande salão. Todos ganharam máscaras, menos eu, que fiquei só os observando. Começaram a dançar, como um baile de debutante. Às vezes, me encaravam, podia ver seus olhos pelas máscaras.
O medo e a excitação se misturaram e tomaram conta de mim. Quis, por um instante, ir embora, mas não havia nada a perder e aquele era, sem dúvida, o momento mais instigante da minha vida.
Começaram a se beijar, inicialmente na nuca, no rosto e depois uns invadindo os outros só com os lábios, sem as mãos, e dançavam; continuavam acompanhando o ritmo da música; queriam uns aos outros com uma força muito mais ardente do que qualquer romance que tivera lido.
Desejava estar entre eles, mas ao mesmo tempo só os observar era suficientemente prazeroso para mim. Continuaram se lambendo, se beijando, sem tirarem suas vestes, empurrando-as com a língua, deixando-as ardentemente molhadas, algumas de tão lambuzadas transpareciam e mostravam partes dos corpos arrepiados.
Uma cadeira foi colocada no meio do salão. Duas mulheres, eram as únicas sem máscaras, a levaram até lá. Sentei. Senti um calafrio passar pelo meu corpo todo, elas eram magnificamente bonitas, tinham lábios vermelhos e estavam com vestidos quase transparentes.
Quando me sentei no meio, tudo se intensificou. Ouvia gritos que não sabia de onde vinham, algumas pessoas entraram vestidas de preto com chicotes na mão, começaram a bater nos que já estavam na roda os quais, quanto mais apanhavam, mais se excitavam, mais queriam uns aos outros.
Roupas eram arrancadas com os dentes, e não havia distinção entre homem e mulher, todos se excitavam, todos se envolviam uns nas pernas dos outros.Ouvi um grito de prazer, um gozo...
A música terminou. Todos se viraram para mim e iniciaram o que parecia um ritual. Senti um forte cheiro de perfume de rosas. Estava inebriado, fechei os olhos por um instante, até sentir algo gelado em minha orelha, ao abrir os olhos vi uma mulher que passava algo frio pelo meu corpo, ia levantando minha camisa e me invadindo com suas mãos gélidas, não parava de olhar fixamente para os meus olhos.
Não posso descrever o que sentia, o salão se esvaziara muito rapidamente. Ouvia apenas os gemidos e a sua respiração que me tocava todo o tempo. Sentia pavor e o pouco de racionalidade que ainda restava em mim tinha um medo imenso daquilo tudo, de não saber o que aconteceria, mas meu corpo não se importava, respondia às provocações.
Queria beber, me desligar de tudo, me entregar. O seu gemido ficava cada vez mais forte.
Em poucos instantes estava totalmente anestesiado, a única coisa que conseguia sentir era um desejo incontrolável, queria tirar a sua roupa com os dentes, beijar aquela boca e aqueles seios, e farto de tanto desejo, gozar, sentir-me aliviado e cansado de invadir aquele corpo.
Mas ela não permitia que a tocasse e eu estava preso à cadeira.
Ouvi uma voz ao fundo, uma voz grave e alta, mas não conseguia compreender...
Colocaram uma mordaça na minha boca. Fiquei aflito, respiração ofegante... A voz grave foi se aproximando, mas não podia ver de quem era.
-Mantenha-se calmo senhor Sade, mantenha-se calmo. Disse a bela moça que não parava de me acariciar.
Pouco depois, após um momento de silêncio, pude compreender o que a voz masculina dizia:
-“Uma belíssima burguesa da rua Saint-Honoré, de aproximadamente vinte e dois anos, gorduchinha e roliça, carnes as mais viçosas e apetitosas, todas as formas modelares ainda que um pouco cheias, e que acrescentava a tão fartos encantos presença de espírito, vivacidade, e gosto o mais aguçado por todos os prazeres que lhe proibiam as rigorosas leis do himeneu, decidira, havia quase um ano, arranjar dois ajudantes para seu marido que, sendo feio, a ela não somente desagradava muito, como também cumpria mal, se não raramente, os deveres que, talvez, com um pouco mais de desempenho, poderiam acalmar a exigente Dolmène”
Ahhh.... Como eu quis gritar... Não podia... Não conseguia entender tudo aquilo... Eles sabiam que eu não era o tal Sade?!! Sabiam onde eu morava, e quem era minha mulher?! O homem com a respiração, um tanto conturbada, continuou:
-“assim se chamava nossa bela burguesa. Nada mais bem combinado do que os encontros marcados com esses dois amantes: Des-Roues, jovem militar, ficava normalmente das quatro às cinco horas da tarde e das cinco e meia às sete chegava Dolbreuse, jovem negociante com o rosto mais bonito que se pode ver. Era impossível fixar outros momentos; eram os únicos em que a sra. Dolmène estava tranqüila: de manhã, era preciso estar na loja e, à tarde, também tinha de aparecer por lá algumas vezes, ou então o marido voltava, e deviam falar de seus negócios. Por sinal, a sra. Dolmène havia confidenciado a uma de suas amigas que ela gostava muito que os momentos de prazer se sucedessem assim muito próximos um do outro: a chama da imaginação não se apagava, ela assegurava; desse modo, nada mais temo do que passar de um prazer a outro; não era difícil retomar a ação, pois a sra. Dolmène era uma criatura encantadora que calculava ao máximo todas as sensações do amor; pouquíssimas mulheres conheciam-nas como ela própria e, em virtude dos seus talentos, reconhecera que, depois de muito meditar, dois amantes valiam muito mais do que um; com respeito à reputação, era quase a mesma coisa, um encobria o outro; poderiam se equivocar, poderia ser sempre o mesmo a entrar e sair várias vezes durante o dia, e com relação ao prazer, que diferença! A sra. Dolmène, que temia em particular a gravidez, bem segura de que seu marido jamais com ela cometeria a loucura de lhe arruinar a cintura, havia igualmente imaginado que, com dois amantes, havia muito menos risco, quanto ao que temia, do que com um, porque, dizia ela, na condição de excelente anatomista, dois frutos se destruíam mutuamente.”
Eu estava preso àquela maldita cadeira, e cada vez que ele repetia o nome de minha mulher, falava alto e mais próximo de meus ouvidos : Dolmène,Dolmène...Era a minha própria estória! A minha esposa estava nela e os meus conhecidos do mercado! Mas não podia acreditar naquilo tudo... Ele não parava nem um instante de contar:
-“Certo dia a ordem fixada nos encontros veio a se alterar, e nossos dois amantes, que nunca se tinham visto, conheceram-se de maneira engraçada, conforme mostraremos. Des-Roues foi o primeiro, mas chegara muito tarde, e como se o diabo tivesse se intrometido, Dolbreuse, que era o segundo, chegou um pouco mais cedo.”Não, não podia mais suportar aquilo... Precisava sair dali o mais rápido possível.... Não acreditava, não podia acreditar! Percebendo minha agitação, o suor escorrendo pelo corpo, o homem que falava se aproximou , lambeu a barriga, e próximo ao meu rosto disse :
- Eu sou o Marques de Sade! Distanciou-se e continuou :-“O senhor percebe de imediato que, da combinação desses dois pequenos erros, deveria acontecer, infelizmente, um encontro infalível: e assim sucedeu. Porém, mencionaremos como isso se deu e, se possível, ocupemo-nos desse assunto com toda decência e moderação que tal assunto já por si muito licencioso, exige.Por obra de um capricho bastante bizarro - mas tão comum entre os homens - nosso jovem militar, cansado do papel de amante, quis, por uns momentos, representar o da amante; em lugar de ser amorosamente abraçado por sua divindade, quis, por sua vez, abraçá-la: em resumo, o que está embaixo, coloca-o em cima, e, por essa inversão de posição, inclinada sobre o altar onde normalmente se oferecia o sacrifício, era sra. Dolmène que, nua como a Vênus calipígia, e encontrando-se estendida sobre seu amante, apresentava, diante da porta do quarto onde se celebravam os mistérios, o que os gregos adoravam com devoção na estátua que acabamos de mencionar, essa parte mui bela que, em suma - sem sair à procura de exemplos tão remotos - encontra tantos adoradores em Paris. Tal era a atitude quando Dolbreuse, acostumado a entrar sem dificuldade, chega cantarolando, e vê por um ângulo o que uma mulher verdadeiramente honesta não deve, segundo dizem, jamais mostrar.O que teria causado grande prazer a muitas pessoas fez com que Dolbreuse recuasse.- O que vejo? - exclamou - ... traidora... é isso que me reservas?A sra. Dolmène que, naquele momento, se encontrava numa dessas crises em que uma mulher age infinitamente melhor do que raciocina, resolve mostrar-se audaciosa:- Que diabo tens tu? - diz ela ao segundo Adônis - sem deixar de se entregar ao outro - não vejo nisso nada que te cause muito pesar; não nos perturbes, meu amigo, e contenta-te com o que te resta; como bem podes notar, há lugar para dois.”Dolbreuse, não conseguindo deixar de rir-se do sangue-frio de sua amante, pensou que o mais simples era seguir o conselho dela, não se fez de rogado, e dizem que os três lucraram com isso.”Não eu não podia acreditar naquela estória...- Parem com isso! São todos loucos! Insanos! Ela me pertence!!!Você não sabe nada sobre ela. É tudo uma imensa mentira!Eu sei!-Querido?-Não! Não, parem!!- Querido, o que esta acontecendo?- Você está aqui?!...-Claro, acabei de chegar da loja.- Loja? Onde eu estava?- Ora, meu marido, você estava aqui, sentado escrevendo. Quando cheguei da loja você estava ofegante olhando para os papéis.-Eu escrevi? E aquele livro ali sobre a cabeceira?-Não sei, parece que você nem ao menos tocou nele. Chama-se “Contos libertinos” de Marquês de Sade. Por um momento, cheguei a acreditar que havia produzido algo, mas não, realmente não consegui. Até meus delírios já foram escritos. Caminharei até a morte sem ao menos deixar uma folha de papel com algo instigante escrito por mim. Continuo fazendo parte dessa humanidade sem sentido.

Senta que lá vem história...


Era uma vez.Basta esta frase para que venha a nossa mente uma história, e junto dela a imagem ou a voz de alguém que participou de nossa infância.
Contar histórias é uma prática milenar que já acarinhou corações de crianças e adultos no mundo todo, muitas delas atravessaram as fronteiras do tempo e do espaço e são recontadas até hoje. As mais conhecidas no ocidente são as fábulas dos irmãos Grimm, que registraram narrativas e lendas de tradição germânica.
Recuperar as histórias é uma das formas mais importantes de valorizar a cultura de um lugar. No Brasil por todo canto existem pessoas buscando transmitir esta arte, o assunto é de tamanha importância que os contadores de história são considerados parte de nosso patrimônio imaterial, ou seja parte daquilo que gera apesar da passagem do tempo um sentimento de identidade com a comunidade a qual pertencemos.
Com o desenvolvimento dos meios de comunicação e da forma de organização da sociedade contemporânea, vinculada com a velocidade, acreditou-se que esta forma de relatar histórias seria extinta, porém, nascem e renascem maneiras de contar histórias nos grandes centros, dentro das escolas, nos lares e inseridas nos meios de comunicação.
A Rede Cultura de Televisão dá bastante atenção para produções que levem as crianças a esse universo em que a história é contada para ser construída através da fantasia, diferentemente do que elas estão acostumadas em que as imagens saltam da tela sem que precise usar muito a imaginação.
Para transmitir as histórias alguns buscam usar elementos além da voz, assim, vale um pouco de tudo, figurino, tapetes, bonecos, brinquedos e até elementos do cotidiano.
Os leitores com a minha idade devem se lembrar dos contadores que apareciam na programação da Cultura contando histórias com canetas e xícaras. Passei muitas tardes na casa da minha avó brincando escondido com os bonecos de porcelana da cristaleira.
Existem até cursos para quem quer aprender a contar histórias, as aulas falam um pouco de práticas que deveriam fazer mais parte do nosso dia-a-dia como sorrir e olhar nos olhos ao dizer algo. A prática é utilizada como forma de incentivar novos leitores, ensinar e transmitir valores de forma lúdica.
Contar histórias é sempre uma boa experiência, nos faz voltar a nossa própria infância para buscar o que gostávamos de ver e ouvir quando éramos pequenos, nos faz deixar o senso de ridículo de lado e o mais interessante é olhar para a “platéia” e saber que na imaginação delas muitas aventuras fantásticas estão acontecendo.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Dança: a arte de expressar-se com o corpo


“Nos primeiros ensaios eu não acreditava que estava conseguindo, depois fui confiando mais e percebendo que também podia”.A frase é de Carina Siqueira Damico, uma das dançarinas com deficiência visual que participam do projeto Olhos da Alma, de Jaboticabal.
Foi percebendo a dança como uma forma de ultrapassar barreiras físicas, mentais e sociais que o dançarino Alexandre Miranda, conhecido com Snoop, levou aulas de dança de rua para a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) em Ribeirão Preto.
Deste trabalho nasceu em 2002, o primeiro grupo de dança de rua com deficientes auditivos. No mesmo ano eles participaram do Festival de Dança de Porto Alegre e ganharam em primeiro lugar. “E não foi de dó não, eles competiram mesmo, mostraram que podiam dançar como qualquer outra pessoa”, afirma Snoop.
Movimentos como o projeto Olhos da Alma e grupos de dança em Apae’s fazem com que a sociedade passe a valorizar a diferença. Segundo o professor de dança do projeto Olhos da Alma, André Miranda muita gente chora vendo os deficientes visuais no palco, mas é só através da convivência com eles que aprendemos a lidar melhor com os nossos preconceitos.
O trabalho com os portadores de necessidades especiais tem de ser diferenciado. “Em uma aula para cegos tenho que utilizar muito o tato e a percepção sonora. No começo é necessário trabalhar a lateralidade, pegar no braço e mostrar o movimento, até que apenas narrando eles conseguem fazer as coreografias”, explica Miranda.
Para Carmita dos Santos, mãe do dançarino Júlio César, portador de deficiência mental, ainda existe preconceito, mas a dança funciona como uma forma de diminuí-lo, pois as pessoas passam a ver os deficientes fazendo coisas que na maioria das vezes acham que não seriam capazes.
“Eu sempre aprendo muito mais do que ensino com os meus alunos, especialmente com os portadores de deficiência. Eles estão sempre felizes, não reclamam e tem uma grande força de vontade. Somos nós que temos mania de colocar barreiras”, expõe Snoop.

Inclusão cultural

Trabalhar com a diversidade requer adaptação o tempo todo com o universo da outra pessoa. Quando a bailarina Meire Teixera decidiu dar aulas de balé clássico para os adolescentes da escola de samba Embaixadores dos Campos Elíseos, muitos se assustaram com a idéia, porém, o trabalho que começou há 4 anos é mantido até hoje.
“Eu não precisei forçar nada, com um mês de ensaio eles estavam falando os nomes dos passos em francês”, relata Meire. “Quem foi que disse axé é de classe baixa e balé é de classe alta? O ser humano é apto a aprender qualquer coisa”, continua.
Uma das maiores dificuldades dos que buscam trabalhar com a arte, segundo ela é a continuidade, pois nem sempre o governo dá subsídios para que os projetos tenham seguimento.“Nos Campos Elíseos, tudo tem que ser feito em mutirão: uma mãe costura, outro tem um amigo que arruma o transporte”.
Meire acredita que os projetos devem buscar apoio também privado, através de leis de incentivo cultural. “Em todo o país, muitos projetos não prosseguem por falta de apoio. As leis devem ser mais aproveitadas, esse é o meio do Brasil expandir o acesso à cultura”, finaliza Meire.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Brasilidade sonora

Em meio a mesmice musical das grandes rádios, uma música chamou minha atenção, era uma voz feminina e a letra falava de um amor que não aconteceria.
Depois de alguns dias descobri que a música era “Boa Sorte” da Vanessa da Mata, uma cantora e compositora do Mato Grosso que anda tocando por todo lado do país e já compôs com Chico César até música para Maria Bethânia, que declarou que Vanessa é “o novo Guimarães Rosa do Brasil”.
Muito bem acompanhada ela veio fazendo parcerias com Milton Nascimento, Baden Pawell e em seu último CD intitulado “Sim” há participação do mestre da Bossa Nova João Donato.
O CD “Sim”, é o 3º trabalho da cantora e ficou em 10º lugar no ranking nacional de CDs mais vendidos desta semana, traz um pouco de reggae, de mpb e samba, é música para ouvir o dia todo, que faz bem para os ouvidos e para a alma.
Vanessa tem história, já tocou com a banda jamaicana Black Uhuru e com o grupo que mistura ritmos regionais, Mafuá.
A voz dela vem dividindo espaço com outras cantoras brasileiras que misturam vários ritmos e revelam novas sonoridades, entre elas está Céu, Maria Rita e Mariana Aydar.
Apesar de toda a bagagem musical de Vanessa, alguns críticos a vem como mais uma celebridade instantânea do mundo da música,porém, suas letras parecem se diferenciar dos padrões de sonoridades para só tocar no rádio, com refrães repetitivos, Ana Carolina é um exemplo que segue este caminho de estigmas midiáticos.
Vale a pena sempre ouvir os novos artistas brasileiros, há muito música de qualidade sendo produzida em todo o país, um site que pode ajudar quem está procurando por novas sonoridades é o
www.myspace.com , uma espécie de orkut dos músicos ,na maioria do cenário alternativo, em que há acesso à músicas on-line.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Banca de Jornais?

Qual sua revista favorita? Aquela que carrega embaixo do braço e faz questão de dizer que já foi ou que é assinante?
Este meio de comunicação como qualquer outro passou por mudanças no decorrer do tempo, mas nunca deixou sua principal característica de lado, a da proximidade com o leitor.
Existem revistas para todo tipo de público, e ao contrário dos jornais que sempre desejaram alcançar um grande número de pessoas, muitas vezes heterogêneo, a revista veio com a função de ser objetiva.
A primeira revista segundo a coordenadora do Curso Abril de Jornalismo, Marília Scalzo, nasceu na Alemanha e chamava-se “Edificantes Discussões Mensais”.Ela e as primeiras revistas no século XVII eram parecidas com livros, mas foram consideradas revistas por tratarem em artigos de um assunto específico.
Em 1731 surgiu em Londres a The Gentleman´s Magazine, que tinha esse nome por se parecer com uma grande loja que oferecia de tudo. A palavra magazine então passou a nomear revistas em inglês e francês.
A partir daí, com o desenvolvimento industrial na Europa, a diminuição dos índices de analfabetismo e o novo modelo de vida urbanizado, as revistas foram ganhando cada vez mais espaço.
Elas acompanharam as mudanças do papel da mulher na sociedade, sendo suas companheiras na busca da conciliação do serviço doméstico, nas funções de mãe e com o trabalho fora de casa, talvez por isso as mulheres são até hoje o público mais enfocado.A primeira delas foi a francesa “Mercúrio das Senhoras” e tratava dos trabalhos do lar, de moda e dicas de trabalhos manuais como bordados.
A publicação feminina que marcou a indústria das revistas foi a Cosmopolitan, que nasceu em 1962 e até hoje tem suas edições pelo mundo todo, no Brasil ela é a “Nova”.
A revista Time foi a primeira semanal, o que transformou a forma de se fazer revistas, trazendo o conceito de velocidade de informação.Sete anos depois da Time , em 1930, surgem as revistas em quadrinhos, que vincularam as publicações ao entretenimento.Depois dos quadrinhos, vieram as fotonovelas, que fizeram grande sucesso aqui no Brasil.
Como cada vez mais as publicações buscam um grupo com características próprias, hoje podemos encontrar nas bancas inúmeros títulos, revistas sobre vestibular, medicina, política, para público adolescente, masculino, enfim, a variedade é facilmente visível.
O que diferencia umas das outras, muitas vezes é o contato que ela permite com o leitor. Apesar de ser banal falar da importância da opinião do leitor para a atual comunicação de massa, para as revistas essa relação tem de ser muito valorizada, quanto mais o jornalista conhecer de seu público, mais afinidade pode construir com ele.
Quando se gosta de uma revista costuma-se ler de fora a fora, ela acaba sendo a medida ideal para carregar na mochila e pegá-la em algum momento chato, como uma espera em um consultório médico.
A maneira como um jornalista pode lidar com a notícia é diferente dos jornais diários, programas de TV, internet e rádio, há um tempo maior para a apuração, para se construir críticas e discussões ao redor do assunto, o que as torna companheiras na busca da compreensão do grande número de informações que caem sobre nós diariamente.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

A grandiosidade das sutis experiências

Na próxima vez que for a uma locadora experimente não ir direto para a seção de lançamentos, olhe aquela prateleira onde os filmes, a maioria em VHS, de tão esquecidos estão até empoeirados. Se delicie passando os olhos pelos que você viu há muito tempo, por aqueles que passam até hoje nas seções de cinema da televisão e prove algo que você nunca assistiu.
Ao chegar em casa vai ser preciso procurar os fios para ligar o vídeo-cassete, verificar se o aparelho ainda funciona e aí sim sentar na poltrona.
O filme escolhido foi “Tempo de Despertar” de 1990, no elenco está Robin Willians no papel de um médico neurologista e Robert De Niro como um doente psiquiátrico.
A história relatada é verídica, baseada no livro homônimo do neurologista britânico Oliver Sacks. Sacks escreveu vários livros relatando suas experiências com pacientes, muitos deles reconhecidos como obras de potencial literário como “ Um antropólogo em Marte”.
“Tempo de Despertar” conta uma história vivida em 1969 em Nova York, em que pacientes com letargia encefálica, que viviam há anos dependendo dos outros para as tarefas mais simples, foram tratados com uma droga experimental e voltaram à vida.
Quando os pacientes retornam à expressão de suas vontades e sentimentos eles querem recuperar todo o tempo que estiveram como em um estado de “sono”, assim cada pequeno prazer é valorizado.Eles passam a perceber a vida como uma criança que aflita deseja descobrir tudo o que a rodeia.
O tempo passa a ser visto de forma relativa, a maioria dos pacientes ficaram mais de 20 anos em estado letárgico, ao olharem no espelho percebem que seu corpo envelheceu, porém, sua alma precisa explorar as sensações do mundo.
Apesar de os pacientes quererem descobrir o universo além do hospital, eles estão em tratamento e não podem sair daquele pequeno espaço, o que traz revolta para alguns, especialmente para o personagem de De Niro - Leonard, que não consegue compreender porque tem que permanecer ali.
A droga que os faz sair do estado de apatia trouxe efeitos colaterais inesperados e a doença parece querer vencer.
A forma como a história é contada não relata apenas um caso médico, mas nos faz pensar em como lidamos com a nossa própria vida, na valorização das pequenas sensações.
Assim com o decorrer do filme nos envolvemos com cada personagem, os sorrisos e as lágrimas expressam-se como se estivéssemos juntos deles.
Assistir a um filme em que a história é verídica remete a sensações diferentes da ficção, este em especial nos leva a refletir a nossa vulnerabilidade diante da vida.

O novo cinema brasileiro



Nos acostumamos tanto a ver filmes, que parece que cada vez se torna mais difícil sermos surpreendidos.O filme “O cheiro do ralo” conseguiu a façanha de ser surpreendente do inicio ao fim, todos os movimentos são inesperados, os personagens vão do cômico ao trágico em um piscar de olhos e as sensações que despertam em quem assistem passam pelas gostosas risadas à angustia.
A direção é de Heitor Dahlia, que dirigiu seu primeiro longa “Nina” em 2004, um diretor que podemos dizer que faz parte do cenário underground do cinema brasileiro.O filme é uma adaptação do livro homônimo de Lourenço Mutarelli
O livro é a primeira experiência em romance do cartunista Mutarelli, que tem por característica em suas histórias em quadrinhos embutir em seus heróis particularidades da sociedade contemporânea.
O personagem principal desta história, de nome também Lourenço é vivido por Selton Mello, que foi responsável também pela co produção do filme.
Lourenço é dono de uma estranha loja de objetos usados, por onde passa todo tipo de gente, querendo vender as mais bizarras peças que são selecionadas de forma ininteligível por ele. O humor se constrói pela forma como seus clientes são tratados, relações momentâneas em que o personagem abusa do sarcasmo.
A maioria dos atores nunca havia interpretado, o que traz um ar de teatro para o filme, as interpretações são exageradas, o que ao contrário do que poderia se prever faz com que a história aproxime-se do cotidiano.
A trama tem como protagonista o cheiro que vem do ralo do banheirinho da loja. Lourenço no inicio parece se incomodar e se desculpa o tempo todo pelo cheiro desconfortável, porém, com o andamento do filme o tal cheiro passa a ser uma obsessão e a ter importância filosófica para explicar as suas ações.
O roteiro remete à loucura cotidiana, às confusões de pensamento e de desejo que cercam todo ser humano. Assim, o riso do cinismo do personagem passa a ser uma risada de si mesmo.
Quem assiste ao filme pode ter todo tipo de reação com o personagem, raiva, ódio, dó, carinho, ou todos esses sentimentos juntos, é como se ele tivesse alma, uma personalidade própria que pode cativar ou desagradar.
O filme agradou aos críticos no Festival de Sundance, no Festival do Rio e na Mostra Internacional de São Paulo, onde foi eleito como melhor filme.
Selton respondeu de forma concisa a pergunta sobre o que era o filme em entrevista à Terra Magazine : “é um filme impossível de explicar, só assistindo”.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

A linguagem no cinema


As histórias surgem na tela como se estivesse lendo vários livros ao mesmo tempo, as narrativas parecem desconexas, mas instigam a buscar o final.As horas passam rápido como se estivesse em outro lugar, não mais ali na sala, mas vivendo situações que não são minhas, mas poderiam ser. Os créditos correm pela tela e com uma mistura de incompreensão e satisfação, desligo a televisão.
Assim foi a experiência de assistir ao filme “Babel”, o último de uma trilogia que inclui “Amores Brutos” e “21 Gramas” do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu.
O comunicar é a essência desta história, não só através das palavras, mas a linguagem como um todo, os gestos, os toques e olhares.As imagens se desenvolvem a partir da dificuldade que temos de olhar para o rosto do outro e buscar o que aquelas palavras realmente significam.
“Babel” desenha tramas que se aproximam e se afastam o tempo todo, cada personagem tem personalidade e vidas distinta, unidas aparentemente por um tiro, mas subjetivamente por diversos fatores como o preconceito e o medo.
A escolha de atores de diversas origens foi importante para que a história transmitisse veracidade, assim a obra reúne o americano Brad Pitt (“Clube da Luta”),a austríaca Cate Blanchett ( “O Aviador”), o mexicano Gael García Bernal ( “Diários de Motocicleta”) e a japonesa Koji Yakusho ( “Memórias de uma Gueixa” ) , sem contar os talentosos atores mirins.
Interessante notar que não há uma clara separação entre atores principais e coadjuvantes, todos os que passam pelo filme têm personalidade e relevância para o andamento do roteiro.
As cores e os sons têm grande influência no modo de contar, assim o espectador pode caminhar pelas diversas histórias reconhecendo-as. O silêncio passa a ser elemento fundamental, especialmente para entrar no mundo da personagem Yasujiro(Koji Yakusho), que é surda-muda.
“Babel” foi reconhecido nos principais festivais de cinema do mundo, concorreu a sete Oscars este ano, foi vencedor do Globo de Ouro de melhor filme e em três categorias no Festival de Cannes, entre outras premiações na França, EUA, Inglaterra e Dinamarca.
Ao assistir, não espere por um término, não há um desfecho claro, mas sim a possibilidade de quem assiste encontrar seu próprio resultado final, baseado nas sensações e reflexões que o filme provocou.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Cineclube - diálogo sobre imagens




Sensações se fundem na sala escura, o cheirinho de pipoca, o burburinho, a curiosidade e, então as luzes vão se apagando devagar quando na grande tela as imagens surgem e a imaginação nos prepara para entrar em uma outra dimensão.
Ir ao cinema foi durante gerações um grande acontecimento “O cinema era o evento mais importante da semana, parecia que todo mundo tava indo para uma festa”, descreveu Roberto Possebon, 80 anos, que freqüentou as salas de cinema durante toda a sua juventude.
Deste amor pela arte cinematográfica surgiram os cineclubes, espaços que reuniam uma grande diversidade de pessoas com um desejo em comum, o de dividir o que sentiam ao entrar em contado com a 7º arte.
O primeiro cineclube brasileiro com uma atividade organizada foi o carioca Chaplin Club que “surgiu em 13 de junho de 1928 e alcançou grande repercussão nos meios cultos da então Capital Federal”, explica Ricardo Santos, estudante de Cinema e cineclubista há 17 anos.
É difícil contar com exatidão a história do cineclubismo, pois muitos nunca estiveram vinculados a nenhuma associação, as pessoas se reuniam nas casas, nas universidades, nas garagens, enfim qualquer espaço era o suficiente para que as reuniões acontecessem e as discussões corressem até altas horas da madrugada.Em Ribeirão Preto, os encontros do primeiro cineclube, Cine Suez eram aos sábados à meia noite, “nós a chamávamos de sessão coruja, sessão maldita”, conta o diretor e crítico de cinema, José Flávio Mantoani (conhecido como Mith).
Os cineclubes acompanharam a história do país e acabaram se tornando espaços de resistência em momentos de repressão ideológica.
Muitos diretores devem parte de sua formação aos encontros cineclubistas como Glauber Rocha e Cacá Diegues.Cineastas estes que marcaram o cinema brasileiro com seus filmes polêmicos , críticos e com formas inovadoras de narração.
Para Ricardo, o movimento “sempre colaborou na busca da identidade do cinema brasileiro”, assim apesar do menosprezo dos especialistas por diretores como Mazaropi, Oscarito e Grande Otelo, eram nos cineclubes que se percebia a riqueza daquelas obras. “Por trás de toda aquela comédia havia a contestação política”, afirma o professor de história cultural Humberto Perinelli.
Os anos passaram e muitos fecharam as portas, especialmente nos anos 90 por motivos políticos e sociais que se somaram como a falta de apoio governamental, a opressão das grandes empresas de cinema, a mentalidade liberalista e a facilidade de acesso à televisão e ao vídeo cassete.
Com a proliferação de salas de cinema nos shoppings center houve um movimento de elitização do cinema, assim “os cineclubes passaram a ser mais vitais que nunca para manter algumas pequenas oportunidades de conhecer a produção independente,brasileira, internacional, curtas-metragem, etc”, afirma Felipe Macedo, cineclubista com extenso trabalho na área.
Sentar após ver um filme para discuti-lo passou a ser uma prática cada vez mais rara e de acordo com Perinelli o fechamento dos cineclubes foi apenas uma das conseqüências das transformações na sociedade.Durante a época da ditadura havia emergência por espaços de discussão, de manifestação artística, “a classe artística trabalhava com a marginalidade, uma postura anti a política vigente, porém com a democracia, a abertura política, houve um descompromisso da arte mundialmente”, completa.
O distanciamento das salas de cinema em troca do conforto de casa fazem com que a relação do espectador com o filme aconteça de forma diferente dos primeiros amantes desta arte.Quando nos sentamos para assistir a um filme o nosso desejo em grande parte das vezes é de se desvincular do cotidiano, passar ali 2 horas afastado da realidade.
A principal proposta do cineclubismo era a construção do debate depois do filme, para que não houvesse a súbita quebra entre as imagens da tela e a realidade, o importante era descobrir qual os vínculos entre aquela obra de ficção e o que existia efetivamente, assim propor mudanças individuais e coletivas deixando com que a mente fluísse, sentindo a arte como transformadora do ser e não apenas como distração.
Apesar das nossas relações com a imagem terem mudado com o avanço das tecnologias e a facilidade de acesso aos televisores e computadores, a partir da década de 90 houve todo um movimento de retomada do cineclubismo.
O homem como ser coletivo acaba voltando-se para a arte e rediscutindo-a, para Ricardo “o mesmo inimigo dos Cineclubes no passado, o videocassete e DVDs, é hoje o mais novo aliado desta retomada, esta parceria pode e deve romper com este tendência de ficar em casa. Pode e deve ser o agente da mudança, que devolverão aos gregários, o gosto pelo cinema que nos faz refletir, que nos encanta com sua arte, sua história e magia”.
Para Macedo colocar a culpa, do distanciamento dos brasileiros das salas de cinema, no videocassete é um mito para esconder a carência do acesso à cultura em nosso país “Nos países mais ricos, onde a maioria da população tem banda larga, tv a cabo e tudo quanto é recurso moderno, vai-se muito mais ao cinema. Os EUA têm mais de 30 mil cinemas; Quebéc(Canadá), com apenas 7 milhões de habitantes, tem quase a metade das salas do Brasil inteiro”.
Indiscutível é que essa retomada fez com que o cineclube assumisse também outros papéis, como o de oferecer aos que não tem acesso ao cinema o prazer de ver um filme na telona, mostrar para a criança que nasceu na frente da televisão como é assistir na sala de cinema e para divulgar filmes que tem distribuição restrita.
Nas grandes cidades do país, especialmente no Sudeste há também a tendência de cineclubes subsidiados por empresas, principalmente após a efetivação da lei Rouanet (lei de incentivos culturais), ações sócio-culturais-educativas de prefeituras e atuação de entidades como Sesi e Sesc que complementam esse movimento de retomada do cinema, com características diferentes, mas importantes para o processo de recuperação dos espaços cineclubistas.
Segundo Macedo, apenas “três distribuidoras de filmes são responsáveis por 85% da bilheteria total do cinema no país e as três são do mesmo bairro: Hollywood”, os números apresentados por ele evidenciam a importância de movimentos paralelos às grandes distribuidoras, para que o acesso às obras cinematográficas seja mais democrático.
Em Ribeirão Preto temos o Cine Cauim, que cumpre sua função sócio-cultural com projetos voltados para a população de baixa renda e exibição diária a preços populares, o Espaço Cultural Santa Elisa que mantém um projeto de exibições de filmes e palestras sobre assuntos ligados à psicologia 2 vezes por mês, o Museu de Arte (Marp) onde uma vez por mês há debates sobre arte e projeção de filmes e o Espaço Cultural A Coisa que promove entre diversas atividades filmes e discussões.
Entrar em contato com esses espaços ou até mesmo propor a um grupo de amigos debates após assistirem juntos a um filme pode ser uma experiência reveladora.

Sobre liberdade de imprensa

A decisão do presidente da Venezuela Hugo Chávez de não renovar a concessão da emissora de televisão RCTV, a mais antiga na rede privada do país, levou a discussões sobre liberdade de imprensa no mundo todo.
No Brasil, em especial no estado de São Paulo, a exposição da mídia sobre o caso demonstrou pouca discussão e muita crítica a atitude de Chavéz.
Resoluções fortemente arbitrárias como esta chamam a atenção da mídia, pois colocam em evidência algo que é pouco questionado: a tão aclamada liberdade de imprensa.
Talvez seja banal dizer que existem grupos majoritários de comunicação em nosso país e que na maioria das vezes o grupo que dirige a emissora que assistimos é o mesmo do jornal que lemos.Realidade que não é só exclusividade nossa, mas sim de vários países.
Estamos o tempo todo lidando com publicidade como esta: “a TV Globo pode ser assistida em 99,84% dos 5.043 municípios brasileiros” e acabamos por nos habituarmos a viver em um espaço homogeneizado.
Nos anos em que vivi na cidade de Piracicaba presenciei, mais de uma vez, o fechamento pelos grupos de radialistas da cidade de uma rádio de bairro (Blackout) que era mantida ilegalmente pelos próprios moradores, após anos de tentativas por uma concessão.
O motivo de tanto “ódio” dos colegas comunicadores era o fato de que dentro dos bairros que tinha alcance, a Blackout era a única ouvida.Isto aponta um problema sério, pois para a população dos bairros da periferia piracicabana o que eles ouviam nas outras emissoras não era o que almejavam saber.
O desejo dos meios de comunicação alternativa é o de dialogar sobre os interesses das minorias.Estes espaços de luta são massacrados pelos que tem a falsa idéia de que o espaço radioelétrico pertence a algumas empresas privadas.
As concessões no Brasil parecem ser vitalícias, há pouca renovação de sobrenomes nas diretorias dos meios de comunicação e grande parte destes nomes estão ligados a interesses políticos.
Para a democratização é preciso o direito efetivo de qualquer cidadão comunicar-se, não só individualmente, mas também coletivamente.
Fica o questionamento, o que temos no Brasil é liberdade de imprensa?

sexta-feira, 8 de junho de 2007

De onde veio a bossa ?

" É pau, é pedra, é o fim do caminho /É um resto de toco, é um pouco sozinho” (Tom Jobim)
Que brasileiro já não cantarolou essa música debaixo do chuveiro ?
Apesar da Bossa Nova ser parte indiscutível da cultura brasileira,a sua história é desconhecida por muitos.
Para falar dessa trajetória, o jornalista e escritor Ruy Castro esteve em Ribeirão Preto em um evento promovido pelo Sesc chamado “De Volta ao Beco”.
O nome do evento permitiu que o público adentrasse essa história, pois entre 1958 e 1966 no Rio de Janeiro, em uma ruela de Copacabana que abriga pequenos bares e boates, conhecido como Beco das Garrafas, encontravam-se nomes como João Donato, Nara Leão, Baden Powell, Wilson Simonal e Elis Regina.
Jonhy Abila, um dos organizadores da programação do Sesc relatou que o nome Beco das Garrafas veio da simplificação de Beco das Garrafadas, expressão dada pelo jornalista Sérgio Porto, freqüentador do local nas décadas de 50 e 60.O motivo do batismo foi a quantidade de garrafas que eram jogadas pelos vizinhos do beco indignados com a “bagunça” dos freqüentadores e dos músicos que tocavam por toda a madrugada.
A Bossa passou por vários momentos desde os anos 50 e tem presença indiscutível na construção da música popular brasileira."Pode parecer piegas falar isso mas é pura verdade, as músicas eram feitas com amor, em busca da beleza", assim Ruy Castro iniciou sua palestra.
Segundo Castro a proposta inicial da Bossa Nova era passar a idéia de um Brasil mais limpo, mais justo e simples."Era como se as músicas estivessem convidando todo mundo para morar em Ipanema,como dizia o Tom (Jobim), ir à praia, ter um namorado, namorada…ser feliz para sempre".
Nos anos 60 os sons produzidos no Beco das Garrafas começaram a chamar atenção fora do Brasil, assim muitos músicos foram para Nova York ensinar os americanos a fazer a batida da Bossa, construindo as melodias com "elegância, simplicidade e limpeza, assim a Bossa Nova se incorporou à gramática musical do mundo inteiro", continuou Castro.
Nesse período de sucesso houve também a valorização do instrumental e improvisações de jazz. Desta maneira a Bossa Nova deixou de ser estritamente praiana, foi para a rua e nasceram ritmos como o afro samba, uma mistura de bossa nova com as músicas do folclore baiano.
Já nos anos 70 com o "boom" da Jovem Guarda, a Bossa Nova ficou esquecida por duas décadas. Ruy disse que toda essa onda do "ie-ie-ie" foi devido ao grande apelo comercial especialmente da televisão.Entretanto, mesmo com todas as dificuldades, como a falta de apoio dos meios de comunicação, a expansão foi inevitável através de artistas que conheciam o trabalho da Bossa e estavam fora do Rio de Janeiro como Chico Buarque, Milton Nascimento e Caetano Veloso
Nos últimos 15 anos, as remasterizações de vinil para cd, as releituras de antigas composições por artistas contemporâneos e a visibilidade de músicos do inicio da Bossa Nova, como João Donato, vem garantindo a notoriedade do estilo no cenário musical nacional e internacional.
"Para mim a Bossa Nova faz parte do patrimônio cultural brasileiro, não por ser do meu tempo mas, por ser boa.Hoje podemos ouvir discos gravados à 44 anos sem intervenções eletrônicas, gravado de uma vez só como se fosse ao vivo.Obras primas que tem de ser valorizadas",finalizou Ruy.
Confira a entrevista com Ruy Castro concedida dias antes de sua passagem por Ribeirão Preto:
1. A programação do Sesc Ribeirão Preto busca resgatar a história e o cenário musical do Beco das Garrafas, para tanto entre os convidados estão Leny Andrade, João Donato e Simoninha cantando as músicas de seu pai Simonal. Você acredita que estes artistas representam bem o “espírito” do início da Bossa Nova?

Eles representam o "espírito" Beco das Garrafas da Bossa Nova, que era mais jazzístico, mais samba-jazz e menos intimista que o da Bossa clássica. Todos os grandes nomes do Beco -- Simonal, Leny, Pery Ribeiro, Jorge Ben, Elis Regina e outros, sem falar nos super-instrumentistas que passaram por lá, um deles Sergio Mendes, eram da música mais pesada. Isso é formidável porque o espaço minúsculo das boatinhas do Beco parecia exigir uma música mais baixinha. Mas, ao contrário, foi ali que nasceu a Bossa Nova em voz alta.

2. O seu livro “Chega de Saudade” buscou a reconstrução da vida carioca nos tempos do início da Bossa Nova.Como foi o processo de pesquisa? Quanto tempo você levou para terminá-lo?

Levei dois anos e quebrados, mas é preciso ver que eu já tinha muita intimidade com o assunto. Conhecia ou já havia entrevistado muitas daquelas pessoas, conhecia o território fisicamente até de olhos fechados e tinha passado a vida ouvindo Bossa Nova. Acho que, sem isso, teria precisado de muito mais tempo. O processo de pesquisa já era o que eu continuaria adotando depois: conversar com todo mundo que participou da coisa.

3. O ano passado foi lançado “Rio Bossa Nova - Um roteiro lítero-musical”.Quais são os vínculos entre “Chega de Saudade” e este novo trabalho?

Costumo dizer brincando que "Rio Bossa Nova" é o "Chega de saudade" em technicolor, mas não é bem assim. "Chega de saudade" é uma reconstituição histórica, com pretensões mais duradouras; "Rio Bossa Nova" é um guia turístico para quem estiver no Rio e gostar de Bossa Nova, só que com um projeto gráfico fabuloso, de fazer doer a vista. Cada qual no seu gênero.

4. Como foi dentro de sua história profissional a criação desse vínculo? Quando você escolheu o jornalismo e quando o uniu a literatura? E como foi a escolha de retratar a história da Bossa Nova no Rio?

Sempre quis ser jornalista, nunca pensei em ser escritor. Trabalhei na imprensa durante 20 anos direto e só nos últimos 20 tenho me dedicado aos livros, sem abandonar de todo a colaboração em jornais e revistas. Minha mudança para os livros foi meramente fortuita, nada planejada. Quanto à escolha de retratar a história da Bossa Nova no Rio, também foi natural: a Bossa Nova nasceu no Rio e é uma música fundamentalmente carioca, embora tenha sido adotada pelo resto do Brasil e do mundo.

5. Como você escolhe os temas que irá tratar na sua coluna da Folha de S. Paulo?

Não escolho. São os temas que me escolhem. Acompanho diariamente o noticiário, converso com muita gente e os temas pintam com naturalidade. Aí é sentar e escrever e, principalmente, reescrever.

6. Qual a sua opinião sobre o caso do Roberto Carlos, em que ele impediu a distribuição de sua biografia escrita por Paulo Cesar Araújo?

Acho que foi uma medida cretina. Mas, se você quer saber, eu não esperava nada diferente dele.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

O filme sobre o nada



Sala escura e na tela a imagem de um ônibus partindo de São Paulo, o céu amarelo e a paisagem seca do sertão são as indicações que o destino é o Nordeste.O ônibus pára no meio da estrada, a personagem principal, Hermilia, 21 anos, desce com um menino no colo e uma mala na mão.A câmera caminha pelo local mostrando um posto de gasolina e ruas de terra batida.
O filme é o brasileiro “O Céu de Suely” que estreou em 2006 e teve direção de Karim Aïnouz que também dirigiu “Madame Satã” e foi co-produtor de filmes como “Abril Despedaçado” e “Cidade Baixa”.
“O Céu de Suely” ganhou vários prêmios e foi selecionado em festivais importantes no exterior como o Festival de Toronto e de Veneza.
Passei o filme todo buscando entender o porquê de tamanho sucesso, o roteiro é simples: uma mulher tem um filho com seu namorado em São Paulo e por não conseguir se manter na cidade grande volta para sua origem, a pequena Iguatu.
História simples e recheada de clichês como a pobreza, a falta de opções dos nordestinos, gravidez na adolescência, sexo e prostituição.
O cinema brasileiro renasceu, porém, há o perigo de criarmos a fórmula de que basta usar uma cidade do interior nordestino como cenário que tudo estará resolvido.
O nordeste é uma região rica em cultura, em histórias, mas não basta uma câmera se não há criatividade na maneira de relatar.Muitos filmes utilizaram a região como cenário de forma extremamente poética como “O Auto da Compadecida” e “A Máquina”.
A forma como Karim Aïnouz relata a história deixa o espectador imerso em monotonia, o roteiro não nos permite compreender as relações de Hermilia com seu filho, com a família e com os homens.Apesar de acompanharmos a personagem em todos os momentos de seu cotidiano,tudo não passa de cena atrás de cena.
Vale a pena ver o filme por curiosidade, para ao menos tentar entender o porquê de ter recebido tantas críticas positivas.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Visita do papa

A imagem acima está no site da Folha de São Paulo hoje às 17:16h, com a seguinte legenda: Trabalhador faz ajustes na cadeira que o papa usará em evento no Pacaembu; veja mais fotos

Manhã de quinta-feira, 10 de maio de 2007, Ribeirão Preto, Brasil.
Fui até a sala liguei a TV no jornal da Globo News, resultado: 25 minutos vendo tudo sobre a chegada do papa, onde ele vai ficar, o que ele vai falar, quantos minutos ele vai ficar em cada lugar....
Desliguei a TV, busquei o jornal , manchete de capa "Folha de São Paulo" acompanhada de uma foto enorme do papa pisando em solo brasileiro "Papa apóia excomunhão dos políticos pró-aborto". Capa do "O Estado de São Paulo"- "Bento XVI condena aborto e faz defesa da família tradicional" foto principal: Bento XVI em seu papamóvel.
Desisti de ler as matérias principais e fui ler Ilustrada, ufa! Pelo menos nesse caderno não tinha nada do papa. Voltei a ligar a TV na hora do almoço: EPTV- BentoXVI, Band- Bento XVI, Globo News- Saiba por onde o papa vai passar em São Paulo, Cultura- Cocoricó...ufa! Assisti um pouco e vim para o estágio pensando...
O mundo parou? Hoje não aconteceu nada, além da chegada papa?
Não tenho nada contra a vinda dele, mas será que não há um exagero?
Quanto dinheiro se gastou para armar todo esse "circo" ao redor dele e quem está pagando? O catolicismo é a religião oficial do Brasil, ou somos um país laico? A cidade de São Paulo parou por causa de sua chegada, a maioria das escolas não abriram as portas...precisava?
A fé virou motivo de espetáculo, ou sempre foi?
A proposta da aula de Iniciação ao Jornalismo era transformar algo que aconteceu dentro da nossa rotina em matéria jornalística.
Eu exagerei um pouco nos fatos, mas o exercício foi muito bom.

Mulher ofende morador de rua em Poços de Caldas

Na tarde de ontem (8), por volta das 19h, a estudante A.P., 21 anos ofendeu injustamente um morador de rua conhecido como Lavador na cidade turística de Poços de Caldas, interior de Minas Gerais e causou tumulto em uma das avenidas mais movimentadas da cidade.
A estudante havia estacionado seu carro na Av. Presidente Kenedy na parte da manhã e foi fazer compras junto com seu namorado.“Quando cheguei no começo da avenida vi um homem mexendo no meu carro, fiquei desesperada e saí gritando para impedir”, relatou A.P.
No momento em que ela começou a gritar, muitas pessoas que passavam pela avenida foram em direção ao homem, um deles chegou a bater em suas costas.“Eu comecei a falar que não tava fazendo nada, mas eles não me ouviam, e a moça lá continuava a gritar que nem uma louca”, disse Lavador.
A confusão chamou atenção dos guardas municipais, que já conheciam o morador de rua e sabiam que ele sobrevivia de lavar carros na rua.
Segundo o guarda Márcio Gouvêa , isto já havia acontecido uma vez “ele sempre fica lá lavando os carros, sem pedir para as pessoas, aí quando elas voltam ele pede um trocado pelo serviço”.
A.P. pediu desculpas ao morador e a todos que se envolveram no caso, “Fiquei com vergonha disso tudo, principalmente do morador de rua”.
Este caso leva a reflexão sobre uma pesquisa sobre do que e porque as pessoas têm medo, divulgada no dia 1º de maio deste ano pelo jornal “Folha de São Paulo” .A pesquisa demonstrou que as pessoas que mais temem a violência são àquelas que não tem relação direta com ela, assim dentre os entrevistados pela pesquisa , os que disseram ter mais medo são aqueles que vivem nos bairros nobres, enquanto as pessoas que vivem nos bairros com maiores índices de violência declararam que aprenderam a lidar com os problemas que já fazem parte do cotidiano.
A estudante nunca foi assaltada, mora em uma pequena cidade do interior de São Paulo- São José do Rio Pardo, onde os índices de atos de violência são baixíssimos em comparação a outras cidades do estado.“O medo nos casos dos que nunca tiveram momentos de real perigo procede do temor ao que desconhece”, explicou a psicóloga Andréa Junqueira.
Questionada sobre o caso que envolveu A.P. a psicóloga disse que no caso dela a imagem de que um morador de rua oferece perigo é forte no seu subconsciente , então sua primeira reação não foi verificar o que estava acontecendo, mas sim acusá-lo de estar roubando seu veículo.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Transpor Gerações

Uma pequena garagem, lotada de sapatos , um senhor sentado ao fundo trabalhando. A maioria dos que passam pela rua, uma subida de paralelepípedos, pára, dá um bom dia e conversa por alguns minutos, alguns deixam sapatos outros só deixam seus cumprimentos.Esta é uma cena pouco comum no cotidiano das grandes cidades, mas corriqueira para os habitantes de São José do Rio Pardo, interior de São Paulo.
Dentro da garagem , sentado está Roberto Possebon, que aos 80 anos de idade quebra todo dia a fronteira do tempo e mantém, com sua habilidosas mãos, uma profissão que a modernidade está deixando para trás. Há 68 anos ele acorda, toma seu café da manhã e vai em direção a sua grande paixão: fabricar e arrumar sapatos.
“Eu trabalhei muitos anos cobrindo sapato para noiva, era chique levar no sapateiro. Hoje é tudo colado, tudo de plástico”.
Apesar de ser uma profissão em extinção, Roberto mantém uma clientela fiel, onde os vínculos ultrapassam facilmente a relação comercial e transformam-se em laços de amizade ao primeiro sorriso que ele abre.
A sapataria é uma forma de ganhar seu sustento, ocupar o tempo e principalmente manter “anos de amizade com várias pessoas queridas”. Quando acaba o expediente da sapataria, logo, logo alguém toca a campanhia e a conversa é interrompida com um “Desculpa incomodar, mas o seu Roberto ta aí?” , e apesar do cansaço de um dia de trabalho, sai para atender mais um cliente-amigo.
Quem sempre passou por aquela rua sabe que apesar de todos esses anos, dos filhos terem saído de casa, de sua esposa ter falecido, o carro ter sido vendido e a casa ter ficado com a pintura desbotada, tudo na sapataria se manteve praticamente igual , o velho balcão, as prateleiras lotadas de sapatos e bolsas, e a companheira mais fiel, a sua máquina de costura.
Filho de família simples de imigrantes italianos, Roberto estudou até o 4º ano do 1º grau em São José do Rio Pardo. Não terminou os estudos porque para continuar teria que fazer um exame de admissão e a família não tinha dinheiro para pagar. “Para meu pai o importante era trabalhar”.
Em 1938 conseguiu emprego , primeiro em um açougue e depois em um bar “Eu penava muito, levantava às 5 horas e fazia as entregas das encomendas, depois ajudava como auxiliar. No bar eu limpava, molhava os campos de bocha e buscava o gelo para colocar na geladeira”.
Durante o mesmo ano seu pai lhe chamou para aprender a ser sapateiro, e abriu uma fábrica com dois de seus nove irmãos. Em 1949 fecharam a pequena empresa e acabou decidindo ir para São Paulo trabalhar como pespontador (fazer as costuras internas dos calçados).
Em 1952 apareceu outra oportunidade, ir vender balas com figurinhas premiadas na Bahia. Assim, junto a um amigo, partiu para o Nordeste e o negócio ia tão bem que já na segunda encomenda pediram 10 mil caixas de balas, porém tiveram que voltar para casa porque a fábrica faliu 1 ano depois.
Em 1953 de volta a São José, comprou um carro e foi taxista por 3 anos. Mas não teve jeito depois de casar-se em 1957 voltou a ser sapateiro “Era uma profissão muito procurada e valorizada porque não havia tênis e sapatos de plástico.Tudo era feito de couro, costurado a mão ou a prego”.
São José do Rio Pardo tem hoje cerca de 55 mil habitantes, na década de 70 a cidade era bem menor e tinha, segundo Roberto, cerca de 12 sapateiros, e todos trabalhavam muito, “até 10 horas por dia”.
Muitas pessoas já passaram por aquela sapataria e, entre tantas vivências, uma história o marcou “Uma vez eu estava fazendo um calçado para um cliente e enquanto tava fazendo percebi que um pé caía bem na forma e o outro não, mas eu continuei e entreguei o sapato. Depois de uns anos o moço trouxe o sapato para fazer meia sola, quando fui arrumar percebi que um pé eu tinha feito 39 e o outro 40. Imagina que eu só percebi isso quando fui consertar o sapato pra ele, e ele nem percebeu”, contou entre risos.
O ano passado Roberto ganhou o título de cidadão honorário de São José do Rio Pardo, fato que o deixou orgulhoso, por amar tanto a cidade e sua profissão.
E ele continua lá em sua pequena garagem, sempre com um sorriso estampado no rosto e um par de sapatos nas mãos.