domingo, 3 de maio de 2009

O escritor e seus personagens




O jornalista carioca, Gulherme Fiúza, reconhecido pela obra que deu origem ao filme “Meu nome não é Johnny”, descobriu nos livros uma forma de contar as histórias de personagens intensos, que não caberiam nas folhas de jornal.
Fiúza trabalhou no jornal “O Globo”, no “Jornal do Brasil” e no site “No Mínimo”, onde assinou um blog de política que foi classificado entre os dez mais lidos do país, além de ter publicado o livro “ 3.000 dias no Bunker”, sobre os bastidores do Plano Real.
Atualmente Fiúza assina um blog na revista “Época” (http://www.guilhermefiuza.com.br/) e acaba de lançar o livro “Amazônia 20º Andar”, em que relata a história da estilista, Bia Saldanha e do empresário, João Augusto Fortes que conquistaram a indústria do couro vegetal em meio a floresta amazônica.
Confira entrevista concedida por e-mail:

Como foi a sua passagem das redações de jornais para a literatura?
As reportagens na imprensa têm uma natureza de objetividade e concisão. Quis escrever meu primeiro livro pela pura vontade de contar uma história com mais liberdade, me espalhar na narrativa. Daí surgiu o "Meu nome não é Johnny", que comecei a escrever na redação do site NoMínimo. Assim passei a trabalhar fora das redações, conciliando a produção para internet com o trabalho nos livros.

Como sabe quando um livro está pronto para ser publicado?
Tenho um processo de produção peculiar, decorrente de um vício: as palavras só saem da cabeça para a tela quando a idéia está pronta. O resultado é muita ruminação, mas o texto final de meus três livros saiu de primeira, porque tenho muita dificuldade de lapidar o texto já escrito.

Como foi o processo de escrita de seu último livro? O que o incentivou a escrevê-lo?
Os protagonistas tinham sido meus entrevistados 15 anos atrás, quando apresentaram ao mundo o projeto do couro vegetal da Amazônia. No início de 2007 conversei com eles e descobri que, nesse intervalo, tinham vivido uma epopéia, na qual ganharam tudo e perderam tudo. Não tive dúvidas de que aquilo dava um livro.
Parti de cerca de 70 horas de entrevistas com personagens da história, no Rio de Janeiro e no Acre, especialmente os empresários Bia Saldanha e João Augusto Fortes, além de antropólogos, índios, seringueiros e outros participantes dessa jornada.

Quanto tempo você levou para escrevê-lo?
Cerca de um ano, entre apurar e escrever.

“Amazônia 20º Andar” é baseado em um personagem real como o João Estrella?
Sim. João Augusto Fortes e Bia Saldanha são duas almas inquietas. Idealistas, empreendedores, às vezes quase megalômanos. Todo mundo tem um pouco desse sonho de virar a vida do avesso para ver o que acontece. Mas a maioria sublima isso no cinema. Eles levaram ao pé da letra. Os dois passaram vários sufocos e conquistaram muita coisa. Dá para dizer que ganharam tudo e perderam tudo. Foram perseguidos, acusados de cegar índios e escravizar seringueiros, premiados pela ONU e consagrados nas capitais mundiais da moda. O projeto colapsou, deixou boas sementes e feridas pessoais, e a lição de que a Amazônia não será salva com slogans em Ipanema, discursos em Brasília ou relatórios de ONGs.

Você imaginava quando começou a escrever a história do João Estrella que iria chegar a fazer tanto sucesso? Como foi este processo de tornar um personagem desconhecido em alguém conhecido no país todo?
Não imaginava. Achava apenas que, pelos critérios jornalísticos, tinha uma boa história na mão. Desde o início minha preocupação era não contar apenas a história de um traficante de classe média, mas mergulhar na cabeça e na vida de um cara comum e sua fronteira entre a normalidade e o delírio. Acho que o sucesso do livro, mesmo antes do filme, já se devia a essa abordagem de certa forma prosaica, que foi mantida pela Mariza Leão e pelo Mauro Lima, produtora e diretor do filme. E há uma parcela enorme do êxito que é devida exclusivamente ao talento de Selton Mello, que encarnou João Estrella de forma impressionante

POESIA BRASILEIRA – FREDERICO BARBOSA

O interesse pela arte poética veio junto com a paixão pelo futebol, ao conhecer uma poesia de João Cabral de Melo Neto dedicada ao jogador palmeirense das décadas de 60 e 70, Ademir da Guia. Este foi o começo da carreira de um dos maiores poetas brasileiros contemporâneos, o pernambucano Frederico Barbosa.
Apesar do vínculo com a poesia, Frederico ingressou aos 17 anos no curso de graduação do Instituto de Física da USP (Universidade de São Paulo) e logo percebeu que estava no caminho errado. “Eu continuava a escrever, mesmo durante as maçantes aulas de Física, Química e Matemática”. Seus primeiros poemas chamaram a atenção de críticos como Boris Schnaiderman e Haroldo de Campos, que o incentivaram a trocar a ciência pela poesia.Escrever para Frederico é um processo caótico, mas ao mesmo tempo meticuloso. “Desconfio de todas as mistificações da poesia e do papel do poeta, como a ideia de que o poeta é mais sensível ou que escrever poesia é um ‘dom artístico’. A poesia é a palavra/impacto, é uma composição construtora de efeitos. É a linguagem organizada da forma mais meticulosa possível para fazer sentir, portanto, fazer um poema é escrever usando todos os recursos imagináveis. O maior efeito que um poeta pode produzir não é dizer ao leitor o que ele (poeta) sente, mas é fazer o leitor sentir o mesmo ao ler o poema”.
Cada livro, segundo o autor, nunca está pronto. “Considera-se a edição definitiva de um livro a última anterior à morte do autor. Todo livro pode ser mudado e melhorado ‘ad infinitum’”
Muitos críticos o consideram um artista do Concretismo, pela repetição de palavras em seus poemas, porém, apesar de considerar a poesia concreta como a “maior revolução na poesia mundial ocorrida na segunda metade do século XX, além de ser a única proposta estética surgida no Brasil e único momento em que o país esteve na vanguarda da arte”, o autor não se sente parte de nenhuma linha “o que de certo torna o meu caminho mais difícil e seguramente mais solitário”.
Seu trabalho é influenciado de várias maneiras e ao ser questionado sobre um poeta marcante, a resposta é incisiva: Augusto de Campos, “o maior e mais importante poeta vivo não só da língua portuguesa, mas de todo o mundo”.
Frederico ganhou dois prêmios Jabuti, um pelo livro “Nada Feito Nada” de 1993 e outro por “Brasibraseiro” de 2004, escrito em parceria com Antonio Risério.
Atualmente o poeta é diretor executivo da Poiesis – Organização Social de Cultura, que administra a Casa das Rosas, o Museu da Língua Portuguesa, a Casa Guilherme de Almeida e os projetos São Paulo, um Estado e Leitores e PraLer – Prazeres da Leitura, em São Paulo.

"Objetos de bordo
atados à boca
balançam e dançam
em baques e sovas

na boça no cabo
atados à proa
balançam e dançam
sem berros na forca

em terras estranhas
são negros boçais
estúpidos rudes
ignorantes banais

mas longe da boca
de servos à força
balançam e dançam
seu banzo blues troça

resistem no samba
no jazz capoeira
balançam e dançam
batuque rasteira

inventam a bossa
vingança da boça".

(poesia “Da Boca à Bossa” do livro "Brasibraseiro" )