terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Seminário Avançado promovido pelo CELACC contou com a presença de Laymert Garcia dos Santos


No último sábado (11), o sociólogo e jornalista Laymert Garcia dos Santos participou de um seminário promovido pelo CELACC (Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação). O evento aconteceu no Auditório Freitas Nobre na ECA (Escola de Comunicação e Artes), foi mediado pelo prof. Dr. Silas Nogueira e contou com a participação de alunos da USP e de outras universidades
O conteúdo do seminário foi baseado nos temas apresentados durante o Fórum Internacional Geopolítica da Cultura e da Tecnologia, realizado entre 11 e 13 de novembro de 2010 na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.
O conceito central do Fórum, que se refletiu no Seminário Avançado realizado pelo Celacc, é a possibilidade de o Brasil efetivar uma estratégia de autonomia relativa com relação ao centro hegemônico, por meio do reconhecimento da cultura do povo brasileiro e a consideração de seu potencial, que poderia ser resumido em sua diversidade e capacidade de transformar adversidade em positividade. Laymert salientou ainda que esse potencial encontrado na cultura é mais reconhecido pela mídia estrangeira do que pela nacional.
Segundo o professor, o povo brasileiro tem um enorme potencial cultural pela sua capacidade de criação mesmo com as dificuldades de acesso à informação e à cultura (cinema, teatro). No entanto, ao tratar da cultura indígena afirmou que há um processo de aculturação que o brasileiro apóia. “Populações estão desaparecendo na nossa frente, sem nos darmos conta da importância disso”, afirmou.
Laymert falou sobre suas experiências com comunidades indígenas e as dificuldades em se compreender a riqueza e a vivacidade da cultura das tribos, em especial suas relações com o próprio corpo e com a natureza, que de acordo com o professor se dão de formas muito mais sofisticadas e complexas que as relações do homem branco.
Para enfatizar o paradoxo cultural brasileiro, o professor ponderou sobre os estudos gregos sobre os mitos, na constante busca dos pesquisadores da Grécia em recuperar e valorizar o conhecimento ancestral. “Nós somos 230 povos míticos vivos e não fazemos nada, temos uma enorme riqueza e não a conhecemos”.
“O mundo todo está olhando para nós, o Brasil entrou para o mapa. Estamos no momento histórico de saber a que viemos, de valorização do potencial nacional”, com tal afirmação, o sociólogo evidenciou que apesar dos avanços nas relações diplomáticas do país, na exportação de arte e dos progressos nos estudos de biotecnologia que dependem em grande parte da diversidade em bens naturais presentes em terras brasileiras, não avançaremos nas relações com os países ricos e não construiremos nenhuma autonomia se não diminuirmos os níveis de exclusão atuais
O sociólogo, que já foi membro da diretoria da Bienal de Arte de São Paulo, tratou ainda da importância da pichação e de toda a concepção política desta arte que hoje é exportada do Brasil para boa parte do mundo, apesar de ser desvalorizada pelos próprios brasileiros. Afirmou também que as relações com a arte mudaram, que a Europa deixou de ser referência e que novas concepções nasceram com a globalização, como a criação coletiva da arte para além da compreensão de nacionalismo ratificada nos anos de 1950.
Laymert criticou a grande imprensa brasileira, em especial a cobertura caluniosa sobre as relações diplomáticas que o Brasil construiu nos últimos anos. “Nossa elite prefere ser subordinada”.
 Ainda afirmou que a mídia tem um enorme papel na consolidação da falsa democracia que vivemos no ocidente e que é necessário que compreendamos o poder e a capacidade da internet na reconstrução das relações na esfera pública, salientando o Wikileaks como instrumento de questionamento da circulação de informações no mundo.
O professor se mostrou a favor da criação de um bloco na América do Sul, que consiga conceber uma autonomia relativa para se proteger da hegemonia chinesa. “Estamos entrando na segunda globalização, onde as cartas estão sendo redistribuídas”
Finalizando o seminário, Laymert respondeu questionamentos do público sobre as relações entre os movimentos sociais e a cultura, debateu a desvalorização da cultura popular dentro das universidades e a falência da política neoliberal dos Estados Unidos.

(Colaboração: Bruna Lazarini)