domingo, 3 de fevereiro de 2008

Novos olhares sobre o Afeganistão


Sete anos se passaram após o fatídico dia 11 de setembro e, provavelmente em todos estes anos, não passou um dia sem que os jornais noticiassem as guerras no Oriente Médio. O mundo todo voltou os olhos sobre os países do Oriente quando a maior potência mundial tomou a decisão de intervir na política afegã.
A história do Afeganistão é marcada por guerras, o país se constitui por uma miscelânea de grupos étnicos que lutam por seus ideais políticos e crenças, na maioria das vezes, de maneira violenta. Além de suas lutas internas os países mais poderosos do mundo já travaram lutas envolvendo os afegãos, em 1979 o país foi invadido pela União Soviética, o que causou um reviravolta política e militar.
Após a retirada dos soviéticos houve uma violenta guerra civil que foi concluída com a apropriação das forças talebãs, que são islâmicos extremistas e cultivam leis aparentemente absurdas como a proibição da leitura de livros fora o Alcorão, mulheres não podem sair de casa sem a companhia de um homem e devem usar a burca, entre outros.
Em 2001, após o governo Talebã se recusar a entregar Osama Bin Laden, os Estados Unidos iniciaram sua guerra, aparentemente contra o terrorismo.
Ouvimos tanto sobre as diversas guerras e ocupações que se alastram no Oriente Médio que as informações se banalizam, nos sentimos distantes de uma guerra que nem sempre compreendemos.
O escritor afegão Khaled Hosseini nos ajuda a entender a complexidade de sua cultura com dois romances sobre personagens que sofreram as conseqüências da guerra e, mesmo assim, conseguiram seguir em frente com suas vidas. Os livros são o reconhecido “O Caçador de Pipas”, que já vendeu mais de oito milhões de cópias no mundo e “A Cidade do Sol”, lançado em agosto de 2007 no Brasil.

O universo masculino
“O Caçador de Pipas” é uma história narrada por homens que vivem em uma sociedade onde é necessário que assumam um papel de austeridade.
A história inicia-se nos anos 70, em um Afeganistão bem diferente do que vemos hoje. A trama é contada por Amir, filho de um homem rico e respeitado na comunidade afegã.
Amir é um menino tímido que passa a infância em seu quarto escrevendo e fugindo de encrencas. Ele tem um amigo fiel que o protege e o idolatra, Hassan, que além de seu amigo é criado da casa de seu pai.
Hassan se divide entre os trabalhos domésticos e os cuidados com o amigo, os dois mantém uma forte amizade, porém, a maneira como o pai trata Hassan incomoda muito Amir, ele se sente rejeitado por não ser o que o pai esperava que fosse.
O menino não consegue ajudar Hassan quando este está em perigo e com vergonha de se mostrar covarde, toma atitudes que o distanciam do amigo.
Algum tempo depois, Hassan foge da guerra com seu pai para os Estados Unidos e lá constrói uma nova vida, continua seus estudos, casa-se e lança um livro. Aparentemente seus vínculos com o Afeganistão estão rompidos, no entanto, ele tem uma oportunidade de voltar ao seu país e enfrentar os erros do passado.
A obra recentemente, virou filme e já está nos cinemas do país. O filme buscou ser fiel ao livro, o que não é uma tarefa simples, já que este é extremamente instigante e é reconhecido como um dos maiores sucessos da literatura mundial nos últimos tempos.
A direção é de Marc Forster (Em Busca da Terra do Nunca), que sabiamente o produziu com atores afegãos, falando em sua língua natal. Forster optou por contar a história sem grandes preocupações com jogos de câmera, porém, mostrando todos os fatos mais importantes narrados na versão literária.
Apesar de todo o esforço de aproximação da história com o roteiro, o filme deixa a desejar quando resume excessivamente a infância dos personagens principais e a relação de Amir com seu pai.

Mulheres sem rosto
Em seu segundo livro “A Cidade do Sol”, Hosseini se aproxima do universo das mulheres afegãs. São duas histórias de lugares e épocas distintas que se encontram em um momento de sofrimento.
O livro começa relatando a história de Mariam, uma criança que vivia em um casebre afastado da cidade com sua mãe. Ela é filha de um relacionamento proibido e seu pai, Jalil, faz visitas regulares para ela, no entanto, a mantém longe dos olhos da sociedade da cidade onde vive, Cabul.
A vida de Mariam é marcada por perdas e sofrimento, ela passa a vida deixando seus desejos de lado em nome do opressor mundo masculino afegão.
Quando Mariam faz 33 anos sua história se encontra com a de Laila, uma menina de 14 anos, que até aquele momento tinha uma vida feliz. A guerra une estas duas mulheres e as faz viver sobre o mesmo teto.
As duas obras são enriquecidas com personagens secundários que colaboram para a compreensão da realidade afegã, assim o autor mantém a preocupação com a cronologia e com o relato dos acontecimentos políticos e sociais.
Hosseini tem uma grande capacidade de aproximar o leitor de seus personagens, a sensação que se tem quando o livro acaba é uma mistura de alegria e tristeza, alegria por ter estado em companhia de “pessoas” com grande força de superação que ensinam a valorizar todas as pequenas coisas da vida e tristeza, porque o livro acabou e agora é preciso buscar algo novo na estante.