quinta-feira, 10 de maio de 2007

Visita do papa

A imagem acima está no site da Folha de São Paulo hoje às 17:16h, com a seguinte legenda: Trabalhador faz ajustes na cadeira que o papa usará em evento no Pacaembu; veja mais fotos

Manhã de quinta-feira, 10 de maio de 2007, Ribeirão Preto, Brasil.
Fui até a sala liguei a TV no jornal da Globo News, resultado: 25 minutos vendo tudo sobre a chegada do papa, onde ele vai ficar, o que ele vai falar, quantos minutos ele vai ficar em cada lugar....
Desliguei a TV, busquei o jornal , manchete de capa "Folha de São Paulo" acompanhada de uma foto enorme do papa pisando em solo brasileiro "Papa apóia excomunhão dos políticos pró-aborto". Capa do "O Estado de São Paulo"- "Bento XVI condena aborto e faz defesa da família tradicional" foto principal: Bento XVI em seu papamóvel.
Desisti de ler as matérias principais e fui ler Ilustrada, ufa! Pelo menos nesse caderno não tinha nada do papa. Voltei a ligar a TV na hora do almoço: EPTV- BentoXVI, Band- Bento XVI, Globo News- Saiba por onde o papa vai passar em São Paulo, Cultura- Cocoricó...ufa! Assisti um pouco e vim para o estágio pensando...
O mundo parou? Hoje não aconteceu nada, além da chegada papa?
Não tenho nada contra a vinda dele, mas será que não há um exagero?
Quanto dinheiro se gastou para armar todo esse "circo" ao redor dele e quem está pagando? O catolicismo é a religião oficial do Brasil, ou somos um país laico? A cidade de São Paulo parou por causa de sua chegada, a maioria das escolas não abriram as portas...precisava?
A fé virou motivo de espetáculo, ou sempre foi?
A proposta da aula de Iniciação ao Jornalismo era transformar algo que aconteceu dentro da nossa rotina em matéria jornalística.
Eu exagerei um pouco nos fatos, mas o exercício foi muito bom.

Mulher ofende morador de rua em Poços de Caldas

Na tarde de ontem (8), por volta das 19h, a estudante A.P., 21 anos ofendeu injustamente um morador de rua conhecido como Lavador na cidade turística de Poços de Caldas, interior de Minas Gerais e causou tumulto em uma das avenidas mais movimentadas da cidade.
A estudante havia estacionado seu carro na Av. Presidente Kenedy na parte da manhã e foi fazer compras junto com seu namorado.“Quando cheguei no começo da avenida vi um homem mexendo no meu carro, fiquei desesperada e saí gritando para impedir”, relatou A.P.
No momento em que ela começou a gritar, muitas pessoas que passavam pela avenida foram em direção ao homem, um deles chegou a bater em suas costas.“Eu comecei a falar que não tava fazendo nada, mas eles não me ouviam, e a moça lá continuava a gritar que nem uma louca”, disse Lavador.
A confusão chamou atenção dos guardas municipais, que já conheciam o morador de rua e sabiam que ele sobrevivia de lavar carros na rua.
Segundo o guarda Márcio Gouvêa , isto já havia acontecido uma vez “ele sempre fica lá lavando os carros, sem pedir para as pessoas, aí quando elas voltam ele pede um trocado pelo serviço”.
A.P. pediu desculpas ao morador e a todos que se envolveram no caso, “Fiquei com vergonha disso tudo, principalmente do morador de rua”.
Este caso leva a reflexão sobre uma pesquisa sobre do que e porque as pessoas têm medo, divulgada no dia 1º de maio deste ano pelo jornal “Folha de São Paulo” .A pesquisa demonstrou que as pessoas que mais temem a violência são àquelas que não tem relação direta com ela, assim dentre os entrevistados pela pesquisa , os que disseram ter mais medo são aqueles que vivem nos bairros nobres, enquanto as pessoas que vivem nos bairros com maiores índices de violência declararam que aprenderam a lidar com os problemas que já fazem parte do cotidiano.
A estudante nunca foi assaltada, mora em uma pequena cidade do interior de São Paulo- São José do Rio Pardo, onde os índices de atos de violência são baixíssimos em comparação a outras cidades do estado.“O medo nos casos dos que nunca tiveram momentos de real perigo procede do temor ao que desconhece”, explicou a psicóloga Andréa Junqueira.
Questionada sobre o caso que envolveu A.P. a psicóloga disse que no caso dela a imagem de que um morador de rua oferece perigo é forte no seu subconsciente , então sua primeira reação não foi verificar o que estava acontecendo, mas sim acusá-lo de estar roubando seu veículo.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Transpor Gerações

Uma pequena garagem, lotada de sapatos , um senhor sentado ao fundo trabalhando. A maioria dos que passam pela rua, uma subida de paralelepípedos, pára, dá um bom dia e conversa por alguns minutos, alguns deixam sapatos outros só deixam seus cumprimentos.Esta é uma cena pouco comum no cotidiano das grandes cidades, mas corriqueira para os habitantes de São José do Rio Pardo, interior de São Paulo.
Dentro da garagem , sentado está Roberto Possebon, que aos 80 anos de idade quebra todo dia a fronteira do tempo e mantém, com sua habilidosas mãos, uma profissão que a modernidade está deixando para trás. Há 68 anos ele acorda, toma seu café da manhã e vai em direção a sua grande paixão: fabricar e arrumar sapatos.
“Eu trabalhei muitos anos cobrindo sapato para noiva, era chique levar no sapateiro. Hoje é tudo colado, tudo de plástico”.
Apesar de ser uma profissão em extinção, Roberto mantém uma clientela fiel, onde os vínculos ultrapassam facilmente a relação comercial e transformam-se em laços de amizade ao primeiro sorriso que ele abre.
A sapataria é uma forma de ganhar seu sustento, ocupar o tempo e principalmente manter “anos de amizade com várias pessoas queridas”. Quando acaba o expediente da sapataria, logo, logo alguém toca a campanhia e a conversa é interrompida com um “Desculpa incomodar, mas o seu Roberto ta aí?” , e apesar do cansaço de um dia de trabalho, sai para atender mais um cliente-amigo.
Quem sempre passou por aquela rua sabe que apesar de todos esses anos, dos filhos terem saído de casa, de sua esposa ter falecido, o carro ter sido vendido e a casa ter ficado com a pintura desbotada, tudo na sapataria se manteve praticamente igual , o velho balcão, as prateleiras lotadas de sapatos e bolsas, e a companheira mais fiel, a sua máquina de costura.
Filho de família simples de imigrantes italianos, Roberto estudou até o 4º ano do 1º grau em São José do Rio Pardo. Não terminou os estudos porque para continuar teria que fazer um exame de admissão e a família não tinha dinheiro para pagar. “Para meu pai o importante era trabalhar”.
Em 1938 conseguiu emprego , primeiro em um açougue e depois em um bar “Eu penava muito, levantava às 5 horas e fazia as entregas das encomendas, depois ajudava como auxiliar. No bar eu limpava, molhava os campos de bocha e buscava o gelo para colocar na geladeira”.
Durante o mesmo ano seu pai lhe chamou para aprender a ser sapateiro, e abriu uma fábrica com dois de seus nove irmãos. Em 1949 fecharam a pequena empresa e acabou decidindo ir para São Paulo trabalhar como pespontador (fazer as costuras internas dos calçados).
Em 1952 apareceu outra oportunidade, ir vender balas com figurinhas premiadas na Bahia. Assim, junto a um amigo, partiu para o Nordeste e o negócio ia tão bem que já na segunda encomenda pediram 10 mil caixas de balas, porém tiveram que voltar para casa porque a fábrica faliu 1 ano depois.
Em 1953 de volta a São José, comprou um carro e foi taxista por 3 anos. Mas não teve jeito depois de casar-se em 1957 voltou a ser sapateiro “Era uma profissão muito procurada e valorizada porque não havia tênis e sapatos de plástico.Tudo era feito de couro, costurado a mão ou a prego”.
São José do Rio Pardo tem hoje cerca de 55 mil habitantes, na década de 70 a cidade era bem menor e tinha, segundo Roberto, cerca de 12 sapateiros, e todos trabalhavam muito, “até 10 horas por dia”.
Muitas pessoas já passaram por aquela sapataria e, entre tantas vivências, uma história o marcou “Uma vez eu estava fazendo um calçado para um cliente e enquanto tava fazendo percebi que um pé caía bem na forma e o outro não, mas eu continuei e entreguei o sapato. Depois de uns anos o moço trouxe o sapato para fazer meia sola, quando fui arrumar percebi que um pé eu tinha feito 39 e o outro 40. Imagina que eu só percebi isso quando fui consertar o sapato pra ele, e ele nem percebeu”, contou entre risos.
O ano passado Roberto ganhou o título de cidadão honorário de São José do Rio Pardo, fato que o deixou orgulhoso, por amar tanto a cidade e sua profissão.
E ele continua lá em sua pequena garagem, sempre com um sorriso estampado no rosto e um par de sapatos nas mãos.