terça-feira, 17 de abril de 2007

Uma campanha que vale a pena :)

De 23 a 29 de abril, acontecerá a Semana Desligue a TV. A proposta é que todos os cidadãos fiquem uma semana sem ligar a televisão, para depois religá-la com mais critério e dando mais valor a importância desse meio.
Esta campanha pode parecer infantil sobre um olhar superficial, porém, envolve uma rediscussão do papel da televisão em nossas vidas, afinal, somos o país com a maior média de horas na frente da TV por dia: 4 horas e 51 minutos, segundo a coordenadoria do projeto Desligue a TV.
A Semana Mundial Sem Televisão acontece mundialmente na mesma data. A idéia foi concebida em 1994, pela Ong norte americana TV-Turnoff Network, que busca formas de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Os EUA possui também uma das maiores médias de horas de televisão por dia, 2 horas e 8 minutos.
No ano passado mais de 7,6 milhões de pessoas ao redor do mundo desligaram a TV durante essa semana, e optaram por realizar outras atividades. Esse é o grande ponto da campanha, desligar a TV para buscar melhores formas de ocupar o tempo e incentivar os familiares e amigos a também procurarem alternativas.
Essa discussão é muito válida, especialmente no Brasil, em que para a maioria da população a televisão é o principal meio de entretenimento , informação e formação.
O slogan da campanha é “Seja o ator! Não seja o espectador!”, pretende-se assim incentivar a população a discutir formas saudáveis de usar o tempo livre, procurando maneiras de colaborar mais com a sociedade, do que ficar por horas sentado na frente da televisão e assumir a posição apenas de espectador.
Esse assunto remete também à criação de formas alternativas de comunicação que expressem o que é de real interesse da população e, superem a grande mídia, em que poucos colocam suas idéias para a maioria.
O ideal de vida transmitido pela televisão é, em grande parte das vezes, a cultura urbana regida pelo consumismo. Realidade essa que ao contrário do que mostram os programas televisivos é a cultura de uma minoria.
Ao realizar um trabalho de pesquisa com o assentamento II , MST Sumaré, durante o ano passado, pude perceber o quanto a cultura urbana influi no meio rural .Os mais velhos que participaram da luta pela conquista da terra, tem muito medo de que o ideal do assentamento acabe se perdendo, devido à influência direta dos valores urbanos e a desvalorização da cultura rural.
Uma cultura não deve suprimir a outra, mas sim buscar caminhos para a troca, para uma convivência harmoniosa, e nessa busca os meios de comunicação tem importância fundamental, porém, ela não é realizada, pois, o que se vê é a repetição exaustiva dos mesmos modelos de vida, como se todo brasileiro vivesse como os paulistanos e cariocas de classe média-alta.
È direito de todo cidadão ter espaço para expressar suas idéias, e dentro de seus pequenos espaços de conivência discutir os interesses e problemas da população.
Nesse contexto de mídia alternativa, é importante que nós como leitores apoiemos projetos como jornais de bairro, sites de mídia alternativa, fanzines, rádios livres e tantas outras formas de expressão.
Acesse o site
http://www.desligueatv.org.br/ .Colabore com a campanha, desligue a sua TV entre os dia 23 e 29 de abril e busque formas alternativas de se comunicar.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Jornalismo de Guerra

Em 31 de agosto de 1946, foi publicada pela revista The New Yorker uma das mais marcantes reportagens da história mundial.
O jornalista era John Hersey, o tema a bomba de Hiroshima. Foram 300 mil exemplares dedicados exclusivamente ao assunto, esgotados em pouquíssimo tempo. Existem relatos de que foram vendidas cópias da revista por 20 dólares, sendo que o preço de banca era 15 centavos e que Albert Einstein chegou a pedir mil exemplares, mas não foi atendido.
Hersey acompanhou a vida de 6 pessoas sobreviventes à bomba, e através das experiências dessas pessoas diante da catástrofe, relatou de forma jornalística como a cidade de Hiroshima passou pelo choque, em que morreram 100 mil pessoas, deixando inúmeros feridos.
Poucas reportagens conseguiram transpor o limite do tempo e continuarem a ser lidas e discutidas anos depois da publicação. A notícia superou de tal forma a fronteira temporal que 40 anos depois foi publicado o livro Hiroshima, em que Hersey relata a sua volta a cidade japonesa para reencontrar os personagens de sua reportagem e, entender as seqüelas da bomba na vida dessas pessoas tantos anos depois.
John Hersey é considerado o pai do jornalismo literário, uma forma alternativa de se fazer jornalismo, em que a notícia é tratada de forma abrangente, buscando o viés contrário ao da grande mídia, desvinculada das práticas recorrentes no jornalismo diário em que a maior preocupação é com a velocidade de divulgação das informações.
O jornalista teve a preocupação de tratar a realidade de forma sóbria, tomando uma postura de distância das 6 vidas retratadas, porém o livro comove e envolve o leitor ao longo de suas 172 páginas.
A reportagem é um marco na história por mostrar uma das mais importantes funções do jornalismo que é questionar os fatos e buscar uma leitura crítica. Depois da publicação várias outras coberturas questionadoras foram publicadas.
Um exemplo recente é do jornalista Seymor Hersh, também da The New Yorker, que em 2003 publicou as imagens de soldados americanos humilhando prisioneiros de guerra muçulmanos, e provou que tais fotos não eram retratos de fatos isolados, como alegou o governo estadunidense, mas sim estratégia de guerra.
Comecei a ler Hiroshima pensando em compreender melhor o jornalismo literário, e acabei emocionada com a luta daquelas pessoas, de como apesar de terem sido alvo direto da crueldade da guerra e terem sofrido todo tipo de seqüelas, do físico ao psicológico, elas resistiram e reconstruíram suas vidas e sua cidade.
O fato de que outros países pouco se mobilizaram com o sofrimento dos japoneses, e de que continuaram realizando testes nucleares mesmo após as explosões em Hiroshima e Nagasaki , nos faz refletir sobre quantas vidas já foram e ainda são perdidas somente para se provar poder.
Mais impressionante ainda é saber que guerras ainda estão acontecendo e, que os EUA através da sua força militar e da violência direta, continuam mantendo sua hegemonia econômica de mais de 60 anos.
Nos acostumamos a abrir o jornal e depararmo-nos com as reportagens de guerra, fotos de pessoas ensangüentadas não nos tocam mais. Talvez se a reportagem de Hersey tivesse sido escrita agora, já não comoveria a sociedade civil como sensibilizou nos anos 40. A nossa postura frente a guerra não só internacional, mas principalmente em relação a guerra cotidiana, é colocada em xeque ao terminarmos a leitura de “Hiroshima”.

terça-feira, 3 de abril de 2007

Palavras da Ministra

A discussão colocada em torno da frase da Ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial Matilde Ribeiro , demonstra o quanto a falta de contextualização na mídia pode criar discussões muitas vezes infundadas.
Quem se informou apenas pela revista Veja ou pela Folha de São Paulo provavelmente pouco compreendeu, afinal que jornalismo é esse que opina antes mesmo de informar?
Após ser questionada sobre o racismo de negro contra branco, a ministra falou que acha que é natural que exista, e aqui está parte da entrevista, ela na íntegra está no site:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/03/070326_ministramatildedb.shtml
Espero que todos possam ler, e aí sim formarem sua opinião sobre o assunto....Para os que se interessarem ainda mais, em novembro do ano passado a Caros Amigos dedicou a sua entrevista principal a Marisa,acredito que seja importante também para conhecer o seu trabalho e do ministério.

BBC Brasil - E em quanto tempo a senhora acha que poderemos ter uma situação de igualdade, onde as pessoas sejam julgadas pelo mérito, independente da raça?

Matilde Ribeiro - O Brasil tem 507 anos. Há quase 120 anos, em 1888, foi assinado um decreto como este que o presidente assinou dizendo que não havia mais escravidão no Brasil. Só que não houve uma seqüência. Hoje, o fato de os negros e os indígenas serem os mais pobres entre os pobres é resultado de um descaso histórico. Então fica muito difícil hoje afirmar quanto tempo.

BBC Brasil - Como o Brasil se coloca no contexto internacional? O Brasil gosta de pensar que não tem discriminação e gosta de se citar como exemplo de integração. É assim que a senhora vê a situação?

Matilde Ribeiro - É o seguinte: chegaram os europeus numa terra de índios, aí chegaram os africanos que não escolheram estar aqui, foram capturados e chegaram aqui como coisa. Os indígenas e os negros não eram os donos das armas, não eram os donos das leis, não eram os donos dos bens de consumo. A forma que eles encontraram para sobreviver não foi pelo conflito explícito. No Brasil, o racismo não se dá por lei, como foi na África do Sul. Isso nos levou a uma mistura. Aparentemente todos podem usufruir de tudo, mas na prática há lugares onde os negros não vão. Há um debate se aqui a questão é racial ou social. Eu diria que é as duas coisas.

BBC Brasil - E no Brasil tem racismo também de negro contra branco, como nos Estados Unidos?

Matilde Ribeiro - Eu acho natural que tenha. Mas não é na mesma dimensão que nos Estados Unidos. Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando isso. Não acho que seja uma coisa boa. Mas é natural que aconteça, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou.