sexta-feira, 30 de outubro de 2009

“Abrazos Rotos” – Almodóvar


Falta Almodóvar no novo filme de Almodóvar. A frase pode parecer sem sentido, mas o nome do diretor já é um adjetivo que descreve filmes surpreendentes, personagens excêntricos, historias dramáticas em cenários extremamente coloridos.
“Abrazos Rotos” ( Abraços Partidos) foi lançado na Europa em outubro e ainda não chegou ao Brasil. O diretor traz nos papéis principais suas atrizes favoritas: Penélope Cruz e Blanca Portilla e o elenco conta também com Lluis Homar e Rossy de Palma.
O filme segundo o que declarou Almodóvar no lançamento é uma declaração de seu amor pelo cinema. O roteiro é rico em metalinguagem, já que relata a história de um diretor e roterista de cinema no processo de produção de um filme.
A história não é linear, isto é bem Almodóvar, e avança e volta no tempo várias vezes, mas sem que o espectador se sinta perdido. O filme começa com um diretor de cinema cego, chamado Harry Caine tendo um caso com uma mulher bem mais jovem, que lê o jornal para Caine e entre as notícias diz que o empresário Ernesto Martel morreu, Caine fica claramente assustado com a informação.
O nome de Martel e o passado de Caine e de sua assistente Judit é o fio da história, que se desenrola com personagens gananciosos e com relações problemáticas. O tema familiar e a falta da presença paterna que são presenças constantes nos filmes de Almodóvar também estão neste filme, porém, de maneira menos intensa que em suas obras anteriores.


A melhor parte da obra é a releitura que o próprio diretor faz de “Mulheres à beira de um ataque de nervos”, para quem gostou deste filme uma grande oportunidade de rever cenas com outras atrizes interpretando.
O grande problema está na expectativa que um filme de Almodóvar causa, o filme é bom, mas o desfecho da trama foca-se apenas na personagem Judit, que relaciona todos os fatos sentada em uma mesa de bar e o pior é que algumas das revelações são previsíveis.
Falta o imprevisível, falta cor e falta drama, mas ainda assim é um filme que vale a pena ser visto.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O “Iê Iê Iê” de Arnaldo Antunes




Sabe quando você come algo, tá gostoso, mas hum....tá faltando alguma coisa. Assim foi a sensação que tive ao sair do novo show de Arnaldo Antunes: “Iê Iê Iê”.
O CD que saiu do forno em setembro, teve a produção de Fernando Catatau, que também  é criador de uma banda que vale muito a pena escutar: “Cidadão Instigado”, e contou com o apoio da Natura, o que rende shows a preços populares pelo Brasil a fora.
Se pudesse falar somente da produção a nota seria dez, o cenário é lindo e simples composto de inúmeras camisetas coloridas, a iluminação envolve o público e acompanha incrivelmente bem o estilo do show, os figurinos são divertidos e Arnaldo está dançando freneticamente.
O problema são as músicas, Antunes buscou resgatar o inicio de sua carreira, com sonoridades mais simples e letras menos elaboradas. O show começa bem, mas vai ficando cansativo já que o ritmo não muda muito, uma espécie de tecnobrega e jovem guarda, um tanto repetitivo.
Além das músicas novas, o compositor faz releituras de velhos sucessos seus como “Consumado”, “Essa Mulher” e “Socorro”. E interpreta de maneira inovadora músicas conhecidas do grande público como “Quando você decidir”de Odair José , “Ela é Americana” de Dorgival Dantas e “Vou Festejar” , de Jorge Aragão.
Como letrista, Antunes sempre é incrível, destaque para a romântica e irônica “Sua Menina” (“Você trata muito mal sua princesa/um dia ela vai virar a mesa/seu olhar só vê o seu umbigo/ um dia ela vai ficar comigo”) e para a divertida “Invejoso” (“Invejoso querer o que é dos outros é o seu gozo/ e fica remoendo até o osso mas sua fruta só lhe dá caroço”).
O show vale para dançar engraçadinho e dar uma risadas, mas já fico no aguardo da próxima experiência musical de Arnaldo.


( Este texto está também no site http://www.cozinhasonora.com.br/ , um novo espaço para debater música na rede. Visite!)

sábado, 24 de outubro de 2009

Excentricidade e sensibilidade


As maneiras de lidar com a morte, este é o tema principal do filme japonês “A Partida” (Okuibito), que recebeu o Oscar deste ano como melhor filme estrangeiro e de diversos prêmios no Japão, China, Canadá e Estados Unidos.
O roteiro narra a história de um violoncelista (Daigo) que ao perder seu emprego em uma Orquestra que não recebe apoio, acaba encontrando trabalho em uma empresa funerária, porém, os funerais japoneses são ritualísticos e o cadáver além de ser maquiado, é lavado e vestido de uma maneira toda especial antes de ser cremado.
A atividade do funcionário que prepara o “nokanshi” é desprezada pela sociedade japonesa, e o músico esconde o novo trabalho de sua mulher Mika, quando ela descobre não aceita o emprego de seu marido e sai de casa. Daigo apesar da solidão, redescobre a paixão pela vida e percebe o quanto é preciso valorizar as pessoas e cada momento da existência.
A filmagem é de uma delicadeza impressionante, os objetos, os olhares e pequenos gestos ajudam a contar esta história que leva a muitas reflexões. É uma ótima oportunidade de conhecer um pouco da cultura japonesa, rica em simbolismos.
Ao assistir, as lágrimas se misturam a sorrisos, já que existem momentos em que os exageros nas atuações se tornam engraçados e dá para perceber porque os desenhos de mangá fazem tantas caretas.
Daigo encontra pessoas, famílias, religiões, histórias e encontra a tranquilidade quando reencontra seu pai, que não via desde os seis anos.
A relação entre o antigo e o moderno fica clara quando a orquestra é desvalorizada e quando a casa de banhos, que Daigo frequenta desde pequeno está ameaçada de fechar. É o novo Japão, das cidades grandes, das tecnologias convivendo com o Japão milenar, rico em costumes tradicionais.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A nova produção de Tarantino-“Bastardos e Inglórios”


Assistir Tarantino sempre é uma experiência surpreendente, mesmo que alguns não gostem de seu estilo extremamente irônico e sanguinário, é inevitável aceitar que o diretor é genial em reunir diferentes linguagens.
“Bastardos e Inglórios”, lançado no Brasil neste mês, se passa na França durante a ocupação dos nazistas. A história começa com a caça aos judeus pelo coronel Hans Landa e o assassinato da família Dreyfus, cuja única sobrevivente é Shosana, uma menina que consegue fugir e assume uma identidade falsa para sobreviver aos nazistas e torna-se dona de um cinema.
O filme até aí parece apenas mais uma obra sobre o nazismo, até que entra em cena o bando conhecido como “Bastardos”, que tem como objetivo matar todos os nazistas e não somente com tiros, mas também com tacos de beisebol, bastões,facas e bombas relógio. O bando é comandado pelo personagem de Brad Pitt que traz uma interpretação bem parecida com o cigano Mickey de “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes”.
Shosana reencontra o coronel que matou sua família por acaso, quando seu cinema é escolhido para o lançamento de um filme de Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista. Todos os membros do alto escalão do movimento nazista estavam presente no lançamento e tanto Shosana quanto o bando tinham um plano para acabar com a festa.
Durante as duas horas e meia de projeção é impossível ficar mais que cinco minutos sem dar risada, os diálogos são ricos em ironias, especialmente no personagem do coronel Hans e o diretor usa e abusa da violência, que ganha contornos de humor negro, mas como só Tarantino sabe fazer.
Para quem gosta do diretor fica como dica o curta “Tarantino’s Mind”, em que Selton Mello e Seu Jorge criam uma teoria que vincula uns aos outros os principais personagens de Tarantino. O curta está disponível http://video.google.com/videoplay?docid=1511515986562993804#

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Música da Boa- Kiko Dinucci e Bando AfroMacarrônico



Se você está a procura de um novo som e nunca ouviu falar em Kiko Dinucci e o Bando AfroMacarrônico, ai vai a dica. O último álbum “Pastiche Nagô”, lançado simultaneamente no Brasil e Estados Unidos, ficou na lista dos 25 melhores discos de 2009 da Revista “RollingStone” e reúne uma mistura incrível de ritmos africanos e música latino-americana.
O paulista Kiko Dinucci é multiinstrumentista, compositor, produtor de vídeo, roteirista e artista plástico, dentre seus trabalhos está o longa “Carandiru” de Hector Babenco. A cultura popular e afro-brasileira que acompanha sua obra musical também está presente nas artes gráficas.
O Bando começou em 2001 e sempre buscou expressar a miscigenação da cultura brasileira, tendo como base o samba, já que umas principais influências de Dinucci é Adoniran Barbosa. “Adoniran é universal, ao mesmo tempo em que ele fala muito do pedaço de chão nosso, ele ta falando do mundo, do ser humano”, definiu o músico em entrevista ao programa “Metrópolis” em janeiro deste ano.
Os músicos já tocaram na Alemanha, Polônia e Itália acompanhando a banda de jazz “São Paulo Underground”. O Bando que tinha como essência o samba, ultrapassou barreiras e hoje envolve todo tipo de sonoridade, porém, o trabalho é incrível e reúne artistas que não tem limites para a experimentação e que usa todo contato com o público como oportunidade de criação.
Para conferir: www.myspace.com/afromacarronico

domingo, 11 de outubro de 2009

Era para rir? – “Os Normais 2”

Um dos filmes mais assistidos do cinema nacional: “Os Normais 2”, já superou 370 mil espectadores desde agosto deste ano. Parece que a Globo Filmes descobriu como alcançar um grande público frequentador dos cinemas brasileiros que é apaixonado por comédias com um jeitinho de televisão.
“Os Normais 2” assim como a continuação de “Se eu fosse você”, tem arrancado gargalhadas dos brasileiros. Tanto um quanto outro vem carregado de piadas prontas, clichês e falta de criatividade.
O filme estrelado pelo conhecido casal Rui e Vani (Luis Fernando Guimarães e Fernanda Torres) não alcança a mesma qualidade do seriado que passou mais de dois anos na televisão aberta, sem contar as reprises nos canais pagos.
Para quem é fã da série o filme até encanta, por podermos rever o casal, mas não passa disso. O filme começa com os dois personagens dizendo que para fazer uma comédia não precisam falar palavrão, então eles leem uma lista enorme de palavrões e afirmam que os espectadores não vão ouvir nada disso neste filme.
Claro que os que já conhecem os personagens sabem que aquilo é mentira, afinal, o programa sempre foi regado a palavrões. No entanto, a brincadeira acaba funcionando como uma crítica ao próprio filme, que ultrapassa o bom senso no uso das palavras.
A trama toda acontece em um só noite, em que os dois após 13 anos de noivado percebem que o relacionamento caiu na rotina, para renovar Vani resolve aceitar os insistentes convites de Rui para fazer um “ménage-a-trois”. O casal então busca por uma mulher que tope o programa, a primeira delas é a prima Silvinha (Drica Moraes), que aceita o convite,o relacionamento que aparentemente vai dar certo acaba no hospital. Já neste momento, em que estamos ainda nos primeiros vinte minutos de filme fica clara a proposta do diretor José Alvarenga Júnior (“Divã”): um humor que mistura “pastelão” com humor negro, com personagens se machucando e velhinhas caindo pela janela.
Como não deu certo com Silvinha, Rui e Vani continuam a busca que passa por Danielle Winits, Cláudia Raia, Daniele Suzuki e Aline Moraes. A noite parece não ter fim, já que os dois passam por todo tipo de situação, de ficarem trancados no banheiro a serem roubados.
Os roteiristas Alexandre Machado e Fernanda Young buscando desesperadamente fazer rir exageram nas situações, acontece tanta coisa e tanta situação sem graça que você sempre fica com a esperança que nos próximos minutos algo mais engraçado aconteça, mas não acontece, já que todo o humor é construído em cima de sexo e palavrão.
Vale mais continuar assistindo as reprises da série que perder tempo com esse filme.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Comédia Romântica


Um dia desses andando pela locadora, procurando um filme bobinho para passar o domingo aluguei “Romance” (2008), o nome parecia dizer tudo, mais uma comédia romântica “água com açúcar”.
No entanto, me surpreendi, apesar da história simples o filme é rico em metalinguagem e poesia e arranca risadas e lágrimas. A direção é de Guel Arraes (“O Auto da Compadecida” / “Lisbela e o Prisioneiro”), o roteiro é de Jorge Furtado (“Meu tio matou um cara”) e no elenco estão Letícia Sabatella, Wagner Moura, Andréa Beltrão, Marco Nanini e José Wilker.
Ana (Sabatella) e Pedro (Wagner Moura) são atores de teatro, Pedro está montando a peça “Tristão e Isolda” e escolhe Ana para contracenar com ele na peça. O amor deles nasce entre a ficção e a realidade e diversas vezes o espectador não sabe se eles estão encenando ou se é verdade e esta metalinguagem que torna o filme tão interessante.
Os atores vivem a paixão até que Ana é convidada para estrelar uma novela, durante um tempo ela fica entre o teatro em São Paulo aos finais de semana e as gravações no Rio de Janeiro. Com o sucesso dela na TV as peças de Pedro recebem grandes platéias, mas ele está insatisfeito, argumenta que as pessoas estão ali para ver a atriz da novela e não pelo teatro, diante de crises de ciúme a paixão dos dois fica insustentável.
Tempos depois Pedro é convidado a dirigir uma minissérie na televisão e cria uma versão nordestina para “Tristão e Isolda”, neste momento o roteiro busca a comicidade, o que de certa forma atrapalha o resultado final, algumas piadas prontas e clichês quebram o andamento do filme.
Apesar desta quebra, os atores conseguem sustentar a obra, que tem alguns pontos fortes como a maneira irônica com que trata a vaidade dos atores famosos, representado especialmente pelo personagem de Marco Nanini.
A força do filme está também na trilha sonora, que tem como tema “Nosso estranho amor”, interpretada por Caetano Veloso. O roteiro lembra um pouco a série “Som e Fúria”, produzida este ano por Fernando Meirelles, que mostrou os bastidores do teatro.
Nos extras do DVD é possível assistir o making of e o episódio de “Tristão e Isolda” que é gravado dentro do filme.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Nova música brasileira- Roberta Sá



Mulheres e música popular brasileira, a boa combinação virou moda nos últimos tempos com o lançamento de inúmeras cantoras jovens regravando antigos sucessos ou compondo a nova MPB. Dentre as inúmeras vozes, algumas inevitavelmente se destacam, Roberta Sá é uma delas.
Vinda do Rio Grande do Norte, mas crescida no Rio de Janeiro, Roberta faz um samba que mistura boas doses de brasilidade. O vínculo com a música veio desde pequena, mas foi somente aos 20 anos, quando estava ainda na faculdade de jornalismo que se descobriu cantora e pela insistência de sua professora de música foi participar do programa “Fama”. Pouco tempo depois teve sua voz na novela das oito “Celebridade”, com a música “A vizinha do Lado” de Dorival Caymmi.
O primeiro CD só saiu em 2004: “Braseiro”, com as participações especiais de Ney Matogrosso, MPB-4 e Pedro Luis e a Parede. O disco reúne composições conhecidas dos amantes do samba e da bossa nova, com letras assinadas por Chico Buarque e Paulinho da Viola. Neste primeiro trabalho Roberta revela sua voz, mas ainda não mostra sua personalidade, o CD é bem calmo, bom para ouvir em dias de chuva.
Apesar da inexperiência da cantora, este trabalho rendeu uma turnê nacional e shows em Portugal e na Alemanha.
Em 2007 vem o segundo álbum “Que belo estranho dia para se ter alegria”, que encanta os ouvidos desde o começo com músicas fortes, diversidade de ritmos e ótimas interpretações. As grandes parcerias continuam com Lenine, Carlos Malta e Pife Muderno. Neste CD o público pode conhecer a grande paixão de Roberta: o samba e a cantora se revela uma grande intérprete de letras bem-humoradas, impossível ouvir suas músicas e não sentir vontade de sair falando bom-dia por aí.
A música que dá origem ao título do álbum é de Lula Queiroga, um músico e compositor que tem parcerias com grandes nomes da música nacional e que pela riqueza de sua obra valeria tantos outros artigos.
Para quem gosta de ver o ouvir as músicas de destaque da cantora estão disponíveis também em DVD, gravado durante show no Rio de Janeiro. O diferencial deste último trabalho são dois duetos, um com Ney Matogrosso e outro com Chico Buarque.
Confira um pouquinho desta cantora que já tem lugar reservado na história da música brasileira: www.robertasa.com.br

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Experimentalismos

Reunir televisão e Internet é uma busca dos comunicadores na atualidade, com sites cada vez mais interativos e novas ferramentas o público pode a qualquer momento saber o que vai acontecer na novela ou a pauta dos principais jornais.
Interatividade tem sido uma palavra frequente que envolve um futuro que já começou: a televisão digital. Nesta busca por novas linguagens estreou no último domingo o programa “Norma”, uma produção da Rede Globo que busca o máximo da participação do público, que pode opinar pelo twitter, blog, vídeos ou no estúdio de gravação.



A personagem vivida por Denise Fraga tem 40 anos, uma filha adolescente e é separada há cerca de nove meses. Norma fez Psicologia, trabalha em um instituto de pesquisas e costuma fazer suas escolhas a partir de pesquisas ou da opinião de outras pessoas. A direção é assinada por Luis Villaça e o roteiro final é de Maurício Arruda, os mesmos profissionais do programa “Retrato Falado”.
O programa funciona assim: a equipe de produção coloca no site (http://participenorma.globo.com/) toda semana algumas perguntas como: “Como foi a sua primeira vez?” e qualquer um pode contar sua história. Outra opção é enviar um vídeo que pode sugerir cenas para o programa, relatar alguma ideia, enfim é um espaço livre e também tem um Chat em que o público pode acompanhar as gravações pela Internet e ir sugerindo mudanças no roteiro. Para os que gostam de escrever há a opção de redigir cenas completas.
A Denise Fraga alterna entre o bate-papo com o público e as encenações da Norma. Além do cenário do instituto de pesquisas onde fica a platéia, o programa é gravado em outros ambientes como a casa onde Norma mora com a filha, o barzinho que frequenta e cenas externas onde Denise fala com o público na rua.
A experimentação ficou muito clara neste primeiro episódio, excesso de assuntos de uma vez só e algumas participações do público que não acrescentaram muito à história atrapalharam a estréia, mas acredito que os produtores vão achar o equilíbrio e este pode ser um primeiro passo para programas realmente diferentes na televisão brasileira.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Silêncio na América Latina


A voz marcante que une os latino-americanos, que revela a riqueza deste continente multifacetado nos deixou neste domingo. A intérprete argentina Mercedes Sosa foi uma das maiores representantes da nossa música, cantou composições de vários países do continente, celebrou a cultura indígena e evidenciou a sabedorias dos povos oprimidos.
Sosa nasceu na província de Tucumán, a cerca de mil quilômetros de Buenos Aires e cantou desde muito jovem as canções populares que aprendeu em sua comunidade. Ficou conhecida com “la negra”, referência os seus cabelos negros e seus traços indígenas, o apelido carinhoso ajudou a mudar o sentido pejorativo da palavra negra na Argentina.
A cantora gravou seu primeiro disco na década de 60: “Canciones com Fundamento”, na década seguinte já era reconhecida por denunciar a opressão e foi proibida de cantar na ditadura de 1976. Mercedes viveu em Madri e Paris e voltou ao seu país somente em 1982, gravando “Mercedes Sosa en Argentina”.
Com a volta da democracia Sosa experimentou vários ritmos e fez parcerias musicais ao redor do mundo, porém, sua obra mais lembrada é “Gracias a La Vida”, escrita pela chilena Violeta Parra. No fim da década de 80 a cantora gravou “Amigos mios”, em que se reuniu com nomes latino-americanos como Milton Nascimento, Pablo Milanés (Cuba) e Charly Garcia(Argentina). Além deste disco a cantora organizou um dos mais importantes espetáculos apresentados na Argentina: “Sin Fronteras” que reuniu sete cantoras do continente, incluindo Beth Carvalho.
Entre Cds próprios e participações, a voz de Mercedes está presente em mais de 90 gravações, sendo que o último deles: “Cantora”, lançado em 2009 conta com a participação de Daniela Mercury. Mercedes foi amiga e gravou canções com muitos músicos brasileiros como Fagner, Chico Buarque e Maria Rita.
Além da voz inconfundível, Mercedes era uma figura forte com um sorriso encantador, que deixa um legado de músicas que nos fazem sentir orgulho das origens latino-americanas.



Filme alternativo?



O cenário é a Irlanda, o tema é um romance entre dois desconhecidos que tem a paixão pela música em comum. “Apenas uma vez”, vencedor do Oscar de melhor canção em 2008 é um daqueles filmes, que você passa uma hora e meia esperando algo acontecer e nada acontece.
O filme busca o tempo todo ser alternativo, com filmagens através de vidros, closes em detalhes aparentemente sem importância, luzes amareladas, câmera na mão, objetos antigos, cenários “kitsch”,” flashbacks” em preto e branco,silêncios prolongados, porém, sem um bom roteiro a obra não convence. A história é bem simples: um homem que conserta aspiradores de pó na loja do pai e é músico nas horas vagas, tocando pelas ruas de Dublin para receber alguns trocados conhece uma imigrante tcheca que vende flores para os transeuntes e nas folgas toca piano em uma loja de instrumentos musicais.
Os dois são solitários, tiveram decepções amorosas e não têm muitos planos. Ao se conhecerem descobrem que formam uma bela dupla musical e passam uma semana juntos tocando e chegam a gravar um CD.
Os protagonistas são músicos e compositores na vida real: Glen Hansard e Marketa Irglova, o diretor também é músico: John Carney, talvez seja por isto que vale mais a trilha sonora que o filme em si.
Muitos diálogos são substituídos por canções, mas que não soam como os divertidos musicais, mas sim como clipes enfadonhos, assim nos poucos momentos em que o casal conversa as palavras são repetitivas e não acrescentam muito à história, especial ao personagem masculino que responde “cool” para quase tudo, em uma tentativa de demonstrar sua timidez.
Há uma clara tentativa do diretor em aproximar o público dos personagens filmando olhares e sorrisos, mostrando o quanto a vida dos dois é difícil, porém, eles não tem nome, suas atuações soam falsas algumas vezes e os sentimentos não ficam claros.
Talvez o filme valha por algumas músicas ( que até foram escolhidas para abrir alguns shows de Bob Dylan) e pelas cenas que mostram a Irlanda. Apesar de ter sido sucesso de público no Festival Sundance e ter recebido o Oscar, acho que falta muito para este ser um bom filme, que vá além dos elogios à trilha sonora.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Um dia com Luis Fernando Verissimo


A paixão pela música veio antes do encontro com a literatura, no entanto, é por seu jeito inconfundível de retratar as situações cotidianas que Luis Fernando Veríssimo é conhecido.
Humildade talvez seja a melhor palavra para descrever este homem que aos 72 anos mantém uma saúde de causar inveja e um olhar sensível e amoroso para os que dele se aproximam.
O autor é saxofonista desde os 17 anos, idade em que morava com seu pai Érico Veríssimo , nos Estados Unidos. “A música me dá mais prazer que a literatura”, afirma o escritor que já perdeu as contas de quantos livros publicou.
Para manter seu vínculo com a música, Veríssimo faz parte do grupo Jazz 6, formado por músicos profissionais de Porto Alegre e que já tem quatro cds lançados. “Nunca me aprofundei na música ou mesmo no instrumento, o sax alto. Só o que eu queria era poder brincar de jazzista. Que é o que eu faço até hoje”.
A literatura só veio aos 30 anos, quando deixou as agências de publicidade para trabalhar em jornais. “Descobri minha vocação um pouco tarde e fiz de tudo para ser cronista, até horóscopo”. Além dos livros, Verissimo escreve semanalmente em grandes jornais do país e é chargista. Ao ser questionado sobre como consegue ter tanta inspiração, a resposta simples vem em seguida: “A musa do cronista é o prazo de entrega”.
O autor é tímido, uma timidez que o torna ainda mais encantador, porém, é só subir no palco para falar ou para tocar que ele revela porque é o grande artista que é. Para quebrar a timidez basta falar de sua família. “Meus três filhos são escritores: um compositor, uma roteirista e uma pesquisadora”, diz com brilho nos olhos.
Dentro de sua intensa produção o autor não tem um livro favorito, apenas salienta que foi “O Analista de Bagé” que lhe deu visibilidade. Na bibliografia de seu pai, o livro favorito é “O Tempo e o Vento”, sendo que o primeiro da trilogia nomeado “O Continente”, para Luis Fernando é o mais expressivo. “Meu pai foi um dos primeiros brasileiros a fazer literatura urbana, informal e despojada. Ele foi incompreendido em sua época, mas foi descoberto pela crítica”.
Sobre as novas tecnologias, Veríssimo se mantém distante da Internet. “Uso o computador como uma máquina de escrever, exceto pelo e-mail. Nem sei bem o que é twitter”, porém, existem vários perfis falsos seus na rede de “microblogs”, um deles tem mais de 4 mil seguidores.
O sucesso não parece atrapalhá-lo em nada, Veríssimo tira fotos, abraça, escuta com paciência todos os fãs que se aproximam, seja para dar um presente ou simplesmente um abraço.
A leitura no Brasil ainda é um problema, no entanto, o autor acredita que textos curtos e  bem humorados podem ser uma maneira de atrair os jovens leitores. “Acho que o que está sendo feito em muitas escolas, com feiras de livros, encontros com escritores e a encenação de textos literários está dando resultados. Agora, o mercado editorial só melhorará quando a economia de todo o país melhorar, uma coisa não pode ser desassociada da outra”.
Seu último livro está no prelo, será lançado pela editora Objetiva e chama-se “Os Espiões”, sobre a obra Veríssimo não revela muito, somente que trata-se de um romance que não foi encomendado pela editora e que história se passa em um cidade fictícia do interior do Rio Grande do Sul.