quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Dança: a arte de expressar-se com o corpo


“Nos primeiros ensaios eu não acreditava que estava conseguindo, depois fui confiando mais e percebendo que também podia”.A frase é de Carina Siqueira Damico, uma das dançarinas com deficiência visual que participam do projeto Olhos da Alma, de Jaboticabal.
Foi percebendo a dança como uma forma de ultrapassar barreiras físicas, mentais e sociais que o dançarino Alexandre Miranda, conhecido com Snoop, levou aulas de dança de rua para a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) em Ribeirão Preto.
Deste trabalho nasceu em 2002, o primeiro grupo de dança de rua com deficientes auditivos. No mesmo ano eles participaram do Festival de Dança de Porto Alegre e ganharam em primeiro lugar. “E não foi de dó não, eles competiram mesmo, mostraram que podiam dançar como qualquer outra pessoa”, afirma Snoop.
Movimentos como o projeto Olhos da Alma e grupos de dança em Apae’s fazem com que a sociedade passe a valorizar a diferença. Segundo o professor de dança do projeto Olhos da Alma, André Miranda muita gente chora vendo os deficientes visuais no palco, mas é só através da convivência com eles que aprendemos a lidar melhor com os nossos preconceitos.
O trabalho com os portadores de necessidades especiais tem de ser diferenciado. “Em uma aula para cegos tenho que utilizar muito o tato e a percepção sonora. No começo é necessário trabalhar a lateralidade, pegar no braço e mostrar o movimento, até que apenas narrando eles conseguem fazer as coreografias”, explica Miranda.
Para Carmita dos Santos, mãe do dançarino Júlio César, portador de deficiência mental, ainda existe preconceito, mas a dança funciona como uma forma de diminuí-lo, pois as pessoas passam a ver os deficientes fazendo coisas que na maioria das vezes acham que não seriam capazes.
“Eu sempre aprendo muito mais do que ensino com os meus alunos, especialmente com os portadores de deficiência. Eles estão sempre felizes, não reclamam e tem uma grande força de vontade. Somos nós que temos mania de colocar barreiras”, expõe Snoop.

Inclusão cultural

Trabalhar com a diversidade requer adaptação o tempo todo com o universo da outra pessoa. Quando a bailarina Meire Teixera decidiu dar aulas de balé clássico para os adolescentes da escola de samba Embaixadores dos Campos Elíseos, muitos se assustaram com a idéia, porém, o trabalho que começou há 4 anos é mantido até hoje.
“Eu não precisei forçar nada, com um mês de ensaio eles estavam falando os nomes dos passos em francês”, relata Meire. “Quem foi que disse axé é de classe baixa e balé é de classe alta? O ser humano é apto a aprender qualquer coisa”, continua.
Uma das maiores dificuldades dos que buscam trabalhar com a arte, segundo ela é a continuidade, pois nem sempre o governo dá subsídios para que os projetos tenham seguimento.“Nos Campos Elíseos, tudo tem que ser feito em mutirão: uma mãe costura, outro tem um amigo que arruma o transporte”.
Meire acredita que os projetos devem buscar apoio também privado, através de leis de incentivo cultural. “Em todo o país, muitos projetos não prosseguem por falta de apoio. As leis devem ser mais aproveitadas, esse é o meio do Brasil expandir o acesso à cultura”, finaliza Meire.

Um comentário:

Anônimo disse...

intiresno muito, obrigado