quinta-feira, 30 de julho de 2009

O humor de Mário Prata


O escritor Mário Prata é um dos mais conhecidos autores brasileiros. A escrita começou pelas influências da mãe que lia muito. “Aliás, naquele tempo lia-se muito mais no Brasil, falo da era antes da televisão. Eu morava no interior de São Paulo e a televisão só chegou no final dos anos 70. As professoras e padres diziam que eu escrevia bem e eu acabei acreditando”, explicou.
Prata foi gerente de banco em São Paulo, começou a cursar Economia na USP ( Universidade de São Paulo) e foi no meio de uma greve estudantil em 1969 que escreveu seu primeiro livro "O morto que morreu de rir". “Aliás, este livro é muito ruim, mas o Centro Acadêmico publicou".
Vendeu o livro para todos que conhecia e foi, aos poucos, adentrando no universo das letras. Trabalhou como jornalista, assessor do Secretário da Cultura, no governo Orestes Quércia, escreveu para teatro, cinema e televisão.
A obra “O Encontro Marcado”, do Fernando Sabino é um dos livros que marcou sua vida. “Li este livro com 14 anos. Descobri ali que a literatura não era apenas aqueles livros clássicos e chatos que mandavam a gente ler na escola. Podia-se escrever sobre outras coisas. E um autor foi o Campos de Carvalho, que me influenciou e muito. Pouco mais tarde, já com uns vinte anos descobri o Júlio Cortázar. Aí a minha vida nunca mais foi a mesma”.
A partir de 1992, Prata publicou um romance por ano, a maioria deles recheados de humor como é possível perceber até pelos títulos: “Mas Será o Benedito?” (1996) “Diário de um Magro” (1997), “Minhas Mulheres e Meus Homens (1999), e tantos outros.
O último lançamento é a obra “Sete de Paus”, um romance policial. “Quando resolvi escrever o livro, fiquei dois anos lendo policiais. Li exatos 207 livros. Um dia achei que o meu livro estava pronto, mas resolvi mudar o assassino e o reescrevi inteiro. Se a gente não manda para a editora, nunca termina. Sempre dá para trabalhar mais”, afirmou.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Literatura infantil


“Vida de moleque é vida boa, vida de menino é maluquinha”. Quem não cantarolou esta música de Milton Nascimento? Música que relembra a infância e fortalece a imortalidade da obra “O Menino Maluquinho” do mestre Ziraldo.
Ziraldo é pintor, cartazista, jornalista, teatrólogo, chargista, caricaturista e escritor. Seus trabalhos já foram traduzidos em diversas línguas e o autor é um dos maiores escritores infantis do Brasil, sendo que “O Menino Maluquinho” é um dos fenômenos editorias nacionais e foi inspiração para cinema e teatro.
Em 2009 o autor completa 40 anos de sua primeira obra infantil: “Flicts”, que conta a história de uma cor solitária que não encontrava seu lugar e decide após viajar muito partir para a lua.
Confira entrevista concedida por e-mail:

- O seu nome é sempre lembrado entre os que passaram pelo Pasquim. Como foi trabalhar neste período? O que este trabalho representa para a sua história?
Ziraldo: Fazer o Pasquim naqueles tempos, pra mim, foi um privilégio. A conhecida Canção do Soldado, um dos nossos hinos militares começa assim: “Amo tanto, estremeço essa terra / quero tanto ao meu vasto país / que, se um dia, eu partir para a guerra / eu irei bem contente e feliz!” Nunca pude imaginar ter um sentimento soldadesco assim. Não sei como se pode ir contente e feliz para a guerra. Não experimentei nenhuma felicidade pelo fato de ter ido para a guerra contra a Ditadura. Eu não tive como evitá-la. Mas tenho que reconhecer que, fazer o Pasquim durante aqueles tempos negros,foi um privilégio. Não posso imaginar de que maneira eu poderia ter atravessado os anos de ditadura sem poder manifestar minha indignação. E de maneira tão efetiva. Foi uma sorte ter vivido nas páginas do Pasquim os anos de chumbo da ditadura militar brasileira. É bom saber disso, é bom contar para os meus netos que eu não fiquei assistindo de braços cruzados ao triste espetáculo do desastre que foi este tempo para o Brasil e para o nosso futuro como nação.

- Como foi a sua passagem da escrita voltada para adultos para a infantil? O processo de produção para os dois públicos é muito diferente? Por quê?
Ziraldo: A viagem não foi da “escrita adulta” para a infantil. Eu era um cara que sabia desenhar. E a vida toda tinha usado o desenho como uma forma de narrativa e não como o desenho finito nele mesmo, como quem pinta ou grava. Pra mim, não mudou nada. Nos dois casos, desenhar ou escrever, eu trabalho é com a invenção. Em 1960, surgiu a possibilidade de fazer histórias em quadrinhos na revista O Cruzeiro, que era a realização do meu sonho até aquela data. Criei o Pererê e sua turma e durante 5 anos a revistinha vendeu muito. Em 1964, a revista parou e eu fui trabalhar em publicidade (porque eu sempre vivi de publicidade, sou desenhista de agência). Em 1963, comecei a colaborar com o JB no Caderno B, inventei os Zeróis, uma crítica dos heróis das histórias em quadrinhos e criei vários personagens, Vovó Maricota, que era uma velhinha viciada em loteria esportiva; a Supermãe e o Jeremias, o Bom. Em 1969, no mesmo ano em que lançamos o Pasquim, eu continuava no JB. Aí decidi acabar com a vida semanal do Jeremias e eternizá-lo num livro. Levei o livro para a Editora Expressão e Cultura. Fernando Ferro, um português sofisticadíssimo, topou fazer o Jeremias, mas me perguntou: “Você não tem um livro infantil?” Eu disse: “Claro que tenho um livro na gaveta”. “Traz amanhã” – ele falou. E eu tinha? Tinha nada. Tive que inventar um livro em uma semana. Um livro sem ilustrações, é claro. Foi assim que nasceu o Flicts. Em 1980, fiz outro livro para crianças que fez até mais sucesso do que o Flicts: o “Menino Maluquinho”. Aí, não teve jeito: virei autor de livros para crianças.

- Como nasceu a ideia do menino maluquinho?
Ziraldo: Foi assim: o Menino Maluquinho nasceu na época das palestras. A turma do Pasquim vivia dando palestras sobre tudo, pois o mundo queria saber o que estava acontecendo no país da ditadura. E a gente dava palestras de graça sem saber que os organizadores das palestras estavam ganhando uma baba! Um dia, fui falar para mães e mestres da Ilha do Governador, não sei se na universidade, no auditório da igreja ou se num colégio. Eu era especialista de assuntos gerais. Acabei falando sobre crianças, sobre filhos, sobre publicidade infantil. E disse que era contra preparar a criança para o futuro. Criança tem que ser feliz hoje para ser um adulto feliz no futuro. Às vezes, pode não dar certo, mas é mais provável que dê. Aí, sugeriram que eu escrevesse um livro com essa tese. Tá maluco? Não entendo nada de nada, sou espectador da alma humana. No caminho de volta, novamente me ocorreu que a tese podia dar um livro infantil. Daí para o Menino Maluquinho foi um pulo.

- Como e quando ele foi transformado em peça de teatro?
Ziraldo: Ah, não lembro, não. Aliás, tem um detalhe: todos os meus livros foram adaptados para o teatro, no Brasil inteiro. A única peça infantil que escrevi foi “A Bonequinha de Pano”.

- Como é a peça “A Bonequinha de Pano”?
Ziraldo: A peça foi escrita para uma atriz paulista chamada Zezé Fassina. É para uma só personagem. São dois atos: no primeiro a atriz faz uma boneca esquecida num sotão. No segundo ato ela faz a menina, dona da boneca, já adulta, que reencontra a boneca num velho baú de sua infância.

- Em que você está trabalhando atualmente? Quais seus planos?
Ziraldo: “Uma Menina Chamada Julieta”. É o meu livro do ano. Para ser lançado na Bienal/2009 no Rio de Janeiro. E breve devo lançar mais um ou dois da série “O Menino da Lua”.

terça-feira, 7 de julho de 2009

A Festa da Literatura

A segunda maior Feira a céu aberto do Brasil aconteceu de 18 a 28 de junho com intensa programação cultural. A 9ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto promoveu mais de 600 eventos gratuitos abrangendo literatura e manifestações artísticas.
Mais de 100 escritores da literatura nacional e internacional participaram de palestras e debates. Os 48 expositores levaram à Feira uma infinidade de livros com preços promocionais instalados em três pavilhões: Praça XV de Novembro, Praça Carlos Gomes e Esplanada do Pedro II, numa área de 16 mil m². A estrutura dos 71 estandes foi reformulada, nesta edição as entradas estavam voltadas para a parte central das praças, proporcionando maior segurança e conforto ao público e aos livreiros.
A organização do evento recebeu 408. 324 pessoas que participaram ativamente. Cerca de 800 pessoas trabalharam na organização e infra-estrutura do evento. Além da população de Ribeirão Preto, a Feira recebeu visitantes de mais de 100 cidades e de outros Estados. Entre as mais de 60 apresentações musicais estiveram artistas locais, corais e shows com grandes nomes da MPB, além da apresentação da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto e dos convidados chilenos Tita Parra e Antar Parra.

Homenagens e presenças internacionais
Em 2009, a Feira homenageou o Chile, o Estado do Amazonas e a poetisa Cora Coralina. O patrono foi o escritor e idealizador da Feira Nacional do Livro, Galeno Amorim. Do Amazonas, quatro importantes expoentes da cultura estiveram presentes: Thiago de Mello, Sérgio Augusto Freire, Milton Hatoum e Márcio Souza.
A Feira de Ribeirão Preto também ganhou repercussão internacional com a presença dos escritores chilenos Luis Sepúlveda, Luis Aguilera e Tito Alvarado. De Cuba Tirso Saenz e de Portugal, João Camilo dos Santos e da Itália, Giovanni Ricciardi.

Autores
Alguns dos principais autores que participaram dos 11 dias do evento: Augusto Cury, Ali Kamel, Carlos Heitor Cony, Cristovão Tezza, Deonísio da Silva, Fernando Morais, Frederico Barbosa, José Miguel Wisnik, José Hamilton Ribeiro, Lourenço Mutarelli, Luiz Felipe Pondé, Marcelo Mirisola, Márcia Tiburi, Marcos Pontes, Marcelo Rubens Paiva, Marçal Aquino, Moacyr Scliar, Martha Medeiros, Olivier Anquier, Pasquale Cipro Neto, Pedro Bandeira, Rubens Ewald Filho, Sérgio Freire, Xico Sá, Zuenir Ventura, entre tantos outros grandes nomes que foram aclamados pelo público.

Novidades
Inúmeras novidades envolveram a 9ª Feira, algumas delas na Praça Carlos Gomes que recebeu espaços temáticos especiais. Um desses espaços em menção a casa da poetisa Cora Coralina contou com performances artísticas de Tina Oliveira. Outra novidade foi a comemoração do Ano Internacional da Astronomia, que transformou a praça em um observatório montado pela UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos). Com os telescópios foi possível ver o planeta Saturno e aglomerados de estrelas distantes, além de um planetário com imagens projetadas a 180º.
A Praça também recebeu a "Cidade do Livro", um projeto itinerante, voltado ao público infantil, que promove um passeio cultural e educativo com atividades, personagens e cenários incentivando à leitura. Reunindo educadores e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, a Feira do Livro promoveu no dia 22 de junho o Simpósio "Ciência, Literatura e Cultura", que durante um dia debateu assuntos envolvendo cultura, literatura, jornalismo científico e astronomia.
Outra novidade foram os convidados da área gastronômica, chefs de cozinha que compartilham através das letras suas experiências gastronômicas e participaram de deliciosos bate-papos no Espaço Renato Aguiar. A Feira contou também com dois prêmios: "Prêmio Literário Cora Coralina" e "Prêmio Rubem Cione de Ciência, Literatura e Cultura", ambos tiveram as inscrições abertas entre março e abril e tiveram os prêmios entregues durante o evento.

Música
Shows com Adriana Calcanhotto, João Bosco, José Miguel Wisnik, Jorge Vercillo, Lenine, Luiz Melodia, Maria Rita, Mulheres de Hollanda, Ná Ozzetti, Oswaldo Montenegro, Paula Toller, Paulinho da Viola, Toquinho e MPB4 e Vanessa da Mata, além de shows locais em diversos espaços da Feira atraíram grande público, sendo que o recorde desta edição foi o show da Vanessa da Mata que reuniu 32 mil pessoas.


Os números da Feira 2009:
Investimento: R$ 2,4 milhão
Público esperado: 408.324 mil
Eventos: mais de 600
Apresentações musicais: 60
Número de estandes: 71
Expositores: 48
Empregos: 800 (funcionários da limpeza, segurança, monitores, empregados das empresas terceirizadas e funcionários dos expositores).