quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O tempo da dança


Dançar é uma prática que envolve o homem desde o começo, e que começo foi esse? Não se sabe exatamente quando, mas os desenhos da pré- história demonstram que já ali o homem fazia movimentos rítmicos com o corpo.
Existem muitas histórias da dança, aquelas realizadas durante os rituais, as danças para a colheita, para o riso e tanta outras, mas as mais estudas e historicamente organizadas são as danças cênicas, aquelas produzidas para de alguma forma serem apresentadas ao público, com passos codificados. São três grandes gêneros: clássica, moderna e contemporânea.
Vários elementos influem na dança em cada época, desde a política até as possibilidades técnicas, o que tornam necessário ao contar essa história uma revisão dos valores de cada época.
A dança clássica nasce na Renascença (séculos XIV,XV e XVI),primeiro na Itália e depois na França. Este é um período de grandes mudanças culturais, em que era muito valorizada a razão e seguindo tal conceito buscava-se a harmonia dos gestos e a superação dos limites da natureza, sendo assim os bailarinos desafiavam a força da gravidade, com suas sapatilhas de ponta, posições do pé (em dehors – virada para fora) e com o corpo voltado para o público.
Os bailarinos dançavam com roupas da corte e dirigidos para os reis e evitavam dar as costas a ele, o que explica em parte a rigidez dos movimentos do balé clássico. Nas apresentações sempre havia uma narrativa, cada coreografia contava uma história.
O grande momento do estilo clássico foi o romantismo, no século XIX, quando a dança passa a ser percebida como uma arte também fora da aristocracia. Os balés eram divididos em dois atos: a realidade e o sonho. O período é marcado pela revolução industrial e a tecnologia passa a auxiliar a dança, assim bailarinas passaram a “voar”, presas a fios, nos palcos da Europa e a iluminação a gás (antes à luz de velas), colaboravam com a idéia de um sonho. Uma das curiosidades é que as bailarinas só tocavam o chão com as pontas dos pés, como se desafiando a gravidade.
A dança passa a ser valorizada em outros lugares, como na Rússia, que tornou-se o centro do balé no século XIX, com coreografias lembradas até hoje, como “O quebra- nozes”.
No século 20 o balé passa a sofrer influência da arte moderna, as exigências técnicas são ampliadas e novos movimentos são descobertos. Caminhamos para a dança moderna, em que os movimentos são mais expressivos e livres, buscando transmitir os sentimentos e as expressões humanas.
A dança passa a ser a expressão dos contrastes ( é o período das grandes guerras mundiais) e as relações com o público mudam, se antes a atenção estava em cada movimento, agora os olhares caminham por coreografias diferentes simultaneamente.
Com a liberdade de expressões nasce a dança contemporânea, uma manifestação que se une às outras artes e linguagens (da pintura à internet) e a individualidade de cada bailarino é utilizada ao extremo, nada mais é linear e o público deixa de ser passivo.
A dança contemporânea busca os movimentos do dia-a-dia e todo o espaço é palco: museus, centros culturais e até mesmo as ruas. As palavras de ordem passam a ser a contestação e a experimentação.
Hoje pode-se dizer que os três grandes estilos da dança existem ao mesmo tempo e que há total liberdade de criação.

“ A dança é a expressão do incosciente” Marthan Grahan ( coreógrafa americana )

Texto baseado na oficina Corpo a Corpo- A Dança no Tempo, da São Paulo Companhia de Dança