terça-feira, 27 de março de 2007

Experiência boa

As praças sempre tiveram grande importância para a constituição das cidades, principalmente como espaço para discussões públicas, expressões culturais, e lazer.
Porém, com o passar do tempo esse espaços foram deixados para trás.Com o avanço da tecnologia e modo de vida que conhecemos hoje, a individualização veio como conseqüência e passamos a ocupar lugares em que o contato com os outros(fora de nosso círculo de amizades) é muito reduzido.
Trocamos o contato humano pelo contato com a máquina, muitas vezes por medo da violência ou do perigo que o outro possa representar.Entramos em um mundo paranóico em que todos podem de alguma forma estar contra nós.
Inevitavelmente a nossa natureza necessita da relação de proximidade com as outras pessoas, e para suprirmos tal carência abusamos da Internet, a utilizando até mesmo para conversar com nosso vizinho.
Ocupamos nosso tempo livre na frente da TV , do computador e nos shoppings respirando o ar frio que vêm dos aparelhos de ar condicionado, em um mundo completamente artificial.
Estou escrevendo isso tudo porque tive a oportunidade de ir a uma seresta na última semana, e senti falando com as pessoas o quanto estamos equivocados ao não aproveitarmos os espaços abertos, públicos, ao deixarmos esses espaços abandonados.
Um senhor de cerca de 70 anos, morador do bairro que lutou junto a associação de moradores para reavivamento da praça durante dois anos, me disse que ele passa o mês todo esperando por aquele momento, em que pode encontrar os vizinhos, ouvir boa música e principalmente dançar.
Os moradores do bairro se animaram tanto com a idéia de utilizar a praça, que plantaram várias árvores frutíferas nos canteiros, e me disseram que era para os netos deles, para ajudar nesse tal de aquecimento global.
Foi emocionante, crianças correndo, um pessoal com cadeiras de praia em volta do coreto, outros dançando e muitos conversando, foi assim que conheci muitos dos meus vizinhos, descobri que temos uma associação de bairro e principalmente me senti “em casa”.
Espero que muitas outras praças possam ser valorizadas, como espaço de convívio e calor humano.

domingo, 11 de março de 2007

Al Gore e o Oscar


Assisti ao documentário " Uma verdade incoveniente", e não entendi porque ele ganhou o oscar de melhor documentário 2007.
Não...eu não gosto do Oscar, e na maioria das vezes nem busco questionar quem ganhou ou quem perdeu, porque me parece que é uma festa de Hollywood para hollywoodianos que só é transmitida para boa parte do mundo que não faz parte da festa.
Ao menos entendo que seja uma festa de premiação cinematografica, e que os filmes vencedores tenham que ter uma boa produção, um bom roteiro....e não foi o que vi em " Uma verdade incoveniente", o que vi foi a filmagem das palestras que Al Gore faz ao redor do mundo sobre o aquecimento global com várias inserções de imagens e histórias de alto promoção do próprio Al Gore.
O filme me fez entender muito sobre o aquecimento global e sobre como cada um pode ajudar, tema extremamente relevante no atual momento mundial , porém me preocupa a forma como os políticos encontram para se auto promoverem.
E a pergunta que paira no ar é afinal porque esse documentário ganhou o Oscar?

sábado, 3 de março de 2007

Rediscutir a violência


A última edição da revista Caros Amigos trouxe uma entrevista com a presidente do instituto de segurança pública do estado do rio de janeiro, Ana Paula Miranda.
Foi uma matéria que me marcou, pois algumas colocações dela sobre a violência me fizeram repensar.
A entrevista inicia-se com uma questão sobre a insegurança, em porque a população do Rio se sente tão insegura( questão que pode ser remetida a boa parte da população do país),segundo pesquisas do instituto a insegurança está ligada ao medo do que é desconhecido ,como as favelas.
As favelas têm o estereótipo de lugar perigoso, e as pessoas que têm mais medo são as que têm menos chance de serem vitimadas. Cria-se toda uma imagem de violência, de perigo eminente, uma paranóia construída por um conjunto de fatores.
Semana passada por exemplo roubaram o rádio do meu carro, em pânico minha família já correu para uma loja especializada em alarmes.Toda pessoa que eu conversei sobre o caso tinha alguma história, na maioria das vezes bem pior que a minha, para contar.
Percebi que toda vez que paro o carro, penso : “Será que a hora que eu voltar ele vai estar aí?” , é muito fácil entrar nesse jogo paranóico.
Abrimos o jornal e vemos violência, conversamos com as pessoas e elas estão vivendo em pânico.Não é por acaso que somos o país que tem mais carros blindados do mundo, e que a segurança particular é o segundo negócio mais rentável do país.
No Rio segundo Ana Paula o crime é muito desorganizado, o que dificulta o trabalho de controle da violência: “Nessa rede de tráfico, quando você prende um dito chefão, que não é chefão coisa nenhum, é um gerente, sempre tem outro que quer aparecer mais que o anterior...”.
O modo com a mídia retrata tais problemas tem um peso muito forte, como mostrar o que está acontecendo sem causar o pânico geral da população, e sem tornar a violência algo banalizado?
No ponto de vista da entrevistada a gente se acostumou a ver jovens morrendo e isso já não nos toca mais.Acredito que esse é um grande problema, a despreocupação com o outro, com aquele que mora no lugar “perigoso” que desconheço.
A preocupação passa a ser somente individual, eu preocupada com o meu carro e não com os problemas que envolvem quem o roubou.E é aí que ao meu ver está o verdadeiro perigo, na individualização.
Há um documentário chamado “Violência S.A” que trata muito bem a nossa relação com a violência e com o medo.O filme traz de forma irônica questões muito relevantes, que nos fazem rir desconfortavelmente de nossa própria situação.Sem dúvida vale a pena assisti-lo para repensar em como lidamos com o “outro”.