segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Democratizar a comunicação?

Em meio a um cenário aparentemente apático, em que as discussões sobre comunicação se limitam na maioria das vezes ao que a grande mídia coloca, nascem debates de visibilidade nacional sobre qual é o verdadeiro retrato dos meios de comunicação no Brasil.
O debate não é recente, vem ganhando força no decorrer dos anos com a união de pessoas de diversas correntes ideológicas, mas que tem em comum o desejo de ter voz em um país em que poucos falam e muitos só escutam.
Talvez a semente para a ampliação do debate sobre o tema no país seja o Fórum Social Mundial, iniciativa que acaba de completar 10 anos e que nasceu em uma época de grande fortalecimento das políticas neoliberais na América Latina. Movimentos sociais, ONGS, redes, organizações civis e membros da sociedade preocupados com os rumos da política nacional se uniram para buscar e realizar mudanças.
A Comunicação é uma das pautas principais do Fórum, afinal, qual o papel da mídia na construção deste outro mundo possível?
A palavra de ordem é a democratização e o que parecia aos olhos de muitos algo tão utópico e distante de ser realizado, começa a tomar forma quando as discussões passam da esfera do não governamental para uma esfera que reúna governo e sociedade.
Existem sim inúmeras dificuldades para se alcançar mudanças quando interesses de partidos são mais importantes que as questões a serem resolvidas, porém, estamos em uma sociedade que depende dos poderes instituídos e já que as grandes revoluções políticas não acontecem é a união entre todas as forças que pode fazer a diferença.
A I Conferência de Comunicação que aconteceu em dezembro de 2009 marca o início de um diálogo efetivo sobre a democratização da Comunicação no Brasil. Além do encontro nacional foram mais de 60 conferências municipais, intermunicipais e livres que debateram três eixos principais: produção de conteúdo, meios de distribuição e direitos e deveres na Comunicação.
Como construir espaços democráticos não é tarefa fácil, inúmeras dificuldades foram encontradas pelos organizadores, que não conseguiram convencer o setor empresarial a participar do debate, seis das oito entidades empresariais deixaram a comissão organizadora na fase de preparação da Conferência.
Mesmo com as dificuldades em se construir esse diálogo que parece impossível diante dos interesses pessoais, encaminhamentos importantes foram aprovados na Conferência como a
criação do Conselho Nacional de Comunicação, imposição de limites à concentração de concessões de meios de comunicação, limites ao oligopólio da distribuição de mídia impressa, reformulação da estrutura interna do ministério das Comunicações e realização de Conferências nacionais a cada dois anos.
Claro que a aprovação na Conferência não significa que tudo será praticado, no entanto, as mudanças só são possíveis quando partem de diálogos abrangentes e ganham força nas mãos das pessoas.
A visível inércia da grande imprensa que praticamente não esteve presente na Conferência e que coloca o combate ao monopólio das Comunicações como uma maneira de restrição a tal liberdade de imprensa é a prova real que temos um grande problema na Comunicação deste país, que somente pode ser superado quando cada membro da sociedade perceber que liberdade de expressão não existe efetivamente em um país condizente com a ilegalidade nas concessões de rádio e televisão e a concentração no controle de diversos meios de comunicação por grandes grupos empresarias.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Dias em Machu Picchu


A viagem perfeita,era isso o que pensava todos os dias desde que cheguei ao Peru com mais duas amigas no dia 13 de janeiro, tudo estava correndo bem, conhecemos lugares incríveis, a temperatura estava perfeita, as pessoas nos ajudando nos pequenos problemas, estávamos melhorando no espanhol e incrivelmente apaixonadas pelo país dos Incas.
No dia 23 de janeiro partimos para o passeio mais esperado da viagem: conhecer Machu Picchu e foi neste dia que tivemos o primeiro problema: não havia trem para chegar a Machu Picchu, teríamos que esperar até a manhã do outro dia.
Acordamos domingo ansiosas e fomos para a fila do trem e a partir daí começou a verdadeira aventura da viagem. Ao lado do trilho corre o rio Urubamba, que estava assustador, a maioria dos passageiros não conseguia desgrudar os olhos das janelas.
Finalmente chegamos a Águas Calientes, a cidade mais próxima de Machu Picchu e fomos conhecer o sítio arqueológico. Não existe palavra que possa descrever Machu Picchu, nada seria suficiente, pensar naquele lugar povoado de pessoas que viviam para e com a natureza, seres que inexplicavelmente construíam suas casas com enormes pedras e que tinham um sistema de irrigação impressionante, foi um dos momentos mais emocionantes da viagem.
Quando saímos de Machu Picchu, veio a primeira notícia de que estávamos presos na pequena cidade, minha primeira sensação foi de incredulidade. Procuramos um hotel e pensávamos que quando acordássemos poderíamos voltar para Cusco, no entanto, chegou a notícia oficial da empresa de trem responsável pelo único caminho para chegar a Machu Picchu: o conserto dos trilhos demoraria dois meses.
Pensamos em ir embora a pé até a próxima cidade, mas corriam histórias de que todos os caminhos estavam muito perigosos e decidimos ficar. Nos informaram que devíamos ficar dentro dos vagões de trem, separados por nacionalidade e aguardar os helicópteros que viriam nos resgatar.
Passaram-se cerca de três horas e não tínhamos nenhuma informação, até que começaram a gritar que a estação de trem estava com risco de inundação e que teríamos que ir para um lugar mais alto,saímos todos, um tanto assustados rumo a quadra de esportes. O sol estava forte e éramos mais de dois mil turistas esperando qualquer informação, não ouvíamos nenhum barulho de helicóptero e não sabíamos o que iría acontecer. Às 18h veio o aviso: procurem lugar para se hospedarem, os idosos, doentes, mulheres com crianças e grávidas deveriam voltar para os vagões para serem os primeiros resgatados na manhã de terça.
Achamos um hotel, jantamos e dormimos na esperança de acordar com o ruído dos helicópteros, porém, eles chegaram somente na parte da tarde e soubemos que quem estava partindo eram os que pagavam propina para os militares ou contratavam helicópteros particulares.
Percebemos que era necessário fazermos alguma coisa, reunimos todos os brasileiros na praça central, fizemos listas para saber em quantos éramos, quais eram as principais necessidades e começamos a ligar e mandar e-mails para as embaixadas, consulados, imprensa, enfim, qualquer tipo de ajuda poderia fazer a diferença naquele momento. Até aquele momento não tínhamos recebido nenhuma informação oficial, não sabíamos quantos dias demoraríamos para sair da cidade.
As roupas já tinham acabado, o dinheiro de muitos também e o desespero tomou conta de alguns. Entre o desespero nasceu a solidariedade, muitos buscando ajudar a reconstruir parte de uma calçada destruída, outros lutando por justiça fazendo barricadas contra os que queriam pagar para sair, outros ainda buscando informar os seus países de origem da situação que vivíamos.
Na quarta-feira recebemos comida do governo peruano: café da manhã, almoço e jantar, recebemos também a notícia que o cônsul brasileiro em Lima estava chegando e que os mais velhos, mulheres e crianças tinham ido embora.
Apesar das boas notícias, não sabíamos quando sairíamos porque as chuvas continuavam em Cusco e os helicópteros não conseguiam chegar a Machu Picchu. Cada um buscava entreter-se de uma forma, alguns tocavam violão, outros conversavam, organizavam partidas de futebol e vôlei e até uma pequena gincana.
Foi a união e a força das outras pessoas que me fez passar por este momento com alegria, não sentia medo, sentia que estar ali com aquelas pessoas era uma grande lição de vida e sentíamos isso juntos, que a sensação de impotência se transformava em força e esperança.
O governo brasileiro enviou dinheiro para que todos os brasileiros que estavam em alojamentos fossem para os hotéis. Quinta-feira acordamos com o som dos helicópteros, e nunca aquele som me pareceu tão bonito, mais de 1.300 pessoas foram embora.
Restaram as pessoas na faixa de 20 anos e apesar da ansiedade, da claustrofobia e do medo, foi dia de festa, todos se reuniram, conversaram e dançaram, era o nosso último dia em Águas Calientes.
Sexta-feira, às 18h cheguei em Cusco e depois da aventura de andar de helicóptero que alegria em ver aquela bandeirinha colorida flamejando e rever os amigos cusquenhos. O sentimento era uma mistura de tristeza por ter perdido cinco dias de férias e de alegria por estar ali.
Para finalizar a aventura, como já tínhamos perdido o vôo para o Brasil, pegamos uma carona com o avião da FAB (Força Aérea Brasileira), o Hércules. E agora sim tenho história para contar para o resto da vida, histórias de amizade, companherismo e superação, experiência que me ensinou a ser mais humana e mais apaixonada pela vida.