terça-feira, 15 de dezembro de 2009

II Bienal de Psicanálise e Cultura

As paixões e a cultura, temas que envolvem profissionais de todas as áreas e que são atemporais. Caminhando dentro deste universo através da psicanálise a II Bienal de Cultura e Psicanálise de Ribeirão Preto traz entre os dias 13 e 16 de maio uma programação rica em reflexões sobre a contemporaneidade sob o título “Paixão e...Paixões!- viagens às nascentes dos sentidos”.
O evento promete continuar o sucesso da primeira edição que aconteceu em 2008 e trouxe para o Centro de Convenções de Ribeirão Preto mais de 500 pessoas.
Dentre os convidados que participarão de mesas de debates e promoverão cursos estão psicanalistas, historiadores, artistas plásticos, músicos, bailarinos, compositores, empresários, educadores e escritores. A diversidade de áreas revela a profundidade das discussões que abrangerão a paixão e a não-paixão em seus diversos aspectos: amizade, conhecimento, anti-conhecimento, ciúme, inveja, vingança, trabalho, artes, futebol e amor.
A abertura será realizada no Theatro Pedro II, na noite do dia 13, com a presença da mezzo soprano paulistana Regina Elena Mesquita e o pianista Marco Antônio Bernardo, que apresentarão trechos de “Carmem”, “Sansão e Dalila”, “Piaf”, entre outras peças.
A rica programação de debates começa no dia 14 a partir das 8h com a presença de vários especialistas, dentre eles Luis Tenório Oliveira Lima (psicanalista), Décio Cassiani Altimari (biólogo), Marlene Soares dos Santos (educadora) e a psicanalista Argentina Sônia Abadi.
No dia 15 alguns dos convidados são Luiza Trajano Donato (empresária), Bernardo Tanis (psicanalista), Beatriz Segall (atriz) e José Miguel Wisnik (músico). A conferência de encerramento na manhã do dia 16 será proferida pela poeta e ensaísta de Buenos Aires, Ivonne Bordelois.
O encontro trará ainda três exposições permanentes e apresentações culturais de vídeo, teatro, dança e música durante todos os dias.
A II Bienal é uma realização da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto (SBPRP), com apoio da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto.
Maiores informações: www.sbprp.org.br/bienal e www.twitter.com/bienalpsi

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Experimente "3 na Massa"


Em meio a tantas mulheres cantando sons parecidos, vale a surpresa do projeto “3 na massa”, criado pelos membros do Nação Zumbi, Dengue e Pupillo e por Rica Amabis do selo Instituto.
Mulheres com vozes e estilos completamente diferentes, experimentam e se revelam no CD “Na Confraria das Sedutoras”, uma obra de arte para ouvidos cansados de mesmices. Tem Leandra Leal, Thalma de Freitas, Céu, Nina Becker e destaque para Pitty que supera expectativas.
As letras escritas na maioria das vezes por homens (dentre eles Rodrigo Amarante), trazem histórias de ilusões e desilusões amorosas. Apesar de letras interessantes, o projeto vale mais pelas experimentações sonoras, que trazem música eletrônica, batidas latinas e muitos “barulhinhos”.
Para degustar: http://www.myspace.com/3namassa
Selo Instituto: http://www2.uol.com.br/instituto

Budapeste – o filme e o livro



A brincadeira com as palavras e seus significados é o que torna o livro “Budapeste”, de Chico Buarque, interessante. Já no filme valem mais as imagens da capital húngara do que a história em si.
A direção do filme é de Walter Carvalho e tem no elenco o ótimo Leonardo Medeiros, Giovana Antonelli e a atriz húngara Gabriella Hamori. A história relata a vida monótona de um escritor anônimo chamado José Costa, que para fugir de sua realidade no Rio de Janeiro encontra em Budapeste e no húngaro uma saída para seus problemas existenciais.
Costa escreve best sellers e não os assina, é casado com uma jornalista egocêntrica e tem um filho que é menosprezado pelo casal. Leonardo Medeiros está incrível no papel de intelectual depressivo e as poucas risadas vêem de seus diálogos excêntricos.
Em Budapeste, Costa conhece Kriska, a mulher que o ensina húngaro e pela qual ele se apaixona. Mesmo falando línguas tão diferentes, eles se comunicam e o filme traz boas cenas deste relacionamento, que é quase uma paixão infantil.
O filme tem o mesmo andamento do livro, é lento, a história não caminha e quando acaba você fica com a nítida impressão de que não entendeu alguma coisa. Quando soube que haviam lançado o filme, fiquei curiosa porque não compreendia como conseguiriam transformar em roteiro uma história tão subjetiva e tão ligada às palavras, mas Walter Carvalho conseguiu e em termos de adaptação de livro para obra audiovisual o trabalho dele foi genial.
Alias esta é a primeira direção que Carvalho assina sozinho, apesar de ter trabalhado como diretor de fotografia em vários sucessos nacionais como “O Céu de Suely”, “Cazuza” e “Carandiru”.
Nos extras do DVD tem o making off , que é tão vazio como o filme, os atores parecem não conseguir expressar o que significam seus personagens.
A obra passa por diversos questionamentos, como a indústria literária, a espetacularização, o vazio existencial, a solidão; porém, são tantas temáticas que o leitor/ espectador perde o interesse. Chico Buarque é indiscutivelmente o mestre das palavras e o livro traz trechos deslumbrantes, mas particularmente ainda o prefiro como compositor.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

“Abrazos Rotos” – Almodóvar


Falta Almodóvar no novo filme de Almodóvar. A frase pode parecer sem sentido, mas o nome do diretor já é um adjetivo que descreve filmes surpreendentes, personagens excêntricos, historias dramáticas em cenários extremamente coloridos.
“Abrazos Rotos” ( Abraços Partidos) foi lançado na Europa em outubro e ainda não chegou ao Brasil. O diretor traz nos papéis principais suas atrizes favoritas: Penélope Cruz e Blanca Portilla e o elenco conta também com Lluis Homar e Rossy de Palma.
O filme segundo o que declarou Almodóvar no lançamento é uma declaração de seu amor pelo cinema. O roteiro é rico em metalinguagem, já que relata a história de um diretor e roterista de cinema no processo de produção de um filme.
A história não é linear, isto é bem Almodóvar, e avança e volta no tempo várias vezes, mas sem que o espectador se sinta perdido. O filme começa com um diretor de cinema cego, chamado Harry Caine tendo um caso com uma mulher bem mais jovem, que lê o jornal para Caine e entre as notícias diz que o empresário Ernesto Martel morreu, Caine fica claramente assustado com a informação.
O nome de Martel e o passado de Caine e de sua assistente Judit é o fio da história, que se desenrola com personagens gananciosos e com relações problemáticas. O tema familiar e a falta da presença paterna que são presenças constantes nos filmes de Almodóvar também estão neste filme, porém, de maneira menos intensa que em suas obras anteriores.


A melhor parte da obra é a releitura que o próprio diretor faz de “Mulheres à beira de um ataque de nervos”, para quem gostou deste filme uma grande oportunidade de rever cenas com outras atrizes interpretando.
O grande problema está na expectativa que um filme de Almodóvar causa, o filme é bom, mas o desfecho da trama foca-se apenas na personagem Judit, que relaciona todos os fatos sentada em uma mesa de bar e o pior é que algumas das revelações são previsíveis.
Falta o imprevisível, falta cor e falta drama, mas ainda assim é um filme que vale a pena ser visto.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O “Iê Iê Iê” de Arnaldo Antunes




Sabe quando você come algo, tá gostoso, mas hum....tá faltando alguma coisa. Assim foi a sensação que tive ao sair do novo show de Arnaldo Antunes: “Iê Iê Iê”.
O CD que saiu do forno em setembro, teve a produção de Fernando Catatau, que também  é criador de uma banda que vale muito a pena escutar: “Cidadão Instigado”, e contou com o apoio da Natura, o que rende shows a preços populares pelo Brasil a fora.
Se pudesse falar somente da produção a nota seria dez, o cenário é lindo e simples composto de inúmeras camisetas coloridas, a iluminação envolve o público e acompanha incrivelmente bem o estilo do show, os figurinos são divertidos e Arnaldo está dançando freneticamente.
O problema são as músicas, Antunes buscou resgatar o inicio de sua carreira, com sonoridades mais simples e letras menos elaboradas. O show começa bem, mas vai ficando cansativo já que o ritmo não muda muito, uma espécie de tecnobrega e jovem guarda, um tanto repetitivo.
Além das músicas novas, o compositor faz releituras de velhos sucessos seus como “Consumado”, “Essa Mulher” e “Socorro”. E interpreta de maneira inovadora músicas conhecidas do grande público como “Quando você decidir”de Odair José , “Ela é Americana” de Dorgival Dantas e “Vou Festejar” , de Jorge Aragão.
Como letrista, Antunes sempre é incrível, destaque para a romântica e irônica “Sua Menina” (“Você trata muito mal sua princesa/um dia ela vai virar a mesa/seu olhar só vê o seu umbigo/ um dia ela vai ficar comigo”) e para a divertida “Invejoso” (“Invejoso querer o que é dos outros é o seu gozo/ e fica remoendo até o osso mas sua fruta só lhe dá caroço”).
O show vale para dançar engraçadinho e dar uma risadas, mas já fico no aguardo da próxima experiência musical de Arnaldo.


( Este texto está também no site http://www.cozinhasonora.com.br/ , um novo espaço para debater música na rede. Visite!)

sábado, 24 de outubro de 2009

Excentricidade e sensibilidade


As maneiras de lidar com a morte, este é o tema principal do filme japonês “A Partida” (Okuibito), que recebeu o Oscar deste ano como melhor filme estrangeiro e de diversos prêmios no Japão, China, Canadá e Estados Unidos.
O roteiro narra a história de um violoncelista (Daigo) que ao perder seu emprego em uma Orquestra que não recebe apoio, acaba encontrando trabalho em uma empresa funerária, porém, os funerais japoneses são ritualísticos e o cadáver além de ser maquiado, é lavado e vestido de uma maneira toda especial antes de ser cremado.
A atividade do funcionário que prepara o “nokanshi” é desprezada pela sociedade japonesa, e o músico esconde o novo trabalho de sua mulher Mika, quando ela descobre não aceita o emprego de seu marido e sai de casa. Daigo apesar da solidão, redescobre a paixão pela vida e percebe o quanto é preciso valorizar as pessoas e cada momento da existência.
A filmagem é de uma delicadeza impressionante, os objetos, os olhares e pequenos gestos ajudam a contar esta história que leva a muitas reflexões. É uma ótima oportunidade de conhecer um pouco da cultura japonesa, rica em simbolismos.
Ao assistir, as lágrimas se misturam a sorrisos, já que existem momentos em que os exageros nas atuações se tornam engraçados e dá para perceber porque os desenhos de mangá fazem tantas caretas.
Daigo encontra pessoas, famílias, religiões, histórias e encontra a tranquilidade quando reencontra seu pai, que não via desde os seis anos.
A relação entre o antigo e o moderno fica clara quando a orquestra é desvalorizada e quando a casa de banhos, que Daigo frequenta desde pequeno está ameaçada de fechar. É o novo Japão, das cidades grandes, das tecnologias convivendo com o Japão milenar, rico em costumes tradicionais.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A nova produção de Tarantino-“Bastardos e Inglórios”


Assistir Tarantino sempre é uma experiência surpreendente, mesmo que alguns não gostem de seu estilo extremamente irônico e sanguinário, é inevitável aceitar que o diretor é genial em reunir diferentes linguagens.
“Bastardos e Inglórios”, lançado no Brasil neste mês, se passa na França durante a ocupação dos nazistas. A história começa com a caça aos judeus pelo coronel Hans Landa e o assassinato da família Dreyfus, cuja única sobrevivente é Shosana, uma menina que consegue fugir e assume uma identidade falsa para sobreviver aos nazistas e torna-se dona de um cinema.
O filme até aí parece apenas mais uma obra sobre o nazismo, até que entra em cena o bando conhecido como “Bastardos”, que tem como objetivo matar todos os nazistas e não somente com tiros, mas também com tacos de beisebol, bastões,facas e bombas relógio. O bando é comandado pelo personagem de Brad Pitt que traz uma interpretação bem parecida com o cigano Mickey de “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes”.
Shosana reencontra o coronel que matou sua família por acaso, quando seu cinema é escolhido para o lançamento de um filme de Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista. Todos os membros do alto escalão do movimento nazista estavam presente no lançamento e tanto Shosana quanto o bando tinham um plano para acabar com a festa.
Durante as duas horas e meia de projeção é impossível ficar mais que cinco minutos sem dar risada, os diálogos são ricos em ironias, especialmente no personagem do coronel Hans e o diretor usa e abusa da violência, que ganha contornos de humor negro, mas como só Tarantino sabe fazer.
Para quem gosta do diretor fica como dica o curta “Tarantino’s Mind”, em que Selton Mello e Seu Jorge criam uma teoria que vincula uns aos outros os principais personagens de Tarantino. O curta está disponível http://video.google.com/videoplay?docid=1511515986562993804#

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Música da Boa- Kiko Dinucci e Bando AfroMacarrônico



Se você está a procura de um novo som e nunca ouviu falar em Kiko Dinucci e o Bando AfroMacarrônico, ai vai a dica. O último álbum “Pastiche Nagô”, lançado simultaneamente no Brasil e Estados Unidos, ficou na lista dos 25 melhores discos de 2009 da Revista “RollingStone” e reúne uma mistura incrível de ritmos africanos e música latino-americana.
O paulista Kiko Dinucci é multiinstrumentista, compositor, produtor de vídeo, roteirista e artista plástico, dentre seus trabalhos está o longa “Carandiru” de Hector Babenco. A cultura popular e afro-brasileira que acompanha sua obra musical também está presente nas artes gráficas.
O Bando começou em 2001 e sempre buscou expressar a miscigenação da cultura brasileira, tendo como base o samba, já que umas principais influências de Dinucci é Adoniran Barbosa. “Adoniran é universal, ao mesmo tempo em que ele fala muito do pedaço de chão nosso, ele ta falando do mundo, do ser humano”, definiu o músico em entrevista ao programa “Metrópolis” em janeiro deste ano.
Os músicos já tocaram na Alemanha, Polônia e Itália acompanhando a banda de jazz “São Paulo Underground”. O Bando que tinha como essência o samba, ultrapassou barreiras e hoje envolve todo tipo de sonoridade, porém, o trabalho é incrível e reúne artistas que não tem limites para a experimentação e que usa todo contato com o público como oportunidade de criação.
Para conferir: www.myspace.com/afromacarronico

domingo, 11 de outubro de 2009

Era para rir? – “Os Normais 2”

Um dos filmes mais assistidos do cinema nacional: “Os Normais 2”, já superou 370 mil espectadores desde agosto deste ano. Parece que a Globo Filmes descobriu como alcançar um grande público frequentador dos cinemas brasileiros que é apaixonado por comédias com um jeitinho de televisão.
“Os Normais 2” assim como a continuação de “Se eu fosse você”, tem arrancado gargalhadas dos brasileiros. Tanto um quanto outro vem carregado de piadas prontas, clichês e falta de criatividade.
O filme estrelado pelo conhecido casal Rui e Vani (Luis Fernando Guimarães e Fernanda Torres) não alcança a mesma qualidade do seriado que passou mais de dois anos na televisão aberta, sem contar as reprises nos canais pagos.
Para quem é fã da série o filme até encanta, por podermos rever o casal, mas não passa disso. O filme começa com os dois personagens dizendo que para fazer uma comédia não precisam falar palavrão, então eles leem uma lista enorme de palavrões e afirmam que os espectadores não vão ouvir nada disso neste filme.
Claro que os que já conhecem os personagens sabem que aquilo é mentira, afinal, o programa sempre foi regado a palavrões. No entanto, a brincadeira acaba funcionando como uma crítica ao próprio filme, que ultrapassa o bom senso no uso das palavras.
A trama toda acontece em um só noite, em que os dois após 13 anos de noivado percebem que o relacionamento caiu na rotina, para renovar Vani resolve aceitar os insistentes convites de Rui para fazer um “ménage-a-trois”. O casal então busca por uma mulher que tope o programa, a primeira delas é a prima Silvinha (Drica Moraes), que aceita o convite,o relacionamento que aparentemente vai dar certo acaba no hospital. Já neste momento, em que estamos ainda nos primeiros vinte minutos de filme fica clara a proposta do diretor José Alvarenga Júnior (“Divã”): um humor que mistura “pastelão” com humor negro, com personagens se machucando e velhinhas caindo pela janela.
Como não deu certo com Silvinha, Rui e Vani continuam a busca que passa por Danielle Winits, Cláudia Raia, Daniele Suzuki e Aline Moraes. A noite parece não ter fim, já que os dois passam por todo tipo de situação, de ficarem trancados no banheiro a serem roubados.
Os roteiristas Alexandre Machado e Fernanda Young buscando desesperadamente fazer rir exageram nas situações, acontece tanta coisa e tanta situação sem graça que você sempre fica com a esperança que nos próximos minutos algo mais engraçado aconteça, mas não acontece, já que todo o humor é construído em cima de sexo e palavrão.
Vale mais continuar assistindo as reprises da série que perder tempo com esse filme.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Comédia Romântica


Um dia desses andando pela locadora, procurando um filme bobinho para passar o domingo aluguei “Romance” (2008), o nome parecia dizer tudo, mais uma comédia romântica “água com açúcar”.
No entanto, me surpreendi, apesar da história simples o filme é rico em metalinguagem e poesia e arranca risadas e lágrimas. A direção é de Guel Arraes (“O Auto da Compadecida” / “Lisbela e o Prisioneiro”), o roteiro é de Jorge Furtado (“Meu tio matou um cara”) e no elenco estão Letícia Sabatella, Wagner Moura, Andréa Beltrão, Marco Nanini e José Wilker.
Ana (Sabatella) e Pedro (Wagner Moura) são atores de teatro, Pedro está montando a peça “Tristão e Isolda” e escolhe Ana para contracenar com ele na peça. O amor deles nasce entre a ficção e a realidade e diversas vezes o espectador não sabe se eles estão encenando ou se é verdade e esta metalinguagem que torna o filme tão interessante.
Os atores vivem a paixão até que Ana é convidada para estrelar uma novela, durante um tempo ela fica entre o teatro em São Paulo aos finais de semana e as gravações no Rio de Janeiro. Com o sucesso dela na TV as peças de Pedro recebem grandes platéias, mas ele está insatisfeito, argumenta que as pessoas estão ali para ver a atriz da novela e não pelo teatro, diante de crises de ciúme a paixão dos dois fica insustentável.
Tempos depois Pedro é convidado a dirigir uma minissérie na televisão e cria uma versão nordestina para “Tristão e Isolda”, neste momento o roteiro busca a comicidade, o que de certa forma atrapalha o resultado final, algumas piadas prontas e clichês quebram o andamento do filme.
Apesar desta quebra, os atores conseguem sustentar a obra, que tem alguns pontos fortes como a maneira irônica com que trata a vaidade dos atores famosos, representado especialmente pelo personagem de Marco Nanini.
A força do filme está também na trilha sonora, que tem como tema “Nosso estranho amor”, interpretada por Caetano Veloso. O roteiro lembra um pouco a série “Som e Fúria”, produzida este ano por Fernando Meirelles, que mostrou os bastidores do teatro.
Nos extras do DVD é possível assistir o making of e o episódio de “Tristão e Isolda” que é gravado dentro do filme.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Nova música brasileira- Roberta Sá



Mulheres e música popular brasileira, a boa combinação virou moda nos últimos tempos com o lançamento de inúmeras cantoras jovens regravando antigos sucessos ou compondo a nova MPB. Dentre as inúmeras vozes, algumas inevitavelmente se destacam, Roberta Sá é uma delas.
Vinda do Rio Grande do Norte, mas crescida no Rio de Janeiro, Roberta faz um samba que mistura boas doses de brasilidade. O vínculo com a música veio desde pequena, mas foi somente aos 20 anos, quando estava ainda na faculdade de jornalismo que se descobriu cantora e pela insistência de sua professora de música foi participar do programa “Fama”. Pouco tempo depois teve sua voz na novela das oito “Celebridade”, com a música “A vizinha do Lado” de Dorival Caymmi.
O primeiro CD só saiu em 2004: “Braseiro”, com as participações especiais de Ney Matogrosso, MPB-4 e Pedro Luis e a Parede. O disco reúne composições conhecidas dos amantes do samba e da bossa nova, com letras assinadas por Chico Buarque e Paulinho da Viola. Neste primeiro trabalho Roberta revela sua voz, mas ainda não mostra sua personalidade, o CD é bem calmo, bom para ouvir em dias de chuva.
Apesar da inexperiência da cantora, este trabalho rendeu uma turnê nacional e shows em Portugal e na Alemanha.
Em 2007 vem o segundo álbum “Que belo estranho dia para se ter alegria”, que encanta os ouvidos desde o começo com músicas fortes, diversidade de ritmos e ótimas interpretações. As grandes parcerias continuam com Lenine, Carlos Malta e Pife Muderno. Neste CD o público pode conhecer a grande paixão de Roberta: o samba e a cantora se revela uma grande intérprete de letras bem-humoradas, impossível ouvir suas músicas e não sentir vontade de sair falando bom-dia por aí.
A música que dá origem ao título do álbum é de Lula Queiroga, um músico e compositor que tem parcerias com grandes nomes da música nacional e que pela riqueza de sua obra valeria tantos outros artigos.
Para quem gosta de ver o ouvir as músicas de destaque da cantora estão disponíveis também em DVD, gravado durante show no Rio de Janeiro. O diferencial deste último trabalho são dois duetos, um com Ney Matogrosso e outro com Chico Buarque.
Confira um pouquinho desta cantora que já tem lugar reservado na história da música brasileira: www.robertasa.com.br

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Experimentalismos

Reunir televisão e Internet é uma busca dos comunicadores na atualidade, com sites cada vez mais interativos e novas ferramentas o público pode a qualquer momento saber o que vai acontecer na novela ou a pauta dos principais jornais.
Interatividade tem sido uma palavra frequente que envolve um futuro que já começou: a televisão digital. Nesta busca por novas linguagens estreou no último domingo o programa “Norma”, uma produção da Rede Globo que busca o máximo da participação do público, que pode opinar pelo twitter, blog, vídeos ou no estúdio de gravação.



A personagem vivida por Denise Fraga tem 40 anos, uma filha adolescente e é separada há cerca de nove meses. Norma fez Psicologia, trabalha em um instituto de pesquisas e costuma fazer suas escolhas a partir de pesquisas ou da opinião de outras pessoas. A direção é assinada por Luis Villaça e o roteiro final é de Maurício Arruda, os mesmos profissionais do programa “Retrato Falado”.
O programa funciona assim: a equipe de produção coloca no site (http://participenorma.globo.com/) toda semana algumas perguntas como: “Como foi a sua primeira vez?” e qualquer um pode contar sua história. Outra opção é enviar um vídeo que pode sugerir cenas para o programa, relatar alguma ideia, enfim é um espaço livre e também tem um Chat em que o público pode acompanhar as gravações pela Internet e ir sugerindo mudanças no roteiro. Para os que gostam de escrever há a opção de redigir cenas completas.
A Denise Fraga alterna entre o bate-papo com o público e as encenações da Norma. Além do cenário do instituto de pesquisas onde fica a platéia, o programa é gravado em outros ambientes como a casa onde Norma mora com a filha, o barzinho que frequenta e cenas externas onde Denise fala com o público na rua.
A experimentação ficou muito clara neste primeiro episódio, excesso de assuntos de uma vez só e algumas participações do público que não acrescentaram muito à história atrapalharam a estréia, mas acredito que os produtores vão achar o equilíbrio e este pode ser um primeiro passo para programas realmente diferentes na televisão brasileira.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Silêncio na América Latina


A voz marcante que une os latino-americanos, que revela a riqueza deste continente multifacetado nos deixou neste domingo. A intérprete argentina Mercedes Sosa foi uma das maiores representantes da nossa música, cantou composições de vários países do continente, celebrou a cultura indígena e evidenciou a sabedorias dos povos oprimidos.
Sosa nasceu na província de Tucumán, a cerca de mil quilômetros de Buenos Aires e cantou desde muito jovem as canções populares que aprendeu em sua comunidade. Ficou conhecida com “la negra”, referência os seus cabelos negros e seus traços indígenas, o apelido carinhoso ajudou a mudar o sentido pejorativo da palavra negra na Argentina.
A cantora gravou seu primeiro disco na década de 60: “Canciones com Fundamento”, na década seguinte já era reconhecida por denunciar a opressão e foi proibida de cantar na ditadura de 1976. Mercedes viveu em Madri e Paris e voltou ao seu país somente em 1982, gravando “Mercedes Sosa en Argentina”.
Com a volta da democracia Sosa experimentou vários ritmos e fez parcerias musicais ao redor do mundo, porém, sua obra mais lembrada é “Gracias a La Vida”, escrita pela chilena Violeta Parra. No fim da década de 80 a cantora gravou “Amigos mios”, em que se reuniu com nomes latino-americanos como Milton Nascimento, Pablo Milanés (Cuba) e Charly Garcia(Argentina). Além deste disco a cantora organizou um dos mais importantes espetáculos apresentados na Argentina: “Sin Fronteras” que reuniu sete cantoras do continente, incluindo Beth Carvalho.
Entre Cds próprios e participações, a voz de Mercedes está presente em mais de 90 gravações, sendo que o último deles: “Cantora”, lançado em 2009 conta com a participação de Daniela Mercury. Mercedes foi amiga e gravou canções com muitos músicos brasileiros como Fagner, Chico Buarque e Maria Rita.
Além da voz inconfundível, Mercedes era uma figura forte com um sorriso encantador, que deixa um legado de músicas que nos fazem sentir orgulho das origens latino-americanas.



Filme alternativo?



O cenário é a Irlanda, o tema é um romance entre dois desconhecidos que tem a paixão pela música em comum. “Apenas uma vez”, vencedor do Oscar de melhor canção em 2008 é um daqueles filmes, que você passa uma hora e meia esperando algo acontecer e nada acontece.
O filme busca o tempo todo ser alternativo, com filmagens através de vidros, closes em detalhes aparentemente sem importância, luzes amareladas, câmera na mão, objetos antigos, cenários “kitsch”,” flashbacks” em preto e branco,silêncios prolongados, porém, sem um bom roteiro a obra não convence. A história é bem simples: um homem que conserta aspiradores de pó na loja do pai e é músico nas horas vagas, tocando pelas ruas de Dublin para receber alguns trocados conhece uma imigrante tcheca que vende flores para os transeuntes e nas folgas toca piano em uma loja de instrumentos musicais.
Os dois são solitários, tiveram decepções amorosas e não têm muitos planos. Ao se conhecerem descobrem que formam uma bela dupla musical e passam uma semana juntos tocando e chegam a gravar um CD.
Os protagonistas são músicos e compositores na vida real: Glen Hansard e Marketa Irglova, o diretor também é músico: John Carney, talvez seja por isto que vale mais a trilha sonora que o filme em si.
Muitos diálogos são substituídos por canções, mas que não soam como os divertidos musicais, mas sim como clipes enfadonhos, assim nos poucos momentos em que o casal conversa as palavras são repetitivas e não acrescentam muito à história, especial ao personagem masculino que responde “cool” para quase tudo, em uma tentativa de demonstrar sua timidez.
Há uma clara tentativa do diretor em aproximar o público dos personagens filmando olhares e sorrisos, mostrando o quanto a vida dos dois é difícil, porém, eles não tem nome, suas atuações soam falsas algumas vezes e os sentimentos não ficam claros.
Talvez o filme valha por algumas músicas ( que até foram escolhidas para abrir alguns shows de Bob Dylan) e pelas cenas que mostram a Irlanda. Apesar de ter sido sucesso de público no Festival Sundance e ter recebido o Oscar, acho que falta muito para este ser um bom filme, que vá além dos elogios à trilha sonora.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Um dia com Luis Fernando Verissimo


A paixão pela música veio antes do encontro com a literatura, no entanto, é por seu jeito inconfundível de retratar as situações cotidianas que Luis Fernando Veríssimo é conhecido.
Humildade talvez seja a melhor palavra para descrever este homem que aos 72 anos mantém uma saúde de causar inveja e um olhar sensível e amoroso para os que dele se aproximam.
O autor é saxofonista desde os 17 anos, idade em que morava com seu pai Érico Veríssimo , nos Estados Unidos. “A música me dá mais prazer que a literatura”, afirma o escritor que já perdeu as contas de quantos livros publicou.
Para manter seu vínculo com a música, Veríssimo faz parte do grupo Jazz 6, formado por músicos profissionais de Porto Alegre e que já tem quatro cds lançados. “Nunca me aprofundei na música ou mesmo no instrumento, o sax alto. Só o que eu queria era poder brincar de jazzista. Que é o que eu faço até hoje”.
A literatura só veio aos 30 anos, quando deixou as agências de publicidade para trabalhar em jornais. “Descobri minha vocação um pouco tarde e fiz de tudo para ser cronista, até horóscopo”. Além dos livros, Verissimo escreve semanalmente em grandes jornais do país e é chargista. Ao ser questionado sobre como consegue ter tanta inspiração, a resposta simples vem em seguida: “A musa do cronista é o prazo de entrega”.
O autor é tímido, uma timidez que o torna ainda mais encantador, porém, é só subir no palco para falar ou para tocar que ele revela porque é o grande artista que é. Para quebrar a timidez basta falar de sua família. “Meus três filhos são escritores: um compositor, uma roteirista e uma pesquisadora”, diz com brilho nos olhos.
Dentro de sua intensa produção o autor não tem um livro favorito, apenas salienta que foi “O Analista de Bagé” que lhe deu visibilidade. Na bibliografia de seu pai, o livro favorito é “O Tempo e o Vento”, sendo que o primeiro da trilogia nomeado “O Continente”, para Luis Fernando é o mais expressivo. “Meu pai foi um dos primeiros brasileiros a fazer literatura urbana, informal e despojada. Ele foi incompreendido em sua época, mas foi descoberto pela crítica”.
Sobre as novas tecnologias, Veríssimo se mantém distante da Internet. “Uso o computador como uma máquina de escrever, exceto pelo e-mail. Nem sei bem o que é twitter”, porém, existem vários perfis falsos seus na rede de “microblogs”, um deles tem mais de 4 mil seguidores.
O sucesso não parece atrapalhá-lo em nada, Veríssimo tira fotos, abraça, escuta com paciência todos os fãs que se aproximam, seja para dar um presente ou simplesmente um abraço.
A leitura no Brasil ainda é um problema, no entanto, o autor acredita que textos curtos e  bem humorados podem ser uma maneira de atrair os jovens leitores. “Acho que o que está sendo feito em muitas escolas, com feiras de livros, encontros com escritores e a encenação de textos literários está dando resultados. Agora, o mercado editorial só melhorará quando a economia de todo o país melhorar, uma coisa não pode ser desassociada da outra”.
Seu último livro está no prelo, será lançado pela editora Objetiva e chama-se “Os Espiões”, sobre a obra Veríssimo não revela muito, somente que trata-se de um romance que não foi encomendado pela editora e que história se passa em um cidade fictícia do interior do Rio Grande do Sul.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A PAIXÃO PELAS LETRAS E PELA MÚSICA

“Fiz de tudo para ser cronista, até horóscopo”, assim Luis Fernando Veríssimo conta como foi o começo da sua carreira. O escritor, conhecido pelo seu bom humor participará de mais um encontro do projeto “Café com Letras” realizado pela Fundação Feira do Livro

no próximo dia 18, às 19h no Cineclube Cauim.

Após o bate-papo com o autor, o público conhecerá as facetas de Veríssimo como saxofonista do grupo Jazz 6, que irá trazer para o palco composições de seu quarto CD “Four”, que reúne música brasileira dos anos 60 e música norteamericana.

O autor e músico se apaixonou pelo sax na adolescência, no período em que morou nos Estados Unidos com seu pai Érico Veríssimo. “Já que estava indo para a terra do jazz, aprenderia a tocar um instrumento e procurei um curso de música. Mas nunca me aprofundei na música ou mesmo no instrumento, o sax alto. Só o que eu queria era poder brincar de jazzista, que é o que faço até hoje”, afirmou.

Apesar da intensa produção, com publicações nos principais jornais do país e mais de 60 livros, o autor afirma que não tem uma rotina rígida de trabalho e que evita dar palestras e entrevistas o máximo possível, para ter tempo para produzir.

O humor, segundo o autor, pode ser uma das ferramentas para atrair o leitor jovem, mas existem muitas outras maneiras de incentivar a leitura, como feiras, encontros e encenações teatrais. Sobre sua última obra “Os Espiões” (Objetiva), o autor somente revelou que a história se passa em uma cidade fictícia do interior do Rio Grande do Sul.

SERVIÇO:

- Café com Letras com Luis Fernando Veríssimo e apresentação da banda Jazz 6

- Dia 18/09, às 19h

- Cineclube Cauim (Rua São Sebastião, 920)

- Gratuito. Retirada de ingressos na bilheteria do Cineclube, dia 18, das 14h às 22h

- Maiores informações: (16) 3911 1050

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O Leitor



A paixão pela literatura, o holocausto e um amor obscuro. Os três temas juntos compõem o filme “O Leitor”, obra dirigida por Stephen Daldry (“As Horas”), baseada em livro homônimo de Bernhard Schilnk.


O filme concorreu a cinco Oscars em 2009, sendo que a atriz Kate Winslet ganhou o de melhor atriz. Kate interpreta Hanna, uma mulher misteriosa de 36 anos, que se envolve com um jovem de 15 anos, Michel. A relação que dura apenas um verão envolve sexo regado a clássicos da literatura, o menino lê histórias todos os dias para Hanna.


O que para a mulher, aparentemente, foi apenas uma relação superficial, marcou a vida de Michel, que durante anos tem dificuldade em se relacionar com outras pessoas.


A história é toda contada por Michel (Ralph Fiennes), que relembra a relação ao encontrar Hanna em um tribunal, acusada por ter sido guarda em um campo de concentração. Neste momento o segredo que Hanna carregou pela vida toda pode diminuir seus anos na cadeia, porém, ela prefere omitir o que aconteceu e é sentenciada à prisão perpétua.


Os dois mantêm contato durante anos através de cartas, em que Michel envia fitas de áudio com leituras dos livros preferidos de Hanna. O filme caminha lentamente e envolve a cada instante com seus silêncios e detalhes.


Na história não existem erros ou acertos, os personagens são tão humanos que nos sentimos próximos a eles e para contar suas vidas o diretor não precisou de grandes falas, somente de olhares e gestos muito bem encenados pelos atores.


O drama do holocausto funciona como pano de fundo de uma paixão que apesar das imensas distâncias permaneceu. No entanto, a obra é bem mais do que um filme de amor.

domingo, 6 de setembro de 2009

DonaZica: criatividade brasileira



Letras que vão além de poemas de amor, composições que trazem surpresas, com misturas inusitadas de MPB, música eletrônica e sonoridades regionais. O nome da banda é “DonaZica”, um coletivo de nove músicos com influências diferentes que produziram apenas dois CD’s que sensibilizam os apaixonados por músicas experimentais brasileiras.


A banda foi idealizada pelas artistas Iara Rennó e Andréia Dias, ambas com ricas produções individuais. Iara tocou profissionalmente com Alzira Espíndola e Itamar Assumpção, participou do projeto Rumos do Itaú Cultural com um trabalho de composições baseado na obra Macunaíma. Andréia é compositora e caminha com facilidade do rock ao samba, desde 2003 é vocalista da banda Glória.


Os dois trabalhos lançados “Composição” (2003) e “Filme Brasileiro” (2005) se complementam. O primeiro foi produzido todo de maneira autoral e tem influências das vanguardas artísticas, com um olho para o futuro, como explica a própria Iara Rennó (http://dona.zica.sites.uol.com.br). Cada música deste álbum tem uma característica bem particular, algumas remetem às cantigas de roda, outras ao universo da música eletrônica e do Hip Hop, em comum as vozes femininas se sobrepõem e se complementam.


“Filme Brasileiro” traz sete composições (referência à sétima arte) que revelam as preocupações dos artistas com cada detalhe, que buscam as sonoridades e sentimentos que formam o cotidiano do Brasil. Além das composições sonoras, preste atenção nas letras, ricas em brincadeira com os significados das palavras.


Para ouvir: http://www.myspace.com/donazica



Protesto Pessoal( Iara Rennó)



“essa conduta
de dizer que não tem escolha é muito simples
é bem mais fácil pedir desculpa por tirar o corpo fora
do que encarar o que rola aqui e agora
inconsciente da sua capacidade e força transformadora
negar a responsa ficar à toa enquanto a vida voa
não se envolver de verdade
não se expor com medo da dor
dar pouco e receber menos da metade
depois lamentar porque já ficou tarde
acorda tira essa corda do pescoço
não adianta estar morto nem resolve andar torto
encosto
perdido no vago do próprio umbigo
cansado sugado querendo achar um culpado
sempre a mesma conversa de que tá tudo errado
que a sociedade não presta
acredite a sociedade começa na sua testa...”

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Sobre a obrigatoriedade do diploma

Um professor da graduação em jornalismo da Unaerp( Luis Eblak) escreveu um texto http://www.unaerp.br/comunicacao/professor/eblak/arquivos/20092/diploma_formacao.pdf) sobre a obrigatoriedade do diploma e propôs uma discussão sobre o tema. Postei a minha opinião:

Penso que a não obrigatoriedade do diploma pode colaborar para a melhoria da formação para jornalistas e para a melhoria da prática jornalística com profissionais mais envolvidos. Acho que na atualidade a não obrigatoriedade do diploma para ser jornalista já é uma realidade, com a imensidão de blogs que muitas vezes são responsáveis pelos “furos” de reportagem.
Ser jornalista é saber ouvir, transmitir uma informação, selecionar dados, é expressar a realidade para os que não viveram aqueles momentos e a faculdade de jornalismo, ao menos como está agora no Brasil, não torna ninguém mais capaz de fazer isso, você se forma jornalista para saber o que é “lead”, “pirâmide invertida” e saber contar caracteres, e ser jornalista é bem mais que essas regras.
Se um economista sabe se expressar muito bem, consegue “traduzir” os termos da economia e compreende as necessidades do público, eu acho sim que ele tem todo o direito de se expressar.
Os pequenos jornais do país já contratavam pessoas não formadas, os grandes jornais já exigiam muito mais que o diploma. Acho que a discussão tem que acontecer em torno da valorização da prática jornalística, da melhor formação, o que vai além de um diploma na parede. Faria jornalismo de novo, mesmo sabendo da não obrigatoridade, faria por ser minha primeira paixão, pelo contato com outras pessoas, pelas experiências, pela oportunidade de poder errar e ter alguém para te ajudar sempre...enfim....a faculdade não foi uma maravilha, tenho um milhão de críticas: pelo tecnicismo, pela falta de incentivo ao universo acadêmico, pelas poucas indicações de leitura, pela biblioteca desatualizada, por professores dando aulas de matérias que não compreendiam bem....mas tenho ótimas lembranças de aulas que foram incriveis e que mudaram minha maneira de escrever, de olhar a realidade e até mesmo que me ajudaram a perceber quem eu sou de verdade.
Estou com muitas dificuldades no mestrado, por ter só agora percebido o quanto a comunicação é complexa, que as teorias vão muito além da escola de Frankfurt e que há muito o que se discutir, o que se descobrir, especialmente com as novas tecnologias. Já me senti mal pro não ter tido a base teórica necessária na faculdade, mas ao mesmo tempo sinto que tenho nas mãos a oportunidade de ser mais uma " formiguinha" na luta por um ensino melhor....sei que profissional quero ser e espero conseguir e devo muito aos que passaram pela minha formação universitária.
Acho que o jornalista e todos os profissionais devem continuar sempre estudando e se aprimorando. Acredito que a área acadêmica tem muito a colaborar com a o mercado de trabalho e vice-versa. O objetivo da maioria dos meus colegas da pós é que a pesquisa colabore em uma prática do jornalismo mais consciente e, principalmente transformadora.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Quando o filme é melhor que o livro

Sempre que leio um livro, imagino os rostos dos personagens, as roupas e um filme vai se construindo enquanto folheio as páginas. Quando o filme é lançado corro para ver se a minha imaginação e a do diretor cinematográfico se parecem, assim posso criticar a vontade a falta de uma parte da história do livro no roteiro do filme e a cor do cabelo da personagem principal.

A parte mais divertida dessa experiência, ao menos para mim, é ficar criticando o diretor, o produtor e até entrar em alguns blogs e sites, porque criticar junto com outras pessoas é bem melhor e a tendência é sempre a mesma: gostar mais do livro que do filme.

O filme “Divã” fez um sucesso estrondoso, acompanhando a tendência do brasileiro de ir ao cinema ver filme nacional com um “quê” de televisão. A história escrita por Martha Medeiros, que primeiramente foi adaptada para o teatro chegou aos cinemas com a direção de José Alvarenga Jr. (“Os Normais”).

“Divã”conta a história de Mercedes, uma mulher de 40 anos, mãe, casada, classe média, que decide ir ao psicólogo sem nenhum motivo em especial. Falar sobre sua vida com um total estranho faz com que a personagem reveja toda a sua vida, suas relações familiares e descubra que precisa mudar.

A primeira atitude da personagem é encarar que seu casamento já não tem a mesma paixão de antes e que talvez seja impossível recuperá-lo. Com a separação Mercedes vive algumas aventuras com homens mais jovens e experimenta novas sensações.

O livro é um pouco mais que uma auto-ajuda, tem alguns momentos engraçados, alguns vínculos com a vida real que valem a pena, mas no geral não tem nenhuma grande novidade, tudo fica um pouco repetitivo.

Já o filme vale mais, ao assisti-lo até pensei que deveria ter sido escrito somente em formato de roteiro. No cinema as piadinhas do livro fazem mais sentido e a atuação de Lilia Cabral dá um tom sensível à história e faz com que nos apaixonemos pela sua personagem.

O cinema de José Alvarenga une muito bem comédia e drama, intensificando as reflexões da obra literária. Um filme bom para uma tarde de domingo chuvosa.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

O humor de Mário Prata


O escritor Mário Prata é um dos mais conhecidos autores brasileiros. A escrita começou pelas influências da mãe que lia muito. “Aliás, naquele tempo lia-se muito mais no Brasil, falo da era antes da televisão. Eu morava no interior de São Paulo e a televisão só chegou no final dos anos 70. As professoras e padres diziam que eu escrevia bem e eu acabei acreditando”, explicou.
Prata foi gerente de banco em São Paulo, começou a cursar Economia na USP ( Universidade de São Paulo) e foi no meio de uma greve estudantil em 1969 que escreveu seu primeiro livro "O morto que morreu de rir". “Aliás, este livro é muito ruim, mas o Centro Acadêmico publicou".
Vendeu o livro para todos que conhecia e foi, aos poucos, adentrando no universo das letras. Trabalhou como jornalista, assessor do Secretário da Cultura, no governo Orestes Quércia, escreveu para teatro, cinema e televisão.
A obra “O Encontro Marcado”, do Fernando Sabino é um dos livros que marcou sua vida. “Li este livro com 14 anos. Descobri ali que a literatura não era apenas aqueles livros clássicos e chatos que mandavam a gente ler na escola. Podia-se escrever sobre outras coisas. E um autor foi o Campos de Carvalho, que me influenciou e muito. Pouco mais tarde, já com uns vinte anos descobri o Júlio Cortázar. Aí a minha vida nunca mais foi a mesma”.
A partir de 1992, Prata publicou um romance por ano, a maioria deles recheados de humor como é possível perceber até pelos títulos: “Mas Será o Benedito?” (1996) “Diário de um Magro” (1997), “Minhas Mulheres e Meus Homens (1999), e tantos outros.
O último lançamento é a obra “Sete de Paus”, um romance policial. “Quando resolvi escrever o livro, fiquei dois anos lendo policiais. Li exatos 207 livros. Um dia achei que o meu livro estava pronto, mas resolvi mudar o assassino e o reescrevi inteiro. Se a gente não manda para a editora, nunca termina. Sempre dá para trabalhar mais”, afirmou.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Literatura infantil


“Vida de moleque é vida boa, vida de menino é maluquinha”. Quem não cantarolou esta música de Milton Nascimento? Música que relembra a infância e fortalece a imortalidade da obra “O Menino Maluquinho” do mestre Ziraldo.
Ziraldo é pintor, cartazista, jornalista, teatrólogo, chargista, caricaturista e escritor. Seus trabalhos já foram traduzidos em diversas línguas e o autor é um dos maiores escritores infantis do Brasil, sendo que “O Menino Maluquinho” é um dos fenômenos editorias nacionais e foi inspiração para cinema e teatro.
Em 2009 o autor completa 40 anos de sua primeira obra infantil: “Flicts”, que conta a história de uma cor solitária que não encontrava seu lugar e decide após viajar muito partir para a lua.
Confira entrevista concedida por e-mail:

- O seu nome é sempre lembrado entre os que passaram pelo Pasquim. Como foi trabalhar neste período? O que este trabalho representa para a sua história?
Ziraldo: Fazer o Pasquim naqueles tempos, pra mim, foi um privilégio. A conhecida Canção do Soldado, um dos nossos hinos militares começa assim: “Amo tanto, estremeço essa terra / quero tanto ao meu vasto país / que, se um dia, eu partir para a guerra / eu irei bem contente e feliz!” Nunca pude imaginar ter um sentimento soldadesco assim. Não sei como se pode ir contente e feliz para a guerra. Não experimentei nenhuma felicidade pelo fato de ter ido para a guerra contra a Ditadura. Eu não tive como evitá-la. Mas tenho que reconhecer que, fazer o Pasquim durante aqueles tempos negros,foi um privilégio. Não posso imaginar de que maneira eu poderia ter atravessado os anos de ditadura sem poder manifestar minha indignação. E de maneira tão efetiva. Foi uma sorte ter vivido nas páginas do Pasquim os anos de chumbo da ditadura militar brasileira. É bom saber disso, é bom contar para os meus netos que eu não fiquei assistindo de braços cruzados ao triste espetáculo do desastre que foi este tempo para o Brasil e para o nosso futuro como nação.

- Como foi a sua passagem da escrita voltada para adultos para a infantil? O processo de produção para os dois públicos é muito diferente? Por quê?
Ziraldo: A viagem não foi da “escrita adulta” para a infantil. Eu era um cara que sabia desenhar. E a vida toda tinha usado o desenho como uma forma de narrativa e não como o desenho finito nele mesmo, como quem pinta ou grava. Pra mim, não mudou nada. Nos dois casos, desenhar ou escrever, eu trabalho é com a invenção. Em 1960, surgiu a possibilidade de fazer histórias em quadrinhos na revista O Cruzeiro, que era a realização do meu sonho até aquela data. Criei o Pererê e sua turma e durante 5 anos a revistinha vendeu muito. Em 1964, a revista parou e eu fui trabalhar em publicidade (porque eu sempre vivi de publicidade, sou desenhista de agência). Em 1963, comecei a colaborar com o JB no Caderno B, inventei os Zeróis, uma crítica dos heróis das histórias em quadrinhos e criei vários personagens, Vovó Maricota, que era uma velhinha viciada em loteria esportiva; a Supermãe e o Jeremias, o Bom. Em 1969, no mesmo ano em que lançamos o Pasquim, eu continuava no JB. Aí decidi acabar com a vida semanal do Jeremias e eternizá-lo num livro. Levei o livro para a Editora Expressão e Cultura. Fernando Ferro, um português sofisticadíssimo, topou fazer o Jeremias, mas me perguntou: “Você não tem um livro infantil?” Eu disse: “Claro que tenho um livro na gaveta”. “Traz amanhã” – ele falou. E eu tinha? Tinha nada. Tive que inventar um livro em uma semana. Um livro sem ilustrações, é claro. Foi assim que nasceu o Flicts. Em 1980, fiz outro livro para crianças que fez até mais sucesso do que o Flicts: o “Menino Maluquinho”. Aí, não teve jeito: virei autor de livros para crianças.

- Como nasceu a ideia do menino maluquinho?
Ziraldo: Foi assim: o Menino Maluquinho nasceu na época das palestras. A turma do Pasquim vivia dando palestras sobre tudo, pois o mundo queria saber o que estava acontecendo no país da ditadura. E a gente dava palestras de graça sem saber que os organizadores das palestras estavam ganhando uma baba! Um dia, fui falar para mães e mestres da Ilha do Governador, não sei se na universidade, no auditório da igreja ou se num colégio. Eu era especialista de assuntos gerais. Acabei falando sobre crianças, sobre filhos, sobre publicidade infantil. E disse que era contra preparar a criança para o futuro. Criança tem que ser feliz hoje para ser um adulto feliz no futuro. Às vezes, pode não dar certo, mas é mais provável que dê. Aí, sugeriram que eu escrevesse um livro com essa tese. Tá maluco? Não entendo nada de nada, sou espectador da alma humana. No caminho de volta, novamente me ocorreu que a tese podia dar um livro infantil. Daí para o Menino Maluquinho foi um pulo.

- Como e quando ele foi transformado em peça de teatro?
Ziraldo: Ah, não lembro, não. Aliás, tem um detalhe: todos os meus livros foram adaptados para o teatro, no Brasil inteiro. A única peça infantil que escrevi foi “A Bonequinha de Pano”.

- Como é a peça “A Bonequinha de Pano”?
Ziraldo: A peça foi escrita para uma atriz paulista chamada Zezé Fassina. É para uma só personagem. São dois atos: no primeiro a atriz faz uma boneca esquecida num sotão. No segundo ato ela faz a menina, dona da boneca, já adulta, que reencontra a boneca num velho baú de sua infância.

- Em que você está trabalhando atualmente? Quais seus planos?
Ziraldo: “Uma Menina Chamada Julieta”. É o meu livro do ano. Para ser lançado na Bienal/2009 no Rio de Janeiro. E breve devo lançar mais um ou dois da série “O Menino da Lua”.

terça-feira, 7 de julho de 2009

A Festa da Literatura

A segunda maior Feira a céu aberto do Brasil aconteceu de 18 a 28 de junho com intensa programação cultural. A 9ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto promoveu mais de 600 eventos gratuitos abrangendo literatura e manifestações artísticas.
Mais de 100 escritores da literatura nacional e internacional participaram de palestras e debates. Os 48 expositores levaram à Feira uma infinidade de livros com preços promocionais instalados em três pavilhões: Praça XV de Novembro, Praça Carlos Gomes e Esplanada do Pedro II, numa área de 16 mil m². A estrutura dos 71 estandes foi reformulada, nesta edição as entradas estavam voltadas para a parte central das praças, proporcionando maior segurança e conforto ao público e aos livreiros.
A organização do evento recebeu 408. 324 pessoas que participaram ativamente. Cerca de 800 pessoas trabalharam na organização e infra-estrutura do evento. Além da população de Ribeirão Preto, a Feira recebeu visitantes de mais de 100 cidades e de outros Estados. Entre as mais de 60 apresentações musicais estiveram artistas locais, corais e shows com grandes nomes da MPB, além da apresentação da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto e dos convidados chilenos Tita Parra e Antar Parra.

Homenagens e presenças internacionais
Em 2009, a Feira homenageou o Chile, o Estado do Amazonas e a poetisa Cora Coralina. O patrono foi o escritor e idealizador da Feira Nacional do Livro, Galeno Amorim. Do Amazonas, quatro importantes expoentes da cultura estiveram presentes: Thiago de Mello, Sérgio Augusto Freire, Milton Hatoum e Márcio Souza.
A Feira de Ribeirão Preto também ganhou repercussão internacional com a presença dos escritores chilenos Luis Sepúlveda, Luis Aguilera e Tito Alvarado. De Cuba Tirso Saenz e de Portugal, João Camilo dos Santos e da Itália, Giovanni Ricciardi.

Autores
Alguns dos principais autores que participaram dos 11 dias do evento: Augusto Cury, Ali Kamel, Carlos Heitor Cony, Cristovão Tezza, Deonísio da Silva, Fernando Morais, Frederico Barbosa, José Miguel Wisnik, José Hamilton Ribeiro, Lourenço Mutarelli, Luiz Felipe Pondé, Marcelo Mirisola, Márcia Tiburi, Marcos Pontes, Marcelo Rubens Paiva, Marçal Aquino, Moacyr Scliar, Martha Medeiros, Olivier Anquier, Pasquale Cipro Neto, Pedro Bandeira, Rubens Ewald Filho, Sérgio Freire, Xico Sá, Zuenir Ventura, entre tantos outros grandes nomes que foram aclamados pelo público.

Novidades
Inúmeras novidades envolveram a 9ª Feira, algumas delas na Praça Carlos Gomes que recebeu espaços temáticos especiais. Um desses espaços em menção a casa da poetisa Cora Coralina contou com performances artísticas de Tina Oliveira. Outra novidade foi a comemoração do Ano Internacional da Astronomia, que transformou a praça em um observatório montado pela UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos). Com os telescópios foi possível ver o planeta Saturno e aglomerados de estrelas distantes, além de um planetário com imagens projetadas a 180º.
A Praça também recebeu a "Cidade do Livro", um projeto itinerante, voltado ao público infantil, que promove um passeio cultural e educativo com atividades, personagens e cenários incentivando à leitura. Reunindo educadores e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, a Feira do Livro promoveu no dia 22 de junho o Simpósio "Ciência, Literatura e Cultura", que durante um dia debateu assuntos envolvendo cultura, literatura, jornalismo científico e astronomia.
Outra novidade foram os convidados da área gastronômica, chefs de cozinha que compartilham através das letras suas experiências gastronômicas e participaram de deliciosos bate-papos no Espaço Renato Aguiar. A Feira contou também com dois prêmios: "Prêmio Literário Cora Coralina" e "Prêmio Rubem Cione de Ciência, Literatura e Cultura", ambos tiveram as inscrições abertas entre março e abril e tiveram os prêmios entregues durante o evento.

Música
Shows com Adriana Calcanhotto, João Bosco, José Miguel Wisnik, Jorge Vercillo, Lenine, Luiz Melodia, Maria Rita, Mulheres de Hollanda, Ná Ozzetti, Oswaldo Montenegro, Paula Toller, Paulinho da Viola, Toquinho e MPB4 e Vanessa da Mata, além de shows locais em diversos espaços da Feira atraíram grande público, sendo que o recorde desta edição foi o show da Vanessa da Mata que reuniu 32 mil pessoas.


Os números da Feira 2009:
Investimento: R$ 2,4 milhão
Público esperado: 408.324 mil
Eventos: mais de 600
Apresentações musicais: 60
Número de estandes: 71
Expositores: 48
Empregos: 800 (funcionários da limpeza, segurança, monitores, empregados das empresas terceirizadas e funcionários dos expositores).

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Literatura Amazonense


O Amazonas é reconhecido pela sua imensa floresta e pelas festas folclóricas, porém, a riqueza do maior estado em território do país também está em seus escritores.
Milton Hatoum é um destes nomes, o autor é colunista do jornal “Estado de São Paulo”, tem livros publicados em mais de 16 línguas e venceu grandes prêmios como o Prêmio da Crítica/APCA-2005 e Prêmio Jabuti/2006. .
Sua última publicação é seu primeiro livro de contos, “A Cidade Ilhada” (Cia das Letras, 2009), reúne contos dos anos 70, 80 e 90, alguns já publicados em antologias e revistas internacionais e seis inéditos. Confira entrevista com o escritor:

- Como nasceu sua paixão pela escrita?
Com a leitura. Quando era jovem li os contos de Machado de Assis e alguns romances brasileiros: Vidas secas, Capitães da Areia... Esses textos me estimularam a ler a obra de outros autores brasileiros e estrangeiros. Um escritor é antes de mais nada um leitor. E a qualidade das obras lidas é fundamental para quem quer se dedicar à literatura.

- O brasileiro conhece a cultura amazônica? Por quê?
Infelizmente poucos conhecem. Os livros editados na Amazônia dificilmente são encontrados em outras regiões. Um bom livro torna-se conhecido e lido quando é editado no Rio ou em São Paulo.

- Como é a relação do amazonense com sua cultura?
O evento cultural mais popular é a festa do boi-bumbá em Parintins, uma festa que se tornou um espetáculo, e que já faz parte do folclore nacional. Há também em Manaus festivais internacionais de ópera, cinema e jazz. O grupo de teatro do Sesc, dirigido por Marcio Souza, já é uma tradição na cidade e uma referência para quem gosta de teatro. Há ainda vários compositores e músicos que merecem ser conhecidos fora de Manaus.

- Fale, por favor, da literatura amazonense. Quais são os principais nomes, como está a produção na atualidade.
Muitos leitores conhecem a obra de Thiago de Mello e Marcio Souza, mas há poetas importantes que infelizmente ainda são desconhecidos. Refiro-me à obra de Luiz Bacellar, Aldisio Filgueiras, Jorge Tufic, Anibal Beça, Elson Farias... Pouca gente conhece a obra de um outro grande poeta, o paraense Max Martins, morto há pouco tempo. É como se esses poetas escrevessem no exílio, ou como se fossem exilados em seu próprio país. Na verdade as editoras do sudeste que publicam poesia deveriam dar mais atenção à produção poética da Amazônia.

- Como foi o processo de produção de livro "A Cidade Ilhada"? Você sempre escreveu contos? Existem temas em comum que reúnem os contos do livro? Como você o organizou?
Escrevi contos na década de 70, mas eram péssimos e foram pro lixo. O conto mais antigo do livro é A natureza ri da cultura, que foi escrito no final da década de 1980 e deu origem ao meu primeiro romance (Relato de um certo Oriente). Outros contos foram escritos nos anos 90, e os mais recentes datam de 2008. Penso que há entre eles uma certa afinidade temática. Algumas narrativas mantêm laços de parentesco com os romances Dois irmãos e Cinzas do Norte. Além disso, os personagens Ranulfo e Mira (Cinzas do Norte) reaparecem em dois ou três contos. Um escritor tenta inventar um universo ficcional, e nesse sentido acho que os contos e os romances, apesar das diferenças de temas e gêneros literários, fazem parte da minha experiência de vida e de leitura.

REFLETIR SOBRE O JORNALISMO


Um olhar sensível sobre o outro, uma maneira de contar histórias que apaixona até os mais céticos. A jornalista Eliane Brum segue a profissão de repórter como um sacerdócio, acompanha as vidas, narra com sensibilidade e utiliza as ferramentas da língua a favor do leitor.
Eliane iniciou sua trajetória como repórter no jornal “Zero Hora”, de Porto Alegre e desde 2000 é repórter especial da revista “Época”, em São Paulo. É uma das mais premiadas jornalistas brasileiras. Ganhou mais de 40 prêmios de reportagem, como Esso, Vladimir Herzog, Ayrton Senna, Prêmio Açorianos, Sociedade Interamericana de Imprensa e Jabuti. É autora de três livros: “Coluna prestes – o avesso da lenda” (1994, Artes e Ofícios), no qual refez a marcha do exército rebelde pelo país entrevistando uma centena de testemunhas, “A Vida que Ninguém Vê” (2006, Arquipélago Editorial), uma coletânea de crônicas – reportagem publicadas no jornal “Zero Hora” que relatam histórias de pessoas que parecem ter saído de um livro de ficção e sua última publicação lançada em novembro de 2008: “O Olho da Rua” ( editora Globo), que é também um livro de textos já publicados, mas todos com comentários inéditos sobre o processo de desenvolvimento da reportagem.
Os textos que compõem este último livro foram escolhidos pela própria autora como as histórias que mais geraram reflexões sobre a sua prática, o que acaba sendo um balanço de sua atuação profissional nesses 20 anos.
Confira a entrevista:

- Como nasceu sua paixão pelo jornalismo?
Acho que começou com a paixão por ouvir histórias. Meu pai sempre valorizou as pequenas histórias e sempre que visitávamos algum lugar, antes ele nos contava a história daquele lugar e daquelas pessoas. Então eu sempre soube que eram as histórias que teciam a trama da vida, que não havia vida sem memória. Entendia isso intuitivamente quando era criança.
Sempre fui mais de olhar e ouvir do que de falar. Então ficava quietinha observando tudo que acontecia.
Não relacionava isso com Jornalismo, porque quando era criança e adolescente achava jornal muito chato, não encontrava as pessoas nele. Achei que seria historiadora, mas no curso de História também não encontrei as pessoas. Fazia História e Jornalismo ao mesmo tempo, em universidades diferentes (UFRGS e PUC/RS), mas fazia o Jornalismo sem convicção.
No final do curso conheci um professor, Marques Leonam, que mudou minha vida. Ele me mostrou que reportagem era justamente contar histórias de gente. Fiz uma reportagem para a aula dele sobre todas as filas que a gente entra desde o nascimento até a morte. Essa reportagem ganhou um concurso universitário e o prêmio era um estágio na Zero Hora, principal jornal de Porto Alegre. Fiquei lá 11 anos e descobri que era apaixonada pelo jornalismo.
Ser repórter é um jeito de estar no mundo. Não é o que faço, é o que sou.



- Sua visão sobre o jornalismo mudou nestes anos de profissão? ( Pensando que a sua prática é diferente da que é comumente visto no jornalismo e dentro do ensino universitário, com o uso do lead, textos objetivos....)

Eu sempre fui mais intuitiva do que qualquer outra coisa. E sempre fui intuitivamente avessa a qualquer molde, fórmula ou coisa parecida. Essas coisas fazem com que me sinta asfixiada e quero imediatamente me livrar delas. Então sempre escrevi minhas reportagens do jeito que eu gostaria de ler. A diferença é que o que antes era intuição, hoje consigo racionalizar. Isso aconteceu porque comecei a escrever livros e a fazer palestras. Tive então de começar a pensar sobre a prática do jornalismo de uma outra maneira.
Eu acredito que, como jornalistas, contamos a história cotidiana do país. O que fazemos é documento. E é com essa responsabilidade que faço o meu trabalho, seja uma nota ou uma matéria de 20 páginas.
Acredito na apuração ampla da realidade, onde não apenas as palavras, mas o silêncio, os cheiros, as texturas, os gestos, os sons, a luz, tudo é informação. Nosso trabalho é dar todas essas informações ao leitor, levar a ele toda a complexidade do real, de forma que ele possa estar onde estivemos e, a partir daí, tirar suas próprias conclusões. E acredito que, com todas as informações, completas e precisas, conseguimos escrever um texto que o leitor possa ler com o prazer de uma ficção.


- Como você encontra suas pautas? Como elas são discutidas na redação da revista?
A cada pauta que eu faço, encontro pelo menos outras três. As pautas surgem na rua, que continua sendo o lugar de repórter. Tento sempre responder à pergunta: qual é o melhor jeito de contar essa história? E tento me desafiar, sair da zona de conforto, fazer coisas que nunca fiz ou de um jeito diferente do que já fiz. Discuto minhas pautas com o diretor de Redação. Em geral, tenho bastante autonomia.


- Qual reportagem foi mais marcante? Por quê?
São muitas. Eu sempre faço cada reportagem como se fosse a reportagem da minha vida. Enquanto faço, só penso nela. Costumo dizer que fico grávida das matérias. E, como sou muito literal, é assim mesmo que me sinto. Tenho alterações de humor. E o parto é quando escrevo. Aí elas saem de mim e eu fico um tempo sentindo um vazio enorme. Até a próxima matéria grande.
Tem um custo pessoal alto, mas não sei ser de outro jeito. Nem quero.
A reportagem recente mais marcante foi quando acompanhei os últimos 115 dias de uma mulher extraordinária chamada Ailce de Oliveira Souza, no ano passado. A Ailce me deu a maior prova de confiança que eu já recebi: confiou em mim a ponto de me deixar testemunhar o fim da sua vida e contar uma história que ela jamais leria. A construção dessa reportagem, na relação cotidiana com Ailce, mudou meu jeito de lidar com a morte – e com a vida. Na verdade, me virou do avesso. Eu conto essa história – e a história dentro da história – no último capítulo de “O Olho da Rua”.

domingo, 3 de maio de 2009

O escritor e seus personagens




O jornalista carioca, Gulherme Fiúza, reconhecido pela obra que deu origem ao filme “Meu nome não é Johnny”, descobriu nos livros uma forma de contar as histórias de personagens intensos, que não caberiam nas folhas de jornal.
Fiúza trabalhou no jornal “O Globo”, no “Jornal do Brasil” e no site “No Mínimo”, onde assinou um blog de política que foi classificado entre os dez mais lidos do país, além de ter publicado o livro “ 3.000 dias no Bunker”, sobre os bastidores do Plano Real.
Atualmente Fiúza assina um blog na revista “Época” (http://www.guilhermefiuza.com.br/) e acaba de lançar o livro “Amazônia 20º Andar”, em que relata a história da estilista, Bia Saldanha e do empresário, João Augusto Fortes que conquistaram a indústria do couro vegetal em meio a floresta amazônica.
Confira entrevista concedida por e-mail:

Como foi a sua passagem das redações de jornais para a literatura?
As reportagens na imprensa têm uma natureza de objetividade e concisão. Quis escrever meu primeiro livro pela pura vontade de contar uma história com mais liberdade, me espalhar na narrativa. Daí surgiu o "Meu nome não é Johnny", que comecei a escrever na redação do site NoMínimo. Assim passei a trabalhar fora das redações, conciliando a produção para internet com o trabalho nos livros.

Como sabe quando um livro está pronto para ser publicado?
Tenho um processo de produção peculiar, decorrente de um vício: as palavras só saem da cabeça para a tela quando a idéia está pronta. O resultado é muita ruminação, mas o texto final de meus três livros saiu de primeira, porque tenho muita dificuldade de lapidar o texto já escrito.

Como foi o processo de escrita de seu último livro? O que o incentivou a escrevê-lo?
Os protagonistas tinham sido meus entrevistados 15 anos atrás, quando apresentaram ao mundo o projeto do couro vegetal da Amazônia. No início de 2007 conversei com eles e descobri que, nesse intervalo, tinham vivido uma epopéia, na qual ganharam tudo e perderam tudo. Não tive dúvidas de que aquilo dava um livro.
Parti de cerca de 70 horas de entrevistas com personagens da história, no Rio de Janeiro e no Acre, especialmente os empresários Bia Saldanha e João Augusto Fortes, além de antropólogos, índios, seringueiros e outros participantes dessa jornada.

Quanto tempo você levou para escrevê-lo?
Cerca de um ano, entre apurar e escrever.

“Amazônia 20º Andar” é baseado em um personagem real como o João Estrella?
Sim. João Augusto Fortes e Bia Saldanha são duas almas inquietas. Idealistas, empreendedores, às vezes quase megalômanos. Todo mundo tem um pouco desse sonho de virar a vida do avesso para ver o que acontece. Mas a maioria sublima isso no cinema. Eles levaram ao pé da letra. Os dois passaram vários sufocos e conquistaram muita coisa. Dá para dizer que ganharam tudo e perderam tudo. Foram perseguidos, acusados de cegar índios e escravizar seringueiros, premiados pela ONU e consagrados nas capitais mundiais da moda. O projeto colapsou, deixou boas sementes e feridas pessoais, e a lição de que a Amazônia não será salva com slogans em Ipanema, discursos em Brasília ou relatórios de ONGs.

Você imaginava quando começou a escrever a história do João Estrella que iria chegar a fazer tanto sucesso? Como foi este processo de tornar um personagem desconhecido em alguém conhecido no país todo?
Não imaginava. Achava apenas que, pelos critérios jornalísticos, tinha uma boa história na mão. Desde o início minha preocupação era não contar apenas a história de um traficante de classe média, mas mergulhar na cabeça e na vida de um cara comum e sua fronteira entre a normalidade e o delírio. Acho que o sucesso do livro, mesmo antes do filme, já se devia a essa abordagem de certa forma prosaica, que foi mantida pela Mariza Leão e pelo Mauro Lima, produtora e diretor do filme. E há uma parcela enorme do êxito que é devida exclusivamente ao talento de Selton Mello, que encarnou João Estrella de forma impressionante

POESIA BRASILEIRA – FREDERICO BARBOSA

O interesse pela arte poética veio junto com a paixão pelo futebol, ao conhecer uma poesia de João Cabral de Melo Neto dedicada ao jogador palmeirense das décadas de 60 e 70, Ademir da Guia. Este foi o começo da carreira de um dos maiores poetas brasileiros contemporâneos, o pernambucano Frederico Barbosa.
Apesar do vínculo com a poesia, Frederico ingressou aos 17 anos no curso de graduação do Instituto de Física da USP (Universidade de São Paulo) e logo percebeu que estava no caminho errado. “Eu continuava a escrever, mesmo durante as maçantes aulas de Física, Química e Matemática”. Seus primeiros poemas chamaram a atenção de críticos como Boris Schnaiderman e Haroldo de Campos, que o incentivaram a trocar a ciência pela poesia.Escrever para Frederico é um processo caótico, mas ao mesmo tempo meticuloso. “Desconfio de todas as mistificações da poesia e do papel do poeta, como a ideia de que o poeta é mais sensível ou que escrever poesia é um ‘dom artístico’. A poesia é a palavra/impacto, é uma composição construtora de efeitos. É a linguagem organizada da forma mais meticulosa possível para fazer sentir, portanto, fazer um poema é escrever usando todos os recursos imagináveis. O maior efeito que um poeta pode produzir não é dizer ao leitor o que ele (poeta) sente, mas é fazer o leitor sentir o mesmo ao ler o poema”.
Cada livro, segundo o autor, nunca está pronto. “Considera-se a edição definitiva de um livro a última anterior à morte do autor. Todo livro pode ser mudado e melhorado ‘ad infinitum’”
Muitos críticos o consideram um artista do Concretismo, pela repetição de palavras em seus poemas, porém, apesar de considerar a poesia concreta como a “maior revolução na poesia mundial ocorrida na segunda metade do século XX, além de ser a única proposta estética surgida no Brasil e único momento em que o país esteve na vanguarda da arte”, o autor não se sente parte de nenhuma linha “o que de certo torna o meu caminho mais difícil e seguramente mais solitário”.
Seu trabalho é influenciado de várias maneiras e ao ser questionado sobre um poeta marcante, a resposta é incisiva: Augusto de Campos, “o maior e mais importante poeta vivo não só da língua portuguesa, mas de todo o mundo”.
Frederico ganhou dois prêmios Jabuti, um pelo livro “Nada Feito Nada” de 1993 e outro por “Brasibraseiro” de 2004, escrito em parceria com Antonio Risério.
Atualmente o poeta é diretor executivo da Poiesis – Organização Social de Cultura, que administra a Casa das Rosas, o Museu da Língua Portuguesa, a Casa Guilherme de Almeida e os projetos São Paulo, um Estado e Leitores e PraLer – Prazeres da Leitura, em São Paulo.

"Objetos de bordo
atados à boca
balançam e dançam
em baques e sovas

na boça no cabo
atados à proa
balançam e dançam
sem berros na forca

em terras estranhas
são negros boçais
estúpidos rudes
ignorantes banais

mas longe da boca
de servos à força
balançam e dançam
seu banzo blues troça

resistem no samba
no jazz capoeira
balançam e dançam
batuque rasteira

inventam a bossa
vingança da boça".

(poesia “Da Boca à Bossa” do livro "Brasibraseiro" )

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Ciência para todos


A ONU (Organização das Nações Unidas) declarou 2009 como o Ano Internacional da Astronomia, em comemoração aos quatro séculos desde as primeiras observações telescópicas do céu feitas por Galileu Galilei. As comemorações envolvem 137 países e no Brasil são mais de 180 entidades realizando atividades durante o ano todo.
A Astronomia é uma das ciências mais antigas e tem contribuição fundamental para a evolução das outras ciências, dando origem a campos inteiros da Física e da Matemática. Um dos objetivos desta comemoração é promover acesso a novos conhecimentos e melhorar o ensino formal e informal da ciência.
A Ciência ainda parece algo distante do grande público, como se fosse uma prática restrita aos círculos acadêmicos, desconectada da cultura. No entanto, profissionais de diversas áreas trabalham para tornar as práticas científicas mais acessíveis e inteligíveis. O jornalista colunista da “Folha de São Paulo”, Marcelo Leite é uma dessas pessoas. Leite escreve a coluna dominical no caderno “Mais!” nomeada “Ciência em Dia” e mantém um blog com o mesmo nome (http://cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br). Com vasta experiência no jornalismo, Leite foi ombudsman da Folha entre 1994 e 96 e já escreveu vários livros com temas científicos.
Como o jornalista, o físico Gustavo Hojas trabalha pela popularização da ciência. Hojas coordena o Projeto "Popularização da Astronomia pela UFSCar: Astronomia ao Alcance de Todos", que visa a capacitação de professores e futuros professores, com a promoção de cursos e oficinas e a realização de eventos de divulgação científica destinados à população em geral, através de observações públicas e da disponibilização do espaço virtual (www.astronomia2009.ufscar.br).
Confira a entrevista realizada com estes dois profissionais:

reportagem: O que representam as descobertas de Galileu Galilei para a ciência de hoje?
Gustavo Hojas: Ao observar o céu com seu novo instrumento, Galileu descobriu uma realidade muito diferente da que se conhecia até então: montanhas e crateras na Lua, manchas no Sol, satélites até então desconhecidos em torno de Júpiter. Desde então, a Astronomia vem revolucionando o nosso entendimento do Universo. Hoje sabemos que toda a energia que circula em nosso planeta provém do Sol, e que o próprio Sol e o Sistema Solar foram formados a partir de restos de outras estrelas. Somos literalmente filhos das estrelas.

R: Porque apesar do grande interesse pela astronomia, ela ainda é uma ciência de pouco acesso ao grande público?
Gustavo: Uma das metas do Ano Internacional da Astronomia é convidar as pessoas a redescobrirem suas ligações com o Universo, e, compartilhando com elas o que sabemos sobre ele, passar à sociedade uma imagem moderna da Ciência e dos cientistas. Infelizmente o grande público possui uma visão distorcida da Ciência em geral, como uma coisa inacessível e complicada, o que contrasta com a sociedade tecnológica em que vivemos. No caso específico da Astronomia, ainda persiste a imagem antiquada do astrônomo como um cientista que passa as noites em claro no topo de uma montanha, olhando através de um telescópio e fazendo desenhos de suas observações. Por causa dessa imagem, boa parte das pessoas acredita que para apreciar a Astronomia é necessário fazer o mesmo, e esse não é o caso. Graças principalmente à Internet, os astrônomos modernos sequer precisam ir ao observatório para realizar seu trabalho. E sequer é necessário possuir um telescópio para poder apreciar o céu noturno: um simples binóculo, ou até mesmo nossos olhos adaptados à escuridão já são suficientes para explorar o Universo. Portanto, pretendemos através das comemorações do Ano Internacional difundir uma mentalidade científica na sociedade.

R: Como estão as comemorações do ano da astronomia no Brasil?
Gustavo: Para organizar as comemorações do Ano Internacional da Astronomia em todo o mundo, foi montada a maior rede de divulgação científica da história, a Rede IYA2009. A intensa mobilização no Brasil coloca o país em posição de destaque dentro do cenário internacional de divulgação em Astronomia.
Com o final da estação chuvosa se aproximando, a tendência é que as comemorações se intensifiquem ainda mais. Os interessados devem visitar o site oficial do Ano Internacional da Astronomia http://www.astronomia2009.org.br para consultar a programação atualizada dos eventos do Ano Internacional em sua região. [A Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto, que acontece entre os dias 18 e 28 de junho terá uma programação especial voltada para a Astronomia]

R: Como está o campo do jornalismo científico hoje? Existem várias possibilidades de formação específica?
Marcelo Leite: No Brasil ainda é um campo relativamente restrito, com poucas vagas nos principais veículos de comunicação, mas vem ganhando em importância e interesse. Há alguns cursos de especialização disponíveis, como o da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e o da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio. Há também muita oferta de pós-graduação, seminários e cursos breves, em especial no exterior.

R: Ainda há uma ressalva por parte do grande público em relação à ciência como algo ininteligível?
Marcelo: Sim, infelizmente. Uma pesquisa de opinião patrocinada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia em 2006 mostrou que muitas pessoas, mesmo tendo interesse em informar-se sobre ciência e tecnologia, deixam de fazê-lo porque não conseguem entender o que se publica e veicula.

R: Que ferramentas o jornalista científico usa para tornar o conhecimento da ciência mais atrativo?
Marcelo: Muito didatismo, sobretudo por meio de analogias e metáforas que permitam aproximar temas complexos e abstratos de realidades familiares ao público. Mas é mais fácil falar do que fazer, porque toda metáfora é imperfeita. Fotografias e infográficos também ajudam.

R: Como tem sido o seu contato com o público? Há um maior interesse nas questões que você trata no seu blog e na “Folha de São Paulo”?
Marcelo: Tenho consciência de que meu público na Folha e no blog são restritos, composto em geral por pessoas já interessadas em ciência. Tento não ser muito "difícil", mas fracasso com frequência. Por isso tenho recorrido nos últimos anos a novos veículos como livros paradidáticos (editoras Publifolha e Ática) e até ficção infanto-juvenil (série Ciência em Dia, também da Ática, para uso em sala de aula).

R: Existem muitas diferenças entre o jornalismo científico no Brasil e no exterior?
M: Sim, mas cada vez menos. Os recursos nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, costuma ser mais abundantes, o que em geral permite que os jornalistas de ciência lá empreguem mais tempo na apuração/pesquisa de reportagens. O preparo científico deles também costuma ser melhor - muitos não estudaram jornalismo, mas alguma ciência natural, como biologia ou física. Uma nova geração de jornalistas brasileiros no setor, porém, tem buscado uma maior qualificação, com sucesso.

R: Fale sobre seu último livro "Ciência, use com cuidado"
M: É uma coletânea de 80 colunas das cerca de 300 publicadas na Folha entre 2003 e 2007 que acabo de lançar pela Editora da Unicamp. Reflete minha convicção de que a ciência e a tecnologia devem ser apreciadas pelo público com senso crítico, uma coisa para a qual devemos nos educar e preparar, de modo a nos tornarmos capazes de refletir sobre elas e não tomar como verdades estabelecidas tudo que provém desse campo.