terça-feira, 21 de julho de 2009

Literatura infantil


“Vida de moleque é vida boa, vida de menino é maluquinha”. Quem não cantarolou esta música de Milton Nascimento? Música que relembra a infância e fortalece a imortalidade da obra “O Menino Maluquinho” do mestre Ziraldo.
Ziraldo é pintor, cartazista, jornalista, teatrólogo, chargista, caricaturista e escritor. Seus trabalhos já foram traduzidos em diversas línguas e o autor é um dos maiores escritores infantis do Brasil, sendo que “O Menino Maluquinho” é um dos fenômenos editorias nacionais e foi inspiração para cinema e teatro.
Em 2009 o autor completa 40 anos de sua primeira obra infantil: “Flicts”, que conta a história de uma cor solitária que não encontrava seu lugar e decide após viajar muito partir para a lua.
Confira entrevista concedida por e-mail:

- O seu nome é sempre lembrado entre os que passaram pelo Pasquim. Como foi trabalhar neste período? O que este trabalho representa para a sua história?
Ziraldo: Fazer o Pasquim naqueles tempos, pra mim, foi um privilégio. A conhecida Canção do Soldado, um dos nossos hinos militares começa assim: “Amo tanto, estremeço essa terra / quero tanto ao meu vasto país / que, se um dia, eu partir para a guerra / eu irei bem contente e feliz!” Nunca pude imaginar ter um sentimento soldadesco assim. Não sei como se pode ir contente e feliz para a guerra. Não experimentei nenhuma felicidade pelo fato de ter ido para a guerra contra a Ditadura. Eu não tive como evitá-la. Mas tenho que reconhecer que, fazer o Pasquim durante aqueles tempos negros,foi um privilégio. Não posso imaginar de que maneira eu poderia ter atravessado os anos de ditadura sem poder manifestar minha indignação. E de maneira tão efetiva. Foi uma sorte ter vivido nas páginas do Pasquim os anos de chumbo da ditadura militar brasileira. É bom saber disso, é bom contar para os meus netos que eu não fiquei assistindo de braços cruzados ao triste espetáculo do desastre que foi este tempo para o Brasil e para o nosso futuro como nação.

- Como foi a sua passagem da escrita voltada para adultos para a infantil? O processo de produção para os dois públicos é muito diferente? Por quê?
Ziraldo: A viagem não foi da “escrita adulta” para a infantil. Eu era um cara que sabia desenhar. E a vida toda tinha usado o desenho como uma forma de narrativa e não como o desenho finito nele mesmo, como quem pinta ou grava. Pra mim, não mudou nada. Nos dois casos, desenhar ou escrever, eu trabalho é com a invenção. Em 1960, surgiu a possibilidade de fazer histórias em quadrinhos na revista O Cruzeiro, que era a realização do meu sonho até aquela data. Criei o Pererê e sua turma e durante 5 anos a revistinha vendeu muito. Em 1964, a revista parou e eu fui trabalhar em publicidade (porque eu sempre vivi de publicidade, sou desenhista de agência). Em 1963, comecei a colaborar com o JB no Caderno B, inventei os Zeróis, uma crítica dos heróis das histórias em quadrinhos e criei vários personagens, Vovó Maricota, que era uma velhinha viciada em loteria esportiva; a Supermãe e o Jeremias, o Bom. Em 1969, no mesmo ano em que lançamos o Pasquim, eu continuava no JB. Aí decidi acabar com a vida semanal do Jeremias e eternizá-lo num livro. Levei o livro para a Editora Expressão e Cultura. Fernando Ferro, um português sofisticadíssimo, topou fazer o Jeremias, mas me perguntou: “Você não tem um livro infantil?” Eu disse: “Claro que tenho um livro na gaveta”. “Traz amanhã” – ele falou. E eu tinha? Tinha nada. Tive que inventar um livro em uma semana. Um livro sem ilustrações, é claro. Foi assim que nasceu o Flicts. Em 1980, fiz outro livro para crianças que fez até mais sucesso do que o Flicts: o “Menino Maluquinho”. Aí, não teve jeito: virei autor de livros para crianças.

- Como nasceu a ideia do menino maluquinho?
Ziraldo: Foi assim: o Menino Maluquinho nasceu na época das palestras. A turma do Pasquim vivia dando palestras sobre tudo, pois o mundo queria saber o que estava acontecendo no país da ditadura. E a gente dava palestras de graça sem saber que os organizadores das palestras estavam ganhando uma baba! Um dia, fui falar para mães e mestres da Ilha do Governador, não sei se na universidade, no auditório da igreja ou se num colégio. Eu era especialista de assuntos gerais. Acabei falando sobre crianças, sobre filhos, sobre publicidade infantil. E disse que era contra preparar a criança para o futuro. Criança tem que ser feliz hoje para ser um adulto feliz no futuro. Às vezes, pode não dar certo, mas é mais provável que dê. Aí, sugeriram que eu escrevesse um livro com essa tese. Tá maluco? Não entendo nada de nada, sou espectador da alma humana. No caminho de volta, novamente me ocorreu que a tese podia dar um livro infantil. Daí para o Menino Maluquinho foi um pulo.

- Como e quando ele foi transformado em peça de teatro?
Ziraldo: Ah, não lembro, não. Aliás, tem um detalhe: todos os meus livros foram adaptados para o teatro, no Brasil inteiro. A única peça infantil que escrevi foi “A Bonequinha de Pano”.

- Como é a peça “A Bonequinha de Pano”?
Ziraldo: A peça foi escrita para uma atriz paulista chamada Zezé Fassina. É para uma só personagem. São dois atos: no primeiro a atriz faz uma boneca esquecida num sotão. No segundo ato ela faz a menina, dona da boneca, já adulta, que reencontra a boneca num velho baú de sua infância.

- Em que você está trabalhando atualmente? Quais seus planos?
Ziraldo: “Uma Menina Chamada Julieta”. É o meu livro do ano. Para ser lançado na Bienal/2009 no Rio de Janeiro. E breve devo lançar mais um ou dois da série “O Menino da Lua”.

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