domingo, 3 de maio de 2009

POESIA BRASILEIRA – FREDERICO BARBOSA

O interesse pela arte poética veio junto com a paixão pelo futebol, ao conhecer uma poesia de João Cabral de Melo Neto dedicada ao jogador palmeirense das décadas de 60 e 70, Ademir da Guia. Este foi o começo da carreira de um dos maiores poetas brasileiros contemporâneos, o pernambucano Frederico Barbosa.
Apesar do vínculo com a poesia, Frederico ingressou aos 17 anos no curso de graduação do Instituto de Física da USP (Universidade de São Paulo) e logo percebeu que estava no caminho errado. “Eu continuava a escrever, mesmo durante as maçantes aulas de Física, Química e Matemática”. Seus primeiros poemas chamaram a atenção de críticos como Boris Schnaiderman e Haroldo de Campos, que o incentivaram a trocar a ciência pela poesia.Escrever para Frederico é um processo caótico, mas ao mesmo tempo meticuloso. “Desconfio de todas as mistificações da poesia e do papel do poeta, como a ideia de que o poeta é mais sensível ou que escrever poesia é um ‘dom artístico’. A poesia é a palavra/impacto, é uma composição construtora de efeitos. É a linguagem organizada da forma mais meticulosa possível para fazer sentir, portanto, fazer um poema é escrever usando todos os recursos imagináveis. O maior efeito que um poeta pode produzir não é dizer ao leitor o que ele (poeta) sente, mas é fazer o leitor sentir o mesmo ao ler o poema”.
Cada livro, segundo o autor, nunca está pronto. “Considera-se a edição definitiva de um livro a última anterior à morte do autor. Todo livro pode ser mudado e melhorado ‘ad infinitum’”
Muitos críticos o consideram um artista do Concretismo, pela repetição de palavras em seus poemas, porém, apesar de considerar a poesia concreta como a “maior revolução na poesia mundial ocorrida na segunda metade do século XX, além de ser a única proposta estética surgida no Brasil e único momento em que o país esteve na vanguarda da arte”, o autor não se sente parte de nenhuma linha “o que de certo torna o meu caminho mais difícil e seguramente mais solitário”.
Seu trabalho é influenciado de várias maneiras e ao ser questionado sobre um poeta marcante, a resposta é incisiva: Augusto de Campos, “o maior e mais importante poeta vivo não só da língua portuguesa, mas de todo o mundo”.
Frederico ganhou dois prêmios Jabuti, um pelo livro “Nada Feito Nada” de 1993 e outro por “Brasibraseiro” de 2004, escrito em parceria com Antonio Risério.
Atualmente o poeta é diretor executivo da Poiesis – Organização Social de Cultura, que administra a Casa das Rosas, o Museu da Língua Portuguesa, a Casa Guilherme de Almeida e os projetos São Paulo, um Estado e Leitores e PraLer – Prazeres da Leitura, em São Paulo.

"Objetos de bordo
atados à boca
balançam e dançam
em baques e sovas

na boça no cabo
atados à proa
balançam e dançam
sem berros na forca

em terras estranhas
são negros boçais
estúpidos rudes
ignorantes banais

mas longe da boca
de servos à força
balançam e dançam
seu banzo blues troça

resistem no samba
no jazz capoeira
balançam e dançam
batuque rasteira

inventam a bossa
vingança da boça".

(poesia “Da Boca à Bossa” do livro "Brasibraseiro" )

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