quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Arquiteto das palavras e dos sons


O músico e compositor, Djavan esteve em Ribeirão Preto no Teatro Pedro II , durante os dias 16 e 17 de outubro, apresentando o show de sua nova turnê : Matizes.
Este trabalho, lançado em setembro, reflete a experiência de seus 30 anos de carreira e não haveria nome melhor para o trabalho deste artista reconhecido nacionalmente e internacionalmente por suas misturas sonoras e pela sensibilidade de suas letras que muitas vezes relacionam as cores aos mais diversos sentimentos.
Neste novo show Djavan apresentou músicas que fizeram sua história como “Eu te Devoro” e “Oceano”, com novas experiências, como a música “Imposto”, em que o compositor manifesta sua indignação sobre as cobranças no Brasil.
Durante a apresentação Djavan transmitiu alegria até mesmo nas músicas mais suaves, o sorriso não saiu de seu rosto, ele buscou o tempo todo a participação do público e bastaram as primeiras notas de “Sina” para que toda a platéia se levantasse.
A cenografia e a iluminação do show trabalharam com a simplicidade exageradamente, o que desvalorizou os instrumentistas que ficaram uma boa parte do show a meia luz. No palco ao fundo havia apenas um telão onde foram reproduzidas imagens pouco criativas que acompanhavam as músicas apenas no compasso e não no sentido das letras.
Djavan concedeu uma entrevista por telefone ao Carderno Trainee dias antes de sua passagem por Ribeirão:

Porque Matizes?
Este CD simboliza a diversificação de textos, sons, gêneros.

Como foi o processo de produção deste CD?
Foi mais vagar, gravei e produzi em casa. O trabalho diário de concepção demorou entre 5 e 6 meses.

Porque este CD foi mais demorado?
Coincidiu com o nascimento do meu filho, Inácio. Foi um processo naturalmente espaçado, gostei muito. Eu fiz os arranjos, as letras e a produção deste CD.
A gente se divertiu muito. Todo o processo foi feito com o mesmo interesse e seriedade que a criança tem enquanto brinca.
Eu sinto que consegui desenvolver esta forma lúdica de trabalhar com este CD. Espero que todos possam conseguir isto em seus trabalhos.

Há uma música em especial ?

“Por uma vida em paz”, é uma reflexão sobre a pouca sensibilidade que muitas vezes temos com a vida, o meio ambiente e uns com os outros.

Você gosta de fazer show?
Adoro tocar onde tem um público receptivo, o interior de São Paulo é rico em musicalidade, é sempre um prazer tocar ai.

A música imposto chama atenção neste seu último trabalho. Você gosta de produzir músicas –manifesto com esta?
Esta música é uma manifestação de um cidadão, para escrevê-la bastava ser brasileiro.
Estou sempre torcendo para o Brasil, para que encontremos um rumo.

Você acompanha a política do país hoje? Qual sua opinião sobre o movimento Cansei e as respostas que surgiram deste movimento?
As grandes transformações são feitas pelo povo, acredito que manifestos são válidos sempre. Nos escolhemos e votamos, participar portanto, não é só um direito, é responsabilidade.
O povo brasileiro é pacifico em demasia, falta cobrança e participação. Porém, não sou a favor de violência de forma alguma, mas sim do diálogo.

O que você acha da política cultural realizada por Gilberto Gil?
Gil deu luminosidade a um ministério que sempre este inócuo. Acredito que falte verba e ele nem sempre consiga realizar o que acha necessário, porém, apoio a presença dele lá e fico aguardando as respostas deste mandato.

Você atualmente tem uma gravadora própria, como foi este processo?
Eu já tinha a editora e a produtora, quis administrar a minha carreira ao meu modo. Os resultados tem sido ótimos, acho que foi uma boa decisão para o meu trabalho.

A gravadora chama-se Luanda, por quê?
Estive em Angola na década de 80, foi uma viagem muito reveladora, intimamente transformadora. Identifiquei na África a raiz da minha música, foi uma experiência muito importante.

Em todos estes anos de carreira você acompanhou mudanças no mercado fonográfico. Como você vê estas mudanças?
O mercado desandou em função da pirataria, tanto a física, quanto a virtual. Houve uma desestruturação do mercado, ele se tornou ínfimo frente a modernidade.
A música é irreversível, faz parte da vida, não vai acabar, mas, novas formas de levar música ao público tem de ser pensadas. O respeito aos direitos autorais é um assunto complicado, produzir um CD ou DVD é caro, é preciso que aja um retorno.
Acredito que levará muito tempo para acharmos as respostas.

O que você está ouvindo de música brasileira atualmente? O que acha dos lançamentos de vozes feminas como Céu, Mariana Aydar e Vanessa da Mata?
Eu escuto muita música, ouço bastante rádio no carro. Entre as novas vozes, tem uma em especial, chama-se Bárbara Mendes, eu participei do CD dela que será lançado em janeiro.
Gosto de ouvir os clássicos da música brasileira, neste momento ando ouvindo Jacob do Bandolim.

O que você está lendo?
Um livro que queria ler há muito tempo...Angustia, do Graciliano Ramos.

Como é ser pai agora?
Estou encantado, é muito diferente ser pai agora porque em minhas outras paternidades estava sempre trabalhando e não tinha muito tempo para curtir meus filhos, agora tenho mais tempo para vivenciar.

O que é Djavanear para o Djavan?

(risos) Este termo nasceu de uma homenagem que fiz ao Caetano, ele retribuiu e criou o Djavanear. Espero que sejam “verbos” relacionados às coisas boas da vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa jornalista em construção é uma jornalista quase completa! Só falta o terminar a faculdade. Blog show de bola! Bjão Lele Possebon

Daniela Teixeira (jornalista também em construção)