quarta-feira, 17 de junho de 2009

Literatura Amazonense


O Amazonas é reconhecido pela sua imensa floresta e pelas festas folclóricas, porém, a riqueza do maior estado em território do país também está em seus escritores.
Milton Hatoum é um destes nomes, o autor é colunista do jornal “Estado de São Paulo”, tem livros publicados em mais de 16 línguas e venceu grandes prêmios como o Prêmio da Crítica/APCA-2005 e Prêmio Jabuti/2006. .
Sua última publicação é seu primeiro livro de contos, “A Cidade Ilhada” (Cia das Letras, 2009), reúne contos dos anos 70, 80 e 90, alguns já publicados em antologias e revistas internacionais e seis inéditos. Confira entrevista com o escritor:

- Como nasceu sua paixão pela escrita?
Com a leitura. Quando era jovem li os contos de Machado de Assis e alguns romances brasileiros: Vidas secas, Capitães da Areia... Esses textos me estimularam a ler a obra de outros autores brasileiros e estrangeiros. Um escritor é antes de mais nada um leitor. E a qualidade das obras lidas é fundamental para quem quer se dedicar à literatura.

- O brasileiro conhece a cultura amazônica? Por quê?
Infelizmente poucos conhecem. Os livros editados na Amazônia dificilmente são encontrados em outras regiões. Um bom livro torna-se conhecido e lido quando é editado no Rio ou em São Paulo.

- Como é a relação do amazonense com sua cultura?
O evento cultural mais popular é a festa do boi-bumbá em Parintins, uma festa que se tornou um espetáculo, e que já faz parte do folclore nacional. Há também em Manaus festivais internacionais de ópera, cinema e jazz. O grupo de teatro do Sesc, dirigido por Marcio Souza, já é uma tradição na cidade e uma referência para quem gosta de teatro. Há ainda vários compositores e músicos que merecem ser conhecidos fora de Manaus.

- Fale, por favor, da literatura amazonense. Quais são os principais nomes, como está a produção na atualidade.
Muitos leitores conhecem a obra de Thiago de Mello e Marcio Souza, mas há poetas importantes que infelizmente ainda são desconhecidos. Refiro-me à obra de Luiz Bacellar, Aldisio Filgueiras, Jorge Tufic, Anibal Beça, Elson Farias... Pouca gente conhece a obra de um outro grande poeta, o paraense Max Martins, morto há pouco tempo. É como se esses poetas escrevessem no exílio, ou como se fossem exilados em seu próprio país. Na verdade as editoras do sudeste que publicam poesia deveriam dar mais atenção à produção poética da Amazônia.

- Como foi o processo de produção de livro "A Cidade Ilhada"? Você sempre escreveu contos? Existem temas em comum que reúnem os contos do livro? Como você o organizou?
Escrevi contos na década de 70, mas eram péssimos e foram pro lixo. O conto mais antigo do livro é A natureza ri da cultura, que foi escrito no final da década de 1980 e deu origem ao meu primeiro romance (Relato de um certo Oriente). Outros contos foram escritos nos anos 90, e os mais recentes datam de 2008. Penso que há entre eles uma certa afinidade temática. Algumas narrativas mantêm laços de parentesco com os romances Dois irmãos e Cinzas do Norte. Além disso, os personagens Ranulfo e Mira (Cinzas do Norte) reaparecem em dois ou três contos. Um escritor tenta inventar um universo ficcional, e nesse sentido acho que os contos e os romances, apesar das diferenças de temas e gêneros literários, fazem parte da minha experiência de vida e de leitura.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito interessante a visão real de Milton Hatoum em relação aos escritores desconhecidos de expressão amazônica, porém isso se deve principalmente a falta de divulgação dessas obras dentro da própria Amazônia.

Núbia Litaiff Moriz disse...


Como professora de Literatura Pan-Amazônica, compactuo do pensamento do escritor Milton Hatoum. Há na nossa literatura escritores que também deveriam estar consagrados no cânone literário. É preciso que os leitores, em especial, os amazonenses, leiam, conheçam e assim, possam valorizar os escritos literários inerentes aos escritores amazônicos.