quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Uma obra para repensar o cotidiano


Duas vidas unidas por um acidente de carro. O que pode parecer uma idéia já repetida muitas vezes na história do cinema é surpreendentemente bem trabalhada no filme brasileiro “Não Por Acaso” (2007).
Este é o primeiro longa do diretor Philippe Barcinski, que têm em seu currículo curtas, que também valem a pena ser vistos: Palíndromo( 2002) e Janela Aberta(2001). Os dois curtas citados desenvolvem-se em torno da mesma temática do longa: o caos interno frente a uma grande cidade.
O filme foi todo gravado em São Paulo e a cidade não é só o cenário, mas também um dos personagens, transmitindo através de imagens simples, como o tráfego das avenidas paulistas, sentimentos presentes nos dois personagens principais, Ênio (Leonardo Medeiros) e Pedro (Rodrigo Santoro).
Ênio é um engenheiro de tráfego que passa seus dias a observar as ruas da cidade e a evitar os engarrafamentos. Ele vive sozinho e tem uma rotina monótona, é pai de uma adolescente que não o conhece, fruto de um casamento mal sucedido.
Em paralelo há a história de Pedro, um jovem que como seu pai, vive de construir mesas de sinuca. Ele mora com sua namorada, no fundo da marcenaria e parece não querer nunca sair do mundo que sempre viveu, é um personagem também solitário que busca controlar a vida como controla as bolas de sinuca.
Os dois tem uma experiência que modifica parte de seus conceitos, mulheres saem de suas vidas intempestivamente e trazem por acaso outras mulheres que irão ter um novo papel no modo como cada um deles encara a realidade.
O filme se diferencia de boa parte das produções brasileiras que tendem ao romance novelesco, abusando do sexo e de interpretações exageradas. A trilha sonora assinada por Antonio Pinto acompanha com maestria cada momento da história, tornando o filme ainda mais apaixonante.
Todos os personagens de “Não por Acaso” são muito realistas e seus medos e desejos ficam em evidência a cada ação, o que faz com que o espectador se identifique com os personagens e lide com os temas filosóficos que são colocados no roteiro(assinado também por Barcinski) , como o uso da razão e da emoção.
Uma bela obra sobre os acasos da vida, que tornam a vivência do cotidiano interessante.

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