quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Trilogia Emocional

Personagens diferentes, lugares distintos e emoções vinculadas por fatores aparentemente incompreensíveis. O diretor mexicano Alejandro González Iñárritu assinou três filmes, que valem a pena ser vistos, unidos pelas emoções humanas: “Amores Brutos”(2000) ,“ 21 Gramas” (2003) e “Babel” (2006).
A trilogia que utiliza narrativas fragmentadas, segundo o diretor é baseada na teoria do caos, conhecida pelo exemplo do efeito borboleta, em que o batimento das asas de uma borboleta em um lugar do planeta influi de alguma maneira em acontecimentos em outra parte do globo. Os que crêem nesta teoria supõem que o mundo está todo ligado por complexas conexões que estão sempre em movimento, assim fatores aparentemente insignificantes podem influir na mudança de acontecimentos maiores.
Todos nós já pensamos nisto, em como uma atitude pode mudar totalmente o desenrolar da vida. Os filmes citados nos fazem reavaliar nossa relação com a vida, especialmente a maneira de lidar com as pessoas dentro do nosso cotidiano.
A relação de pais e filhos está presente nos três filmes, porém, em “Amores Brutos” a história toda se passa no México, já em “ 21 Gramas” a perspectiva passa a ser estrangeira, com a história sendo contada nos Estados Unidos e em “Babel” as fronteiras de língua e espaço são ultrapassadas.
“Amores Brutos” tem como tema central como o nome já indica, a paixão desmedida. Estrelado por Gael García Bernal, o roteiro relata a história de dois triângulos amorosos e um personagem enigmático que se aproximam por um acidente de carro e um cachorro.
Este primeiro filme é o mais agressivo dos três, Iñarritu não poupou cenas sanguinolentas que acabam por discutir também as questões da vida na cidade grande (neste caso a Cidade do México), como a violência urbana e as diferenças sociais.
O que mais me chamou a atenção na obra de Iñarritu foi “21 Gramas” , é um filme inteiramente falado em inglês, estrelado por Sean Penn, mas que tem um “quê” de filme latino.
O que se apresenta ao espectador é um grande quebra- cabeça de histórias que avançam e recuam no tempo de maneira alucinante, é bom grudar os olhos na tela, porque todos os detalhes são importantes.
Dizem que quando morremos perdemos 21 gramas de nosso peso, e este seria o peso da alma, verdade ou não, o filme busca expressar a confusão de sentimentos dos personagens e deixa várias questões como a crença em Deus, em outras vidas, a esperança e o porque de estarmos vivos.
Você não obterá nenhuma resposta, mas provavelmente irá repensar em como lida com o passado e em quanto cultiva o sofrimento aparentemente sem motivo. Ao terminar, o desejo de busca pela felicidade que este filme provoca é intenso.
“Babel” vem finalizar com maestria este “tratado” sobre os sentimentos humanos, o tema central agora é a dificuldade de comunicação através de temas que são pauta nos jornais diariamente: terrorismo,autoritarismo e imigração. Estrelado por rostos conhecidos como Brad Pitt e Cate Blanchett, trás também novos e brilhantes atores marroquinos e japoneses.
O filme começa em Marrocos, com um grupo de turistas americanos em um ônibus atingido por uma bala, que para eles em sua paranóia está ligada ao terrorismo. Os filhos de um dos casais do ônibus está nos Estados Unidos com a babá mexicana, que pretende passar alguns dias com a família em sua cidade natal.
Paralelo a esta primeira seqüência há uma menina surdo-muda que vive em Tóquio, uma cidade extremamente globalizada. Assim o roteiro caminha pelos contrastes culturais dos quatro países.
Os três filmes são marcados por personagens que levam seus sentimentos até as últimas consequências. De certa forma somos todos assim em relação à quem amamos.
“Somos o que somos por causa do outro. Somos os outros, num certo ponto” disse Iñarritu em entrevista coletiva concedida em 2006.

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