terça-feira, 3 de abril de 2007

Palavras da Ministra

A discussão colocada em torno da frase da Ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial Matilde Ribeiro , demonstra o quanto a falta de contextualização na mídia pode criar discussões muitas vezes infundadas.
Quem se informou apenas pela revista Veja ou pela Folha de São Paulo provavelmente pouco compreendeu, afinal que jornalismo é esse que opina antes mesmo de informar?
Após ser questionada sobre o racismo de negro contra branco, a ministra falou que acha que é natural que exista, e aqui está parte da entrevista, ela na íntegra está no site:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/03/070326_ministramatildedb.shtml
Espero que todos possam ler, e aí sim formarem sua opinião sobre o assunto....Para os que se interessarem ainda mais, em novembro do ano passado a Caros Amigos dedicou a sua entrevista principal a Marisa,acredito que seja importante também para conhecer o seu trabalho e do ministério.

BBC Brasil - E em quanto tempo a senhora acha que poderemos ter uma situação de igualdade, onde as pessoas sejam julgadas pelo mérito, independente da raça?

Matilde Ribeiro - O Brasil tem 507 anos. Há quase 120 anos, em 1888, foi assinado um decreto como este que o presidente assinou dizendo que não havia mais escravidão no Brasil. Só que não houve uma seqüência. Hoje, o fato de os negros e os indígenas serem os mais pobres entre os pobres é resultado de um descaso histórico. Então fica muito difícil hoje afirmar quanto tempo.

BBC Brasil - Como o Brasil se coloca no contexto internacional? O Brasil gosta de pensar que não tem discriminação e gosta de se citar como exemplo de integração. É assim que a senhora vê a situação?

Matilde Ribeiro - É o seguinte: chegaram os europeus numa terra de índios, aí chegaram os africanos que não escolheram estar aqui, foram capturados e chegaram aqui como coisa. Os indígenas e os negros não eram os donos das armas, não eram os donos das leis, não eram os donos dos bens de consumo. A forma que eles encontraram para sobreviver não foi pelo conflito explícito. No Brasil, o racismo não se dá por lei, como foi na África do Sul. Isso nos levou a uma mistura. Aparentemente todos podem usufruir de tudo, mas na prática há lugares onde os negros não vão. Há um debate se aqui a questão é racial ou social. Eu diria que é as duas coisas.

BBC Brasil - E no Brasil tem racismo também de negro contra branco, como nos Estados Unidos?

Matilde Ribeiro - Eu acho natural que tenha. Mas não é na mesma dimensão que nos Estados Unidos. Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando isso. Não acho que seja uma coisa boa. Mas é natural que aconteça, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou.

2 comentários:

Felipe Missali disse...

Adorei o artigo....esse negocio de racismo ainda eh mt pertinente...por mais que eu reze td dia pra que esse virus acabe...

bjokkk

Anônimo disse...

Por mais que a ministra tente remendar, o que disse está dito. Se é normal negro ser contra branco porque se acha injustiçado, é normal que se assaltem bancos, roubem quem tem mais, e por aí vai, basta que quem pratique a ação a justifique com as suas razões. Afinal, ela é ministra para ficar achando coisas ou para implementar políticas antirracistas?