segunda-feira, 1 de março de 2010

Salve Geral!



Mostrar a força de um momento de violência e medo que marcou a história do Estado de São Paulo sem cair em clichês e sentimentalismos. Este era o desafio do diretor Sérgio Rezende quando começou a produzir “Salve Geral!", filme lançado em 2009, que tentou vaga no Oscar 2010.
A obra relata os dias em que todo o Estado ficou a mercê da ação do PCC (Primeiro Comando da Capital), mas para contar estes dias de 2006 que todo paulista guarda na memória Rezende optou por construir uma ficção com traços de documentário.
São duas personagens principais, que inicialmente são muito diferentes, mas se revelam extremamente parecidas. Andréa Beltrão é Lúcia, mulher de classe média baixa que se depara com a realidade das cadeias quando seu filho se envolve em um acidente e comete um assassinato. Denise Weimberg é Ruiva, uma advogada que trabalha para o PCC.
Apesar do roteiro linear, “Salve Geral” são vários filmes em um só e as impressões sobre ele podem ser as mais diferentes possíveis. Tratar um assunto tão delicado e conquistar o grande público não é tarefa fácil e a produção não conseguiu chegar neste ideal.
O filme é cansativo e tem alguns problemas no roteiro que ficam claros na atuação das atrizes principais, em especial, de Andréa Beltrão, que se mostra um pouco artificial em certos momentos do filme e também no excesso de personagens interessantes que passam pela história muito rápido (são 62 personagens com fala!), como um dos presos que para sair da cadeia aceita colaborar com um policial corrupto.
As duas personagens principais que levam o público pela história não são apaixonantes, o que pode ter sido uma opção do diretor de construir um filme de maneira diferente, no entanto, em meio a personagens que não se vinculam realmente a quem está assistindo, o filme possui muitos diálogos e cenas desnecessários.
A personagem de Ruiva é a melhor de todo o filme, ela representa muito
bem as relações corruptas que envolvem a sociedade brasileira e ao envolver Lúcia na rede do PCC, mostra como todas as pessoas podem ser corruptíveis. A falta de maniqueísmo no roteiro é um dos grandes atributos desta obra, os personagens caminham de acordo com seus interesses e com sua história.
Algumas cenas são muito representativas, como quando os comandantes do Comando Vermelho chamam todos para a rebelião, as palavras de ordem são “Paz, Justiça e Liberdade”. Os inúmeros problemas do sistema carcerário brasileiro ficam em evidência e a maneira como a população lida com a questão mexe com a consciência de quem faz parte desta sociedade hipócrita em que os direitos humanos são tratados como regalia de poucos.
O filme, apesar dos problemas, deve ser valorizado pela coragem de reconstruir um momento que tem que ser lembrado e discutido, afinal, os criminosos levaram a tona toda a fragilidade da sociedade brasileira e os problemas continuam muito distantes de uma solução.

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