segunda-feira, 21 de julho de 2008

O contador de histórias


Precisamos valorizar o que é nosso”, por esta idéia e pelos suas incontáveis histórias é que Rolando Boldrin é reconhecido como um dos maiores divulgadores da cultura brasileira.
O múltiplo artista, que já trabalhou como ator na televisão e no cinema, radialista, cantor, apresentador e escritor, faz parte da história da mídia brasileira. São 50 anos de carreira e com tanta história para contar, Boldrin, acaba de escrever um livro : “História de Amar o Brasil – 50 Anos de Carreira Artística”. O lançamento da obra, juntamente com um show especial aconteceu em junho durante a 8 Feira Nacional do Livro em Ribeirão Preto.
O livro tem duas partes, a primeira relata a história do artista através de fotos, opiniões de críticos, textos de jornalistas e depoimentos e a segunda trata de seu projeto “Vamos tirar o Brasil da gaveta”, no qual está incluído o atual programa “Sr. Brasil”, da TV Cultura.
De acordo com Boldrin, que concedeu entrevista dias antes de sua ida à Ribeirão, a idéia do livro já é antiga e ele foi escrito a quatro mãos, pois contou com a colaboração de Mônica Maia, que realizou a pesquisa. “Este livro, sem falsa modéstia, ficou belíssimo, ele fecha um ciclo da minha vida”, relata Boldrin.
O artista se mostrou entusiasmado com o atual programa de televisão.“Este é um projeto que me consome e me completa”, revelou. Tudo no programa passa pelas mãos do artista, do projeto inicial à edição de imagem.
Segundo Boldrin o programa reflete sua busca por mostrar a multiplicidade de sons do país. “Sempre persegui a idéia de que a música brasileira não é só samba, o Brasil é muito rico em ritmos. O Rio de Janeiro foi reconhecido durante muito tempo como a meca da cultura no país, mas temos muito mais que o samba, tem o chachado, o baião, o rasta pé...”.
Questionado do porquê música sertaneja não entrar em seu programa, Boldrin responde incisivo: ¨ O sertanejo é importado da música norte americana, não é genuinamente brasileiro”.
O ponto de partida para a busca da valorização cultural brasileira na carreira de Boldrin foi o programa Som Brasil, que ele coordenou entre 1981 e 1983, na TV Globo, e que é considerado referência dentre os programas musicais. Ele seguiu com o mesmo formato de programa de música e entrevista pela Bandeirantes, SBT, TV Gazeta até chegar ao formato atual na TV Cultura.
Para compor o programa “Sr. Brasil” a produção recebe material do país inteiro. “ Com todo o material que recebemos daria para fazer mais de cinco programas semanais”, explica.
O excesso de críticas e a falta de valorização da cultura é para Boldrin o maior defeito dos brasileiros. “Sofremos muito a influência do que vem de outros países e desvalorizamos o que é nosso, nossa música é exportada para o mundo todo”. Apesar disso ele acredita que a mudança desta mentalidade é possível aos poucos.

terça-feira, 24 de junho de 2008

“Este é o ano do Zé do Caixão”, diz José Mojica



O mestre do terror, José Mojica Marins, reconhecido pelo personagem Zé do Caixão, aos seus imperceptíveis 72 anos tem muitos planos para este ano e para os próximos. “Já tenho o roteiro do meu próximo filme”.

Este ano o diretor, ator, apresentador e escritor lança nacionalmente seu novo filme“Encarnação do Demônio”, em agosto mas precisamente no cabalístico dia 08/08/08. O filme é o último da trilogia do Zé do Caixão, que começou com o longa de 1963: “A meia noite levarei sua alma”, seguido do “O estranho mundo de Zé do Caixão”, de 1967.

Segundo Mojica, este último filme é o melhor que já fez e trata-se da “bíblia cinematográfica do terror na América Latina”. O roteiro foi escrito em 1966, porém, Mojica passou por diversos problemas com censura e dificuldades financeiras, a história foi reescrita e depois de dois anos de gravação o sonho do diretor foi concretizado: Zé do Caixão encontra a mulher para gerar o seu filho, ou melhor, sete mulheres. “Ele não poderia correr o risco de não conseguir”, explica.

“Encarnação do Demônio” traz imagens polêmicas com baratas e ratos de verdade e foi realizado de maneira praticamente artesanal “Queria fazer um filme como os que eu fazia no passado. O único efeito especial que utilizei foi um céu vermelho”, explica. O mestre do terror continua a provocar curiosidade, o trailer do filme disponível no site youtube já foi visto por mais de 2.900 pessoas.

Mojica foi o primeiro cineasta de terror brasileiro e tem em seu currículo 39 filmes, além de um livro infantil “Histórias Horripilantes de Zé do Caixão”, pela editora Panda, um desenho animado em que fez dublagem: “Lasanha Assassina” e gibis do Zé do Caixãozinho.

A idéia de escrever um livro infantil surgiu do sucesso que o personagem faz com as crianças “Eles me adoram, criança gosta do que é proibido”, disse entre risos.

Zé do Caixão e Mojica se confundem, ao menos nos trajes escuros e no jargão “praticamente”, porém, de acordo com Mojica eles são bem diferentes: “Eu sou um grande medroso e também sou pai de família, tenho 11 netos”, afirma.

Ao ser questionado sobre o cinema brasileiro, o diretor acredita esta é uma das melhores fases, principalmente pelo sucesso no exterior e tem esperança em novos produtores do gênero terror. “Eu sou o primeiro e o único a fazer longas de terror no país, mas tem muita gente fazendo curtas, o que me deixa muito contente. Acho que em breve os jovens vão estar produzindo bons filmes de terror”, disse.

Sempre aberto a novas experiências Mojica também adentrou o universo das entrevistas, com o programa “O estranho mundo de Zé do Caixão”, transmitido pelo Canal Brasil. A estréia foi em abril deste ano e já contou com a presença da escritora Bruna Surfistinha, da vidente mãe Dinah e da cantora Pitty.

“Gosto muito desse programa, porque faço entrevistas de forma diferente, busco o lado sombrio,sobrenatural dos convidados. É uma opção diferente para o telespectador”, explica.

Os planos para este ano são muitos: “lançar um livro de quadrinhos, um livro do Encarnação do Demônio, terminar o roteiro de um futuro filme e principalmente divulgar este novo”, lista.

Sobre o possível novo filme, Mojica explica que será um personagem novo,completamente estranho e ainda sem nome, que dependerá do “líquido dos olhos femininos para sobreviver”, revela.

sábado, 17 de maio de 2008

Porco ou homem?


“- Você tem que ler “Revolução dos Bichos” de George Orwell”. Muitas vez ouvi essa frase durante o ensino médio e não dei atenção. Até que alguns amigos comentaram na semana passada sobre este clássico da literatura, e resolvi me arriscar.

Uma sátira ao comunismo, essa era a única informação que eu tinha, porém, o Orwell como em “1984” supera as expectativas, mostrando como a história da humanidade pode se repetir de diversas maneiras.

A história se passa na Granja do Solar, uma chácara comandada pelo alcoólatra Sr. Jones, que maltrata os animais e busca lucrar cada vez mais. Os animais passam seus dias sendo escravizados, trabalhando muito para ganhar doses reduzidas de ração.

Um dia um velho porco, muito sábio, conhecido por Major chama todos os animais para uma reunião noturna , onde fala sobre um sonho onde o homem desaparecia da Terra e tudo era melhor. Ele incentivou aos animais a fazerem uma revolução onde todos os bichos seriam auto-suficientes e iguais e o principal inimigo eram os humanos.

O velho Major morreu pouco depois de falar sobre sonho e então dois porcos decidem iniciar a revolução: Bola-de- Neve e Napoleão.

Após três meses de reuniões secretas, em uma noite em que o Sr. Jones chegou completamente bêbado, os animais conseguiram tomar a granja, que passou a se chamar Granja dos Bichos.

Durante um certo tempo tudo dava certo, os animais produziam o suficiente, tinham dias de folga e viviam como iguais, as decisões eram tomadas em assembléias, onde todos podiam votar.

Inicialmente Bola-de-Neve era o comandante, mas na ânsia de conseguir o poder, Napoleão o traiu com propaganda negativa e mentirosa, expulsou-o e tomou o poder.

Napoleão na verdade era um chefe autoritário e sanguinário, que no decorrer da história abusa do poder de todas as maneiras possíveis. Essa estória lembra muito a relação de Stálin e Trotski.

Ao ler o livro é possível perceber como cada personagem representa algo na história, como um porco chamado Garganta que fazia toda a propaganda positiva de Napoleão e representa o sistema de propaganda que os regimes autoritários utilizavam, há também os animais que trabalhavam duro e não entendiam muito bem o que estava acontecendo, representando ai a população desinformada que acreditava cegamente na Revolução.

Existem também os cães ferozes que faziam a guarda de Napoleão, algo que lembram as polícias em época de ditadura.

Os sete mandamentos da Granja dos Bichos que no inicio falavam em igualdade acabam em um só mandamento: Todos são iguais, mas alguns animais são mais iguais que outros.

O livro foi escrito em 1945 e representa uma crítica a como o comunismo como foi praticado, porém, a história atravessou épocas e pode ser comparada com qualquer ditadura ou relações de desigualdade presente ainda na sociedade.

É possível dar boas risadas com essa obra, mas é inevitável pensar em como construímos as relações de poder e no quanto elas são perigosas.